Autor:
Lucas Santos Zambon
Doutorado pela Disciplina de Emergências Clínicas Faculdade de Medicina da USP; Médico e Especialista em Clínica Médica pelo HC-FMUSP; Diretor Científico do Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente (IBSP); Membro da Academia Brasileira de Medicina Hospitalar (ABMH); Assessor da Diretoria Médica do Hospital Samaritano de São Paulo.
Última revisão: 05/10/2016
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Um achado bastante rotineiro em endoscopias digestivas altas é a presença de metaplasia intestinal gástrica (MIG). Embora MIG seja um passo inicial na carcinogênese gástrica, há controvérsia sobre a vigilância de rotina em pacientes com MIG detectada em regiões com baixa prevalência de câncer gástrico. Apresentaremos a seguir um estudo cujo objetivo foi determinar a incidência de câncer gástrico em pacientes com MIG e os fatores de risco para o câncer gástrico nessa população.
Foi realizado um estudo de coorte retrospectivo de pacientes diagnosticados com MIG entre 2000 e 2011, a partir de dados regionais da Kaiser Permanente Southern California nos EUA. A MIG foi identificada por uma pesquisa de palavras-chave em relatórios de patologia; casos de câncer gástrico foram identificados por referência cruzada com um registro de câncer interno. A incidência de câncer gástrico em pacientes com MIG (n=923; idade média no momento do diagnóstico, 68 anos) foi comparada com a incidência em uma população de referência equivalente em idade e sexo (controles). Foram avaliados os fatores de risco etnia, tabagismo, história da infecção por Helicobacter pylori, e história familiar de câncer gástrico. Em seguida, foi realizado um segundo estudo para avaliar o risco de câncer gástrico com base na localização e extensão da MIG. A duração média do acompanhamento foi de 4,6 anos (intervalo interquartil [IQR], 3,0-6,7 anos).
Foram identificados 25 pacientes com MIG que desenvolveram câncer gástrico. Foram diagnosticados 17 casos de câncer, ao mesmo tempo do diagnóstico da MIG. Foram identificados oito casos de câncer dentro de um período médio de 4,6 anos após o diagnóstico de MIG (IQR, 2-5,7 anos). A taxa de incidência global para a coorte foi de 1,72. Entre os fatores de risco avaliados, apenas a história familiar (hazard ratio, 3,8; intervalo de confiança [IC] 95% 1,5-9,7; P=0,012) e extensão da MIG (odds ratio, 9,4; IC 95%, 1,8-50,4) aumentaram o risco de câncer. A taxa de incidência de câncer gástrico em pacientes com história familiar positiva foi 8,12 (IC 95% 1,67-23,73).
Por esta análise, de pacientes com MIG em um banco de dados dos EUA, verificamos que 2,7% foram diagnosticados com câncer gástrico; quase 70% dos casos de câncer gástrico foram detectados ao mesmo tempo que a MIG. Os maiores fatores de risco para câncer gástrico subsequente foram história familiar e extensa metaplasia intestinal. Este estudo nos traz subsídios para estabelecer a recomendação de que eventualmente pacientes com história familiar de câncer gástrico ou com uma grande área de metaplasia merecem vigilância endoscópica, com o objetivo de detectar precocemente um possível câncer gástrico.
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