Autor:
Lucas Santos Zambon
Doutorado pela Disciplina de Emergências Clínicas Faculdade de Medicina da USP; Médico e Especialista em Clínica Médica pelo HC-FMUSP; Diretor Científico do Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente (IBSP); Membro da Academia Brasileira de Medicina Hospitalar (ABMH); Assessor da Diretoria Médica do Hospital Samaritano de São Paulo.
Última revisão: 18/04/2016
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A cirurgia bariátrica vem sendo cada vez mais utilizada para o tratamento de adolescentes com obesidade grave. Porém, há pouca literatura a respeito desse tema e faltam estudos prospectivos que sejam específicos dessa faixa etária, e que tenham examinado a eficácia e a segurança da cirurgia para perda de peso. E estes dados são importantes para fundamentar a tomada de decisão para um procedimento de alto custo e que não é isento de riscos.
Este foi um estudo observacional prospectivo que envolveu 242 adolescentes submetidos à cirurgia de perda de peso em cinco centros norte-americanos. Pacientes submetidos a Y de Roux para bypass gástrico (161 participantes) ou gastrectomia vertical (67) foram incluídos na análise. Foram avaliados desfechos secundários, que incluíram alterações no peso corporal, evolução de doenças coexistentes, fatores de risco cardíaco e relacionados com qualidade de vida e de peso no pós-operatório e complicações. Os dados foram avaliados através de três anos após o procedimento.
A média (± DP) de idade da linha de base dos participantes foi de 17 ± 1,6 anos e o índice de massa corpórea média era de 53; 75% dos participantes eram do sexo feminino, e 72% eram brancos. Com três anos após o procedimento, o peso médio tinha diminuído em 27% (IC95% de 25 a 29) em toda a coorte, 28% (IC95% de 25 a 30) entre os participantes que se submeteram ao Y de Roux, e em 26% (IC95% de 22 a 30) entre aqueles que foram submetidos à gastrectomia vertical. Com três anos após o procedimento, remissão de diabetes tipo 2 ocorreu em 95% (IC95% de 85 a 100) dos participantes que tinham a condição na linha de base, a remissão da função renal anormal ocorreu em 86% (IC95% de 72 a 100), a remissão de pré-diabetes em 76% (IC95% de 56 a 97), remissão de hipertensão arterial em 74% (IC95% de 64 a 84) e remissão de dislipidemia em 66% (IC95% de 57-74). A qualidade de vida relacionada com o peso também melhorou significativamente. No entanto, três anos após o procedimento bariátrico, hipoferritinemia foi encontrada em 57% (IC95% de 50 a 65) dos participantes, e 13% (IC95% de 9 a 18) dos participantes haviam sido submetidos a um ou mais procedimentos intra-abdominais adicionais.
Este é um estudo bastante interessante, mesmo sendo observacional (mas com a qualidade de ser prospectivo e multicêntrico). Aparentemente, os ganhos para os adolescentes quanto à realização de cirurgia bariátrica são bastante pronunciados no que diz respeito a comorbidades e doenças crônicas, com grande taxa de pacientes que conseguiram remissão de diabetes, pré-diabetes, hipertensão e dislipidemia, e esse talvez seja o maior ganho. A qualidade de vida também aumentou, algo de se esperar. A perda de peso não chegou a ser tão pronunciada, abaixo de 30% em três anos.
Os riscos não são desprezíveis. Quase 60% de hipoferritinemia e 13% dos casos precisando de novos procedimentos não é algo que podemos deixar de pensar.
É possível que obtendo dados de mais longo prazo com esses pacientes, o julgamento a respeito da realização de cirurgia bariátrica em adolescentes fique mais consistente, pois ainda não sabemos em longo prazo o que ocorre com esses jovens.
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