Autor:
Euclides F. de A. Cavalcanti
Médico Colaborador da Disciplina de Clínica Médica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP
Última revisão: 22/03/2009
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Aspirina na prevenção de doença vascular. Diretrizes do U.S. Preventive Services Task Force
Aspirin for the Prevention of Cardiovascular Disease: U.S. Preventive Services Task Force Recomendation Statement. Ann Intern Med.2009;150:396-404. [Link Livre para o Documento Original]
O U.S. Preventive Services Task Force (USPSTF) é um órgão independente dos Estados Unidos composto por um grupo de especialistas em atenção primária e prevenção, que realiza revisões sistemáticas da literatura e desenvolve recomendações para rastreamento de doenças e outras medidas preventivas em saúde.
Ao contrário de muitas sociedades de especialistas, que tendem a hiperindicar exames e procedimentos relativos à especialidade, as recomendações do USPSTF são embasadas em evidências científicas sólidas, sendo uma referência mundial no assunto.
O USPSTF gradua a evidência para as medidas em: “A” (fortemente recomendada); “B” (recomendada); “C” (sem recomendação a favor ou contra); “D” (recomenda contra); ou “I” (evidências insuficientes para recomendar a favor ou contra).
Todas as recomendações do órgão são livres para consulta [Link Livre para as Diretrizes da USPSTF]
Desde as últimas recomendações do órgão sobre o assunto em 2002, novos estudos foram publicados, destacando-se uma metanálise1 e o WHS (Womens’ Health Study)2, sugerindo que os benefícios da aspirina seriam diferentes em homens e mulheres. Os homens têm benefício na redução de infarto do miocárdio e as mulheres têm benefício na redução de acidente vascular cerebral isquêmico.
Vale lembrar que estas recomendações são para prevenção primária de doença cardiovascular, pois, obviamente, a aspirina é indicada (na ausência de contra-indicações) em pacientes com doença cardiovascular estabelecida.
1. O USPSTF recomenda o uso de aspirina para homens entre 45 e 79 anos quando o benefício devido à redução no risco de infarto do miocárdio for maior que o potencial malefício causado pelo aumento no risco de sangramento gastrointestinal (recomendação “A”)
2. O USPSTF recomenda o uso de aspirina para mulheres com idade entre 55 e 79 anos quando o potencial benefício em reduzir AVC isquêmico for maior que o potencial malefício causado pelo aumento no risco de sangramento gastrointestinal (recomendação “A”)
3. O USPTSTF conclui que as evidências científicas atuais são insuficientes para quantificar os benefícios e malefícios da aspirina para prevenção de doença cardiovascular em homens e mulheres acima de 80 anos (recomendação “I”)
4. O USPSTF recomenda contra o uso de aspirina para a prevenção de AVC isquêmico em mulheres com menos de 55 anos e contra o uso de aspirina para prevenção de infarto do miocárdio em homens com menos de 45 anos (recomendação “D”)
Como o risco de sangramento digestivo aumenta com a idade, para determinar se o potencial benefício de IAMs prevenidos (homens) e AVCs isquêmicos prevenidos (mulheres) superam o potencial malefício de sangramento digestivo, devem ser considerados o risco cardiovascular em 10 anos e a idade na decisão de dar ou não a aspirina.
A diretriz sugere os seguintes pontos de corte para se indicar prevenção primária com aspirina.
Tabela 1: Nível de risco no qual os eventos cardiovasculares prevenidos (benefício) são maiores do que os malefícios gastrointestinais.
Homens |
Mulheres | ||
Idade |
Risco de IAM em 10 anos |
Idade |
Risco de AVC isquêmico em 10 anos |
45-59 anos |
> 4% |
45-59 anos |
> 3% |
60-69 anos |
> 9% |
60-69 anos |
> 8% |
70-79 anos |
> 12% |
70-79 anos |
> 11% |
A tabela acima se aplica a adultos que não estão em uso de antiinflamatórios (aumenta muito o risco de sangramento) e sem história de dor epigástrica ou história de úlcera gastrointestinal.
Para homens: o cálculo do risco é baseado no estudo de Framingham3 e se baseia nos seguintes fatores de risco: idade, diabetes, colesterol total, HDL, pressão arterial e tabagismo. O texto sugere a ferramenta a seguir para facilitar o cálculo do risco:
http://healthlink.mcw.edu/article/923521437.html
Para mulheres: o cálculo do risco é baseado no estudo de Framingham3 e se baseia nos seguintes fatores de risco: idade, hipertensão arterial, diabetes, tabagismo, histórico de doença cardiovascular e fibrilação atrial. O texto sugere a ferramenta a seguir para facilitar o cálculo do risco:
www.westernstroke.org/PersonalStrokeRisk1.xls
O documento sugere uma abordagem individualizada na indicação de aspirina para prevenção primária de doença cardiovascular e o seguimento destas diretrizes pela maior parte dos médicos provavelmente levaria a uma diminuição de milhares de infartos (homens) e AVCs isquêmicos (mulheres) todos os anos.
No entanto, vale lembrar que há outras intervenções que podem diminuir em muito o risco cardiovascular que não são medicamentosas, como a suspensão do tabagismo, controle do peso, atividade física e alimentação saudável. É preciso tomar cuidado para que o paciente não se sinta “protegido” com o uso da aspirina e negligencie estas intervenções, o que provavelmente acarretaria malefícios.
1. Berger JS, Roncaglioni MC, Avanzini F, Pangrazzi I, Tognoni G, Brown DL. Aspirin for the primary prevention of cardiovascular events in women and men: a sex-specific meta-analysis of randomized controlled trials. JAMA. 2006; 295:306-13.
2. Ridker PM, Cook NR, Lee IM, Gordon D, Gaziano JM, Manson JE, et al. A randomized trial of low-dose aspirin in the primary prevention of cardiovascular disease in women. N Engl J Med. 2005;352:1293-304.
3. Wilson PW, et al. Prediction of coronary heart disease using risk factor categories. Circulation 1998; 97 (18): 1837-1847.
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