Autores:
Flávia J. Almeida
Médica Assistente do Serviço de Infectologia Pediátrica da Santa Casa de São Paulo. Mestre em Pediatria pela FCMSCSP.
Rodrigo Díaz Olmos
Doutor em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de são Paulo (FMUSP). Diretor da Divisão de Clínica Médica do Hospital Universitário da USP. Docente da FMUSP.
Última revisão: 22/02/2010
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O comprometimento auditivo em crianças com meningite bacteriana é pouco melhorado pela dexametasona ou glicerol1 [Link para Artigo Completo].
Inúmeros estudos avaliaram a dexametasona na prevenção da perda auditiva em crianças com meningite bacteriana, mas os resultados foram variáveis. Acredita-se que a dexametasona previna ou melhore o comprometimento auditivo, especialmente na meningite pelo Haemophilus influenzae tipo b (Hib), se introduzida antes do tratamento com antibiótico, mas nenhum estudo isoladamente documentou este efeito. Toda informação disponível deriva de metanálises nas quais populações muito diferentes foram combinadas. Sendo assim, este estudo objetivou comparar os efeitos de dexametasona e/ou glicerol com placebo sobre a audição (medida em três níveis) em crianças com meningite tratadas com ceftriaxone.
Trata-se de um ensaio clínico randomizado no qual crianças com meningite bacteriana com idade entre 2 meses e 16 anos, foram randomizadas para 4 grupos distintos: dexametasona intravenosa, glicerol oral, ambos agentes ou duplo placebo. Todos os pacientes foram tratados com ceftriaxone. A apresentação clínica à admissão foi avaliada pela escala de coma de Glasgow. Os desfechos avaliados foram a capacidade para se escutar sons > 40 dB, = 60dB ou = 80 dB, com estes limites indicando comprometimento auditivo leve, moderado a grave e grave, respectivamente. Todos os testes foram realizados e interpretados por um audiologista externo. A influência de covariáveis sobre os grupos de tratamento foi examinada por regressão logística.
Foram incluídas 383 crianças, a maioria com Haemophilus influenza tipo b ou Streptococcus pneumoniae, 101 receberam dexametasona, 95 receberam dexametasona e glicerol, 92 receberam glicerol e 95 receberam placebo. Apenas a apresentação clínica à admissão (avaliada pela escala de coma de Glasgow) e idade precoce foram preditores independentes de comprometimento auditivo em todos os níveis testados. Para cada redução de um ponto na escala de Glasgow houve um aumento de risco de
A perda auditiva pós meningite bacteriana é relatada em
O impacto da perda auditiva numa criança é muito grande, gerando isolamento social e custos para a sociedade. Desta forma, não existem dúvidas, de que o ideal seria a prevenção das meningites com o uso de vacinas, o que, infelizmente ainda não acontece nos países pobres. No Brasil, com a introdução da vacinação contra Hib no Programa Nacional de Imunização (PNI), há mais de uma década, tivemos praticamente o desaparecimento da meningite por este agente. Entretanto, as meningites meningocócica e pneumocócica ainda são muito frequentes em nosso país. É com bastante ansiedade que aguardamos a introdução da vacina pneumocócica conjugada 10-valente ainda este ano no PNI.
Até o momento o tratamento disponível que pode diminuir a seqüela auditiva nas meningites é o uso de dexametasona antes da primeira dose de antibiótico, entretanto com resultados bastante controversos em inúmeros estudos, com benefício demonstrado especialmente na meningite por Hib.
O uso do glicerol também foi avaliado em alguns estudos demonstrando diminuição da seqüela auditiva nas meningites por Hib.
Este estudo tenta responder uma pergunta importante: o uso da dexametasona, do glicerol ou de ambos tem impacto na perda auditiva? Nenhuma das medicações preveniu a perda auditiva. Mas, a dexametasona mostrou uma tendência para proteção, particularmente para o nível de 80 dB (OR:0,40 IC 95% 0,15 – 1,10). Possivelmente, existe um subgrupo de pacientes que se beneficia do uso da dexametasona, o que não foi possível identificar no estudo.
Uma lição importante pode ser tirada deste estudo: a apresentação clínica à admissão (avaliada pela escala de coma de Glasgow) e idade precoce são preditores independentes de comprometimento auditivo, independente do agente etiológico, do momento da primeira dose de antibiótico, ou do uso de dexametasona e/ou glicerol.
Na opinião destes editores, como os resultados dos diversos estudos já publicados que avaliam o benefício da dexametasona na perda auditiva na meningite bacteriana são bastante divergentes, esta droga deve continuar sendo usada nas meningites bacterianas, até que estudos maiores sejam realizados e esclareçam esta questão.
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