Autor:
Lucas Santos Zambon
Doutorado pela Disciplina de Emergências Clínicas Faculdade de Medicina da USP; Médico e Especialista em Clínica Médica pelo HC-FMUSP; Diretor Científico do Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente (IBSP); Membro da Academia Brasileira de Medicina Hospitalar (ABMH); Assessor da Diretoria Médica do Hospital Samaritano de São Paulo.
Última revisão: 27/04/2009
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O sistema de saúde, assim como outras áreas de atividade humana, precisa de uma renovação de forma sistemática de forma a se manter custo-efetivo, seguro, de qualidade e atualizado. O que vem sendo mais promissor dentro da área de saúde é a associação de duas metodologias: o “Lean Thinking” (já abordado nesta sessão – Metodologias para melhoria de qualidade – Lean Thinking) e o “Six Sigma”, a primeira voltada para reduzir perdas e a segunda para diminuir variações. Muitos exemplos em outros países já mostram esse benefício através da diminuição de custos e melhoria da qualidade que essas metodologias impõem. Neste capítulo abordaremos o “Six Sigma”.
A metodologia “Six Sigma” teve sua origem na Motorola em 1987, com posterior desenvolvimento na General Eletric nos anos 1990. Enquanto o Lean Thinking é focado na diminuição de desperdícios, o Six Sigma tem foco na diminuição das variações em um processo, de forma a eliminar defeitos e não conformidades, em busca da perfeição (graficamente, podemos representar essa idéia na Figura 1). O termo é originário da letra grega “sigma”, que no uso da estatística denota os desvios padrões em relação à média. Trabalhar em um processo Six Sigma (ou 6 Sigma), significa que este processo produz apenas 3,4 erros a cada 1 milhão de vezes que ele é feito. Para se ter uma idéia melhor da magnitude dessa definição, vide a tabela 1.
Figura 1: Variações
Tabela 1: Comparação entre um processo 4 Sigma e um processo 6 Sigma
4 SIGMA |
6 SIGMA |
99,38% de situações conformes |
99,99966% de situações conformes |
4,5 horas de falta de energia elétrica no mês |
1 hora de falta de energia elétrica em 34 anos |
5000 cirurgias incorretas por semana |
7 cirurgias incorretas por semana |
6250 cartas extraviadas para cada 1 milhão de cartas postadas |
3,4 cartas extraviadas para cada 1 milhão de cartas postadas |
8,9 minutos de fornecimento de água sem tratamento por dia |
1 minuto de fornecimento de água não tratada a cada 6,8 meses |
Um canal de TV fica fora do ar 1,04 horas por semana |
Um canal de TV fica fora do ar 2 segundos por semana |
Vale ressaltar que no sistema de saúde, nossos processos (diagnóstico médico, realização de exames, administração de medicações, etc), em função da grande quantidade de erros que temos, é considerado um processo que opera em situação de 2 Sigma! Podemos ver quantos erros são cometidos a cada 1 milhão de vezes que algo é feito para cada nível sigma na Tabela 2.
Tabela 2: Níveis Sigma e Quantidade de Erros por Milhão
Nível Sigma |
Percentual de Erros em 1 Milhão |
Número de Erros por Milhão |
1 |
30,9% |
691.462 |
2 |
69,1% |
308.537 |
3 |
93,3% |
66.807 |
4 |
99,38% |
6.210 |
5 |
99,977% |
233 |
6 |
99,99966% |
3,4 |
O Six Sigma segue uma estratégia de aplicação de projetos de melhoria. Para isso se faz uso do modelo DMAIC (Figura 2 e Tabela 3). Vale lembrar que o ponto fraco do Six Sigma é sua complexidade, pois ele faz uso de mensurações pesadas de dados para realizar cálculos estatísticos que não são simples durante a análise desses dados. Ou seja, não vale a pena usar o Six Sigma para buscar soluções em situações simples, onde o Lean tende a produzir um processo de melhoria mais eficiente e mais prático.
