FECHAR
Feed

Já é assinante?

Entrar
Índice

Inibidores de bomba de prótons e pneumonia hospitalar

Autor:

Euclides F. de A. Cavalcanti

Médico Colaborador da Disciplina de Clínica Médica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP

Última revisão: 05/06/2009

Comentários de assinantes: 0

Inibidores de bomba de prótons aumentam incidência de pneumonia em pacientes hospitalizados

 

Uso de medicações para supressão de acidez e risco de pneumonia hospitalar

Herzig SJ et al. Acid-Suppressive Medication Use and the Risk for Hospital-Acquired Pneumonia JAMA. 2009;301(20):2120-2128 [Link para o abstract]

 

Fator de impacto da revista (JAMA): 25,547

 

Contexto Clínico

            Os inibidores de bomba de prótons – IBP (p. ex., omeprazol, lanzoprazol) representaram um avanço no tratamento das doenças ulcerosas pépticas e refluxo gastroesofágico, por suprimirem a secreção ácida gástrica de forma mais eficiente e duradoura do que os antagonistas de receptor H2 (p. ex., ranitidina, cimetidina) e antiácidos. Além disso, costumam ser muito bem tolerados pelos pacientes, motivo pelo qual tem sido comum observar na prática clínica a prescrição indiscriminada destas medicações, tanto em pacientes ambulatoriais, quanto em pacientes internados. De fato, alguns estudos realizados nos Estados Unidos, comprovam esta prática, indicando que entre 40% e 70% dos pacientes internados recebem algum tipo de medicação para a supressão ácida2,3, sendo que em aproximadamente 70% dos casos estas medicações são utilizadas para indicações sem suporte na literatura, como profilaxia de úlcera de stress em pacientes de baixo risco4,5,6.

            No entanto, esta prática parece não ser isenta de riscos. Alguns estudos recentes realizados com pacientes ambulatoriais indicam que estas medicações aumentam o risco de pneumonia comunitária, e o mecanismo provável é que um ambiente gástrico pouco ácido poderia levar a proliferação bacteriana7,8,9. Outro dado preocupante é que o risco de pneumonia parece ser muito maior no início do tratamento, particularmente na primeira semana7,9. O presente estudo procurou identificar se a prescrição destas medicações também se associa a um maior risco de pneumonia em pacientes internados.

 

O Estudo

            Estudo prospectivo de coorte, que analisou os dados de todos os pacientes internados em um hospital acadêmico de grande porte dos Estados Unidos entre janeiro de 2004 e dezembro de 2007. Os pacientes incluídos no estudo foram aqueles com mais de 18 anos, que ficaram internados por mais de 3 dias e que não tiveram passagem por unidades de terapia intensiva. A relação entre a incidência de pneumonia hospitalar com o uso de inibidores de bomba de prótons e antagonistas de receptor H2 foi analisada. Foi realizada análise de regressão logística multivariada para controlar para fatores de confusão e comorbidades.

 

Resultados

            Um total de 63.878 admissões foi realizado no período e 2219 pneumonias hospitalares identificadas no período, sendo que 52% dos pacientes receberam terapia de supressão ácida. A análise multivariada revelou aumento na incidência de pneumonia com o uso de inibidores de bomba de prótons em 30% (Risco Relativo 1,3 IC 95% 1,1 a 1,4). O uso de antagