Autor:
Antonio Paulo Nassar Junior
Especialista em Terapia Intensiva pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP). Médico Intensivista do Hospital São Camilo. Médico Pesquisador do HC-FMUSP.
Última revisão: 27/03/2011
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Impacto da Albumina Comparada à Salina no Funcionamento dos Órgãos e na Mortalidade de Pacientes com Sepse Grave [link para artigo original]1
Qual fluido usar em pacientes com sepse grave é uma das grandes dúvidas da terapia intensiva. Embora o uso de alguns tipos de amido pareça se associar a uma maior morbi-mortalidade no choque séptico, dados preliminares do estudo SAFE sugerem um possível benefício da albumina em pacientes com sepse.2 O objetivo deste estudo foi avaliar a população com sepse grave do estudo SAFE e comparar os efeitos do uso de albumina e solução salina nessa população.
Neste estudo, os pacientes foram randomizados para receber albumina a 4% ou cloreto de sódio a 0,9% como fluido de ressuscitação na UTI até a alta, 28 dias ou óbito. O desfecho primário analisado foi a mortalidade em 28 dias. Os desfechos secundários foram tempo de internação na UTI e no hospital, duração da ventilação mecânica e duração da terapia de substituição renal (hemodiálise e hemofiltração). Além da comparação na população geral com sepse grave, foram comparados os resultados em pacientes com níveis séricos de albumina maiores e menores de 2,5 g/dl. Na avaliação da mortalidade em 28 dias, foi realizada uma análise multivariada.
O estudo incluiu 1218 pacientes com sepse grave, 603 foram alocados para receber albumina e, 615, para salina. Os pacientes do grupo albumina receberam menos volume nos primeiros 3 dias do estudo (p<0,001). Não houve diferenças quanto a pressão arterial média nos primeiros 7 dias de estudo, mas a pressão venosa central (PVC) foi mais alta no grupo albumina (12,8 vs. 11,1 mmHg; diferença de 1,7; IC 95% 1,0-2,3). Não houve diferenças quanto à necessidade de vasopressor, inotrópico, necessidade de ventilação mecânica ou uso de terapia de substituição renal.
A mortalidade no grupo albumina foi de 30,7% e a no grupo salina 35,3% (p=0,09). Não houve diferença de mortalidade em pacientes com níveis de albumina menores (OR 0,79; IC 95% 0,57-1,11) ou maiores de 2,5 g/dl (OR 0,74; IC 95% 0,50-1,10).
Na análise multivariada, o uso de albumina associou-se independentemente a uma menor mortalidade em 28 dias (OR 0,71; IC 95% 0,52-0,97; p=0,03). Não houve diferenças quanto ao tempo de internação na UTI, no hospital, dias em ventilação mecânica ou em terapia de substituição renal.
Este estudo sugere que a expansão volêmica com albumina em compração à salina em pacientes com sepse grave pode estar associada a uma menor mortalidade, assim como sugeriam os dados brutos do estudo original. Obviamente, este é estudo é meramente exploratório e o benefício estatístico foi marginal, como bem colocam os autores na discussão. Novamente, como nos dados gerais, não se mostram diferenças no grupo com albumina mais baixa, o que sugere que o possível benefício da albumina não é pela “reposição” de albumina.3 Por fim, este estudo dá suporte a um estudo prospectivo e randomizado comparando a albumina com a solução salina em pacientes com sepse grave. De qualquer modo, antes de aplicarmos estes dados na prática clínica, devemos lembrar que o SAFE usou albumina a 4%, o que significa diluir a albumina a 20% que temos no Brasil em solução salina.
2. Finfer S, Bellomo R, Boyce N, French J, Myburgh J, Norton R. A comparison of albumin and saline for fluid resuscitation in the intensive care unit. N Engl J Med. 2004 May 27;350(22):2247-56.
3. Finfer S, Bellomo R, McEvoy S, Lo SK, Myburgh J, Neal B, et al. Effect of baseline serum albumin concentration on outcome of resuscitation with albumin or saline in patients in intensive care units: analysis of data from the saline versus albumin fluid evaluation (SAFE) study. BMJ. 2006 Nov 18;333(7577):1044.
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