Autor:
Lucas Santos Zambon
Doutorado pela Disciplina de Emergências Clínicas Faculdade de Medicina da USP; Médico e Especialista em Clínica Médica pelo HC-FMUSP; Diretor Científico do Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente (IBSP); Membro da Academia Brasileira de Medicina Hospitalar (ABMH); Assessor da Diretoria Médica do Hospital Samaritano de São Paulo.
Última revisão: 13/12/2017
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Contexto Clínico
Tratar episódios de insuficiência cardíaca aguda (ICA) pode, muitas vezes, se tornar um grande desafio para o médico, e as opções terapêuticas são limitadas. Para esses casos, tem sido proposta uma intervenção precoce com um vasodilatador intravenoso como meta terapêutica para reduzir o estresse da parede cardíaca e, potencialmente, a lesão do miocárdio, afetando, assim, de maneira favorável, o prognóstico a longo prazo dos pacientes.
Sobre o ularitide: trata-se da versão farmacêutica da urodilatina, que é um hormônio de 32 aminoácidos da família dos peptídeos natriuréticos, secretada pelos túbulos distais do rim. A urodilatina é a resposta dos rins à IC descompensada ao acomodar e preservar a sua função renal. Na ICA, acredita-se que a administração de ularitide assegure a perfusão sistêmica de órgãos e, por conseguinte, reduza as complicações clínicas a curto e a longo prazo.
O Estudo
Este é um ensaio clínico randomizado, duplo-cego, com 2.157 pacientes com ICA que foram submetidos a uma infusão intravenosa contínua de ularitide em uma dose de 15ng/kg de peso corporal por minuto ou um placebo durante 48 horas, além da terapia base. O tratamento foi iniciado com uma mediana de 6 horas após a avaliação clínica inicial. Os desfechos primários foram morte por causas cardiovasculares durante um seguimento médio de 15 meses e um ponto final composto hierárquico que avaliou o curso clínico inicial de 48 horas.
A morte por causas cardiovasculares ocorreu em 236 pacientes no grupo de ularitide e em 225 no grupo placebo (21,7% versus 21,0%; razão de risco, 1,03; IC 96%, 0,85 a 1,25; p = 0,75). Na análise de intenção de tratar, não houve diferença significativa entre os grupos em relação ao resultado composto hierárquico para o curso clínico inicial. O grupo de ularitide apresentou maiores reduções na pressão arterial sistólica (PAS) e nos níveis de pró-BNP do que o grupo de placebo. No entanto, alterações nos níveis de troponina T cardíaca durante a infusão não diferiram entre os dois grupos.
Aplicação Prática
Pode-se concluir que, apesar de ser uma boa ideia, no caso de pacientes com ICA, o ularitide não foi capaz de impactar clinicamente, medidos o desfecho primário de mortalidade cardiovascular e o quadro clínico agudo, alterando apenas resultados substitutivos (como PAS e pró-BNP), que não são justificativas para o uso da medicação. Observa-se, por fim, que se trata de um estudo patrocinado pela indústria fabricante (Cardiorentis).
Bibliografia
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