Autor:
Antonio Paulo Nassar Junior
Especialista em Terapia Intensiva pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP). Médico Intensivista do Hospital São Camilo. Médico Pesquisador do HC-FMUSP.
Última revisão: 06/04/2011
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Pacote de Intervenções para Melhoria de UTI1 [link para o artigo original]
Apesar de recentes estudos sugerirem intervenções que melhoram o prognóstico de pacientes em terapia intensiva, muitas delas não são amplamente empregadas na prática clínica. Tal fato deve-se, provavelmente, à dificuldade de se mudar o hábito dos profissionais de saúde. O presente estudo propôs-se a verificar a eficácia de uma série de intervenções em UTIs não acadêmicas no Canadá com o objetivo de se melhorar a aderência a recomendações estabelecidas em diretrizes de sociedades de terapia intensiva.
As UTIs participantes foram randomizadas em dois grupos. Em cada fase do estudo, cada grupo de UTIs recebia a intervenção almejando uma mudança de prática e, ao mesmo tempo, servia de controle ao outro grupo de UTIs que recebia a intervenção que almejava a mudança de outra prática. O estudo consistiu de 3 fases, cada uma com 4 meses. Em cada fase duas práticas eram escolhidas e cada grupo de UTI recebia as intervenções para a mudança de prática de uma ou outra prática. Os pares escolhidos foram: 1. Prevenção de pneumonia associada à ventilação mecânica (PAV) – elevação da cabeceira =30° - e prevenção de trombose venosa profunda (TVP) – anticoagulantes ou meias elásticas; 2. Barreiras estéreis à passagem do cateter venoso central (CVC) – “bundle” com 7 itens - e testes de respiração espontânea (TRE) diários para reduzir a ventilação mecânica; 3. Nutrição enteral precoce (<48h) e avaliação diária do risco de desenvolvimento de úlcera de pressão (UP) pela escala de Braden. Após o período de estudo, todas as UTIs receberam as intervenções que não haviam recebido no período de estudo.
O pacote de intervenções para cada prática incluiu medidas educacionais (videoconferências e material de leitura), lembretes (pôsteres, cartões, checklists) e auditoria e “feedback” (relatórios de performance). Durante cada etapa de 4 meses, foram comparadas as diferenças na proporção de pacientes recebendo cada uma das intervenções nas UTIs “intervenção” e “controle”. Foi calculada também a chance (OR) dos pacientes receberem a intervenção no último mês em comparação com o primeiro nas UTIs “intervenção” e “controle”.
Os resultados foram os seguintes.
Intervenção |
Pré-intervenção |
Pós-intervenção |
OR (IC 95%) “intervenção” |
OR (IC 95%) “controle” |
Prevenção PAV* |
49,8% |
89,6% |
6,35 (1,85-21,79) |
2,04 (0,82-5,07) |
Profilaxia TVP |
97,5% |
93,5% |
1,28 (0,67-2,45) |
2,49 (0,80-7,70) |
Pr. Infec. CVC* |
10,0% |
70,6% |
30,06 (11,00-82,17) |
1,71 (0,74-3,99) |
TRE |
78,8% |
85,1% |
1,35 (0,44-4,12) |
1,04 (0,21-5,03) |
Avaliação UP |
73,2% |
68,1% |
0,82 (0,16-4,17) |
8,01 (0,51-126,91) |
Nutrição enteral |
95,6% |
96,1% |
1,16 (0,42-3,20) |
1,77 (0,69-4,51) |
*p <0,05.
1. Prevenção de PAV: 96,4%.
2. Profilaxia de TVP: 97,0%.
3. Prevenção de infecção de CVC: 89,0%.
4. TRE: 87,0%.
5. Avaliação de UP: 92,3%.
Este estudo teve um desenho interessante e, teoricamente, de melhor metodologia do que os que fizeram avaliações pré e pós-intervenção na mesma UTI. Seus resultados que a implementação de práticas educacionais, lembretes, auditorias e “feedbacks” melhoraram a aderência a práticas consagradas na literatura, a elevação do decúbito para prevenção de PAV e a passagem de CVC com barreira estéril completa. O interessante foi que as taxas de aderência permaneceram altas mesmo 6 meses após o fim do estudo. As outras práticas já apresentavam elevada aderência antes do início do estudo. Este estudo reforça a necessidade da educação continuada para a aderência de práticas benéficas em UTI.
1. Scales DC, Dainty K, Hales B, Pinto R, Fowler RA, Adhikari NK, et al. A multifaceted intervention for quality improvement in a network of intensive care units: a cluster randomized trial. JAMA. 2011 Jan 26;305(4):363-72
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