Autor:
Lucas Santos Zambon
Doutorado pela Disciplina de Emergências Clínicas Faculdade de Medicina da USP; Médico e Especialista em Clínica Médica pelo HC-FMUSP; Diretor Científico do Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente (IBSP); Membro da Academia Brasileira de Medicina Hospitalar (ABMH); Assessor da Diretoria Médica do Hospital Samaritano de São Paulo.
Última revisão: 20/05/2015
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Milhares de paradas cardíacas são atendidas por serviços de emergência em ambientes extra-hospitalares. Nos EUA são cerca de 380 mil atendimentos/ano. É verdade que infelizmente 10% dos casos sobreviverão após a alta hospitalar. O que pode melhorar esse desfecho é assegurar um melhor atendimento na fase pré-hospitalar. Em muitos países desenvolvidos, parte da estratégia para isso foi adotar o Advanced Cardiac Life Suport (Suporte Avançado de Vida - ACLS) no lugar do Basic Life Suporte (Suporte Básico de Vida - BLS). Isso significa que os profissionais que atendem no pré-hospitalar são treinados para realizar intubação orotraqueal, pegar acesso venoso e administrar drogas parenterais, bem como utilizar o desfibrilador. A realização de ACLS não é sem impacto, pois o custo é maior, e o tempo gasto no atendimento local também.
Dentro desta realidade, é fundamental saber se há algum beneficio que justifique a criação de uma estrutura para realizar ACLS em vez de BLS no pré-hospitalar, pois isso impacta no desenvolvimento e na estruturação destes serviços.
Este é um estudo observacional do tipo coorte que foi feito para comparar os efeitos do BLS e ACLS sobre os resultados da saída hospitalar pós-parada cardíaca. Foram levantados dados de atendimento de parada cardíaca entre 1 de Janeiro de 2009 e 02 de outubro de 2011, e quais os serviços de ambulância que foram realizados. No total foram 31.292 atendimentos de usando ACLS e 1.643 atendimentos usando BLS. Métodos de escore de propensão foram usados para comparar os efeitos do ACLS e BLS na sobrevida dos pacientes, no desempenho neurológico e quanto a gastos médicos após a parada cardíaca.
A sobrevivência na alta hospitalar foi maior entre os pacientes que receberam BLS (13,1% vs 9,2% para ACLS), assim como a sobrevivência em 90 dias (8,0% vs 5,4% para ACLS). O BLS foi associado a um melhor desempenho neurológico em pacientes internados (21,8% vs 44,8% com mau funcionamento neurológico para ACLS. Os gastos médicos adicionais por sobrevivente foi de US$ 154 para BLS contra US$ 333 para ACLS.
Mesmo tratando-se de estudo observacional, o resultado é no mínimo interessante. Resumindo, pacientes com parada cardíaca fora do hospital que receberam BLS tiveram maior sobrevida no momento da alta hospitalar e em 90 dias, em comparação com aqueles que receberam ACLS, além de terem menos chance de terem alguma queda de desempenho neurológico.
Talvez a melhor forma de interpretar este estudo seja que ao realizar BLS, o foco está mais concentrado na massagem cardíaca do que em outras intervenções como a intubação ou administração de drogas. Mais uma vez, infere-se que o grande ponto de importância seja manter perfusão cerebral e coronária durante a ressuscitação cardiopulmonar. Difícil achar que profissionais treinados em ACLS pudessem ter um pior desempenho do que profissionais treinados em BLS para explicar o resultado do estudo. E também não é possível ter a mente fechada e achar que o resultado não é plausível.
O que o resultado ajuda a respaldar é uma política de saúde mais econômica no que tange o atendimento pré-hospitalar, o que envolve menos custo em treinamento, menos custo de material e menos tempo em atendimento local. Mesmo não havendo um estudo randomizado para validar esta conduta, o presente estudo fornece bases sólidas para se pensar nesse assunto e em suas soluções.
Sanghavi P et al. Outcomes after out-of-hospital cardiac arrest treated by basic vs advanced life support. JAMA Intern Med 2014 Nov 24; [e-pub ahead of print]. (Link para o artigo: http://dx.doi.org/10.1001/jamainternmed.2014.5420)
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