Autor:
Lucas Santos Zambon
Doutorado pela Disciplina de Emergências Clínicas Faculdade de Medicina da USP; Médico e Especialista em Clínica Médica pelo HC-FMUSP; Diretor Científico do Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente (IBSP); Membro da Academia Brasileira de Medicina Hospitalar (ABMH); Assessor da Diretoria Médica do Hospital Samaritano de São Paulo.
Última revisão: 17/11/2008
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Conseqüências de uma alta inadequada quanto à assistência ao paciente.
Horwitz LI, Moin T, Krumholz HM, Wang L, Bradley EH. Consequences of Inadequate Sign-out for Patient Care. Arch Intern Med, 2008;168(16):1755-1760. [Link para o Abstract].
Muitos dos eventos adversos associados à assistência ao paciente estão diretamente envolvidos a aspectos de comunicação. Já existem diversos relatos de casos que mostram falhas relacionadas à transferência de responsabilidade de casos, seja entre setores de um mesmo hospital (por exemplo, do pronto-socorro para UTI ou da UTI para a enfermaria), ou quando o caso é passado de um profissional para outro.
Essas falhas levam a problemas de continuidade nas condutas ou tratamentos instituídos ao paciente, podendo prejudicar sua evolução e atrasar diagnósticos, aumentando a chance de morbidade. Mesmo assim ainda não existe exata noção dos tipos e freqüência desses problemas.
O que se sabe é que muitos desses problemas ocorrem por falta de estruturação na passagem de caso, e por ser esse um método completamente aleatório. Além disso, internos e médicos residentes não recebem treinamento adequado para essa habilidade, permitindo a perpetuação das falhas.
Para uma avaliação mais fidedigna, foi realizado um estudo prospectivo observacional de altas de um setor do hospital realizadas de forma oral (gravada por um interno ou residente) e escrita (em ficha própria), que foram seguidas de um questionário semi-estruturado de avaliação, 12 a 18 horas após a alta para identificar eventos adversos. A amostra incluiu 503 altas de pacientes.
Os objetivos foram identificar relatos de inadequações na alta, estimar a freqüência de eventos adversos e criar uma taxonomia de inadequações que tenham conseqüências imediatas para a assistência ao paciente.
A cada problema relatado ou encontrado, a alta tanto oral quanto escrita era revista para verificar se havia falhas em sua elaboração. A seguir era averiguado se o problema tinha relação com o que havia sido relatado na alta do paciente.
A equipe encontrou 24 problemas relacionados ao plano de alta dos pacientes vistos, com uma média de 7,5 problemas por 100 pacientes/dia (IC 95% 4,6 - 10, 5). Dentre esses problemas, em 5 casos ocorreram eventos clínicos adversos (atrasos de diagnóstico e tratamento, sendo que 1 caso foi transferido para UTI), em 4 casos os pacientes tiveram situações de “near miss” (quase ocorreu um evento adverso), e em outros 15 casos ocorreram situações de trabalho repetido.
Os problemas encontrados na alta que levaram a eventos adversos foram os seguintes: ausência de diagnósticos ou condições clínicas relatadas, omissão de eventos que ocorreram com o paciente, omissão de condutas a serem realizadas, omissão da condução de condutas instituídas, omissão de recomendações quanto a possíveis intercorrências.
Apesar das limitações do estudo (ele foi realizado em um só hospital, envolveu residentes e internos, o período de realização foi curto, e não foram analisados eventos além de 18 horas), fica bem claro que existe uma conexão direta entre eventos adversos e falhas de comunicação entre setores e/ou equipes na hora em que a responsabilidade sobre um caso será transferida. Isso afeta diretamente a possibilidade de ocorrência de eventos adversos com um paciente poucas horas após essa transferência (na caso desse estudo entre 12 a 18 horas após).
Eventualmente esses eventos podem ser graves, podendo levar o paciente para um nível maior de complexidade, precisando de cuidados em terapia intensiva. Em outros casos o que ocorre é apenas uma repetição de um trabalho que já havia sido feito, o que pode não afetar diretamente aquele paciente, mas pode atrapalhar a assistência de um setor como um todo, por perda de tempo.
É nítido que a maior parte dos erros ocorre por omissão de informações cruciais na continuidade da assistência ao caso. É necessário reformular nossos sistemas de passagem de casos, criando esquemas estruturados onde as informações mais importantes não deixem de ser relatadas, e aquelas desnecessárias não ocupem o tempo de quem realiza esse trabalho. Essa necessidade de metodologia deve ser incorporada inclusive ao treinamento médico, iniciando-se ainda na graduação ou durante a residência, momentos nos quais ainda é possível corrigir vícios adquiridos por ausência de orientação quanto à estruturação de alta ou passagem de casos.
1. Cook RI, Render M, Woods DD. Gaps in the continuity of care and progress on patient safety. BMJ. 2000;320(7237):791-794 [Link Livre para o artigo Original]
2. Arora V, Johnson J, Lovinger D, Humphrey HJ, Meltzer DO. Communication failures in patient sign-out and suggestions for improvement: a critical incident analysis Qual. Saf. Health Care, Dec 2005; 14: 401 - 407 [Link Livre para o artigo Original]
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