Autor:
Lucas Santos Zambon
Doutorado pela Disciplina de Emergências Clínicas Faculdade de Medicina da USP; Médico e Especialista em Clínica Médica pelo HC-FMUSP; Diretor Científico do Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente (IBSP); Membro da Academia Brasileira de Medicina Hospitalar (ABMH); Assessor da Diretoria Médica do Hospital Samaritano de São Paulo.
Última revisão: 11/11/2015
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O câncer de mama é uma condição extremamente frequente. Muitas vezes acomete mulheres em idade fértil, e que ainda não tiveram filhos. Sendo assim, uma grande preocupação é como preservar a fertilidade sabendo que a quimioterapia pode levar à insuficiência ovariana.
Estudos do uso de hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH) para proteger a função do ovário têm mostrado resultados variáveis, embora faltem dados sobre os resultados em termos de conseguir uma gravidez.
Foi realizado um estudo randomizado onde foram distribuídas aleatoriamente 257 mulheres na pré-menopausa com câncer de mama hormônio-receptor-negativo operável para receber quimioterapia padrão com a goserelina (agonista de GnRH) ou quimioterapia padrão sem goserelina (grupo só quimioterapia). O desfecho final primário do estudo foi a taxa de falência ovariana em dois anos, com falência ovariana definida como a ausência de menstruação nos últimos seis meses e níveis de hormônio folículo-estimulante (FSH) na faixa pós-menopausa. As taxas foram comparadas com o uso de regressão logística condicional. Os desfechos secundários incluíram os resultados da gravidez e a sobrevida global e livre de doença.
No início do estudo, 218 pacientes foram elegíveis e puderam ser avaliadas. Entre 135 com dados completos sobre o desfecho primário, a taxa de falência ovariana foi de 8% no grupo de goserelina e 22% no grupo sem goserelina (odds ratio para quimioterapia sem goserelina de 0,30; IC95%: 0,09-0,97; P = 0,04). Entre as 218 pacientes que puderam ser avaliadas, gravidez ocorreu em mais mulheres no grupo de goserelina do que no grupo de quimioterapia apenas (21% vs 11%, P = 0,03); as mulheres do grupo de goserelina também tiveram melhora da sobrevida livre de doença (P = 0,04) e sobrevida global (P = 0,05).
Esse estudo é extremamente importante para apontar a goserelina como uma opção excelente para mulheres que farão tratamento quimioterápico para câncer de mama. Por esse estudo é possível concluir que a administração de goserelina com quimioterapia ofereceu proteção contra a insuficiência ovariana, reduzindo o risco de menopausa precoce e melhoria das perspectivas para a fertilidade. Além disso, os desfechos secundários de sobrevida livre de doença e sobrevida global tiveram uma tendência de serem melhores no grupo goserelina. Sendo assim, parece bastante apropriado incorporar essa conduta à prática.
Moore HCF et al. Goserelin for Ovarian Protection during Breast-Cancer Adjuvant Chemotherapy. N Engl J Med 2015; 372:923-932.
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