Figura 2: Modelo DMAIC
Tabela 3: Detalhamento das Etapas do Modelo DMAIC
ETAPA |
Detalhes da Etapa |
Resumo da Etapa |
DEFINE - Definir |
Mapear o processo envolvido Identiticar o que é mais importante em termos de qualidade (CTQ – Critical To Quality) Identificar o problema Definir as características do problema: quando ele ocorre, como ele ocorre, sua extensão e seu impacto Formar um time de trabalho Definir metas |
Quem são meus clientes e quais as suas prioridades? |
MESURE - Medir |
Baseado no CTQ, definir o que medir Verificar como medir os dados e se os mesmos são acurados e válidos Definir com os dados qual o desempenho atual Definir se é necessário modificar as variações |
Como é o desempenho do meu processo e quais são suas medidas? |
ANALYZE - Analisar |
Analisar principais causas do problema ou as fontes das variações Estabelecer as capacidades de melhoria do processo Utilizar ferramentas gráficas e de estatística |
Quais são as mais importantes causas dos problemas? |
IMPROVE - Melhorar |
Como consertar o processo: avaliar riscos, propor alternativas para melhoria, testar alternativas e selecionar a melhor |
Como remover as causas dos problemas? |
CONTROL - Controlar |
Definir e validar sistemas que sejam sustentáveis Usar ferramentas “à prova de erro”, realizar monitorização do processo e estabelecer um design de processo robusto |
Como podemos manter as melhorias? |
O Six Sigma tem diferentes níveis de treinamento e graduações que seguem a lógica das artes marciais. Cada diferente nível de aprofundamento na metodologia implica em uma diferente cor de “faixa”, ou “belt” no termo em inglês, como podemos ver na Tabela 4.
Tabela 4: Quem é quem no Six Sigma
Master Black Belt |
Líderes altamente treinados responsáveis pelas estratégias, treinamentos, tutoria, desenvolvimento e resultados |
Black Belt |
Experts na metodologia que lideram times de melhoria e projetos de trabalho, além de tutorar Green Belts e Yellow Belts |
Green Belt |
Altamente treinados na metodologia, desenvolvem e lideram projetos complexos em sua área de trabalho |
Yellow Belt |
Recebem treinamento específico para desenvolver projetos menos complexos e dar suporte aos Green e Black Belts em sua área de trabalho |
Apesar de ter sido desenvolvido na área industrial, já podemos verificar alguns exemplos de melhorias geradas pelo desenvolvimento de projetos Six Sigma na área de saúde (siga os links para mais ter mais detalhes dos projetos).
1. Projeto em Pronto-Socorro: desenvolvido com foco na diminuição dos tempos de espera, o Hospital da Universidade North Shore no estado de Nova York nos EUA conseguiu diminuir esses tempos de forma impressionante.
http://Healthcare.isixsigma.com/library/content/c040428a.asp
2. Projeto em Setor de Hemodinâmica: como é um setor de alto custo devido ao alto investimento, alguns hospitais passaram a utilizar projetos em six sigma para melhorar a eficiência e a utiização dos equipamentos de forma a tornar este setor de seus hospitais mais custo-efetivos.
http://Healthcare.isixsigma.com/library/content/c040721a.asp
3. Projeto em Chamadas de Emergência: desenvolvido no centro médico da Universidade de Virgínia nos EUA, especificamente no Departamento de Medicina Pulmonar, buscou-se evidenciar quando as chamadas ocorriam, o que ocorria de errado para que acontecessem e quais as causas de excesso ou falta de chamados.
http://Healthcare.isixsigma.com/library/content/c030501a.asp
Desenvolvido na Motorola e na General Eletric, o Six Sigma é uma forma de desenvolver melhorias, com foco na diminuição das variações em um processo, de forma a eliminar defeitos e não conformidades, em busca da perfeição.
O termo é originário da letra grega “sigma”, que no uso da estatística denota os desvios padrões em relação à média. Trabalhar em um processo Six Sigma (ou 6 Sigma), significa que este processo produz apenas 3,4 erros a cada 1 milhão de vezes que ele é feito.
O Six Sigma segue uma estratégia de aplicação de projetos de melhoria. Para isso se faz uso do modelo DMAIC (Define/Definir > Mesure/Medir > Analyze/Analisar > Improve/Melhorar > Control/Controlar).
O Six Sigma tem diferentes níveis de treinamento e graduações que seguem a lógica das artes marciais. Cada diferente nível de aprofundamento na metodologia implica em uma diferente cor de “faixa”, ou “belt” no termo em inglês (Master Black Belt, Black Belt, Green Belt e Yellow Belt).
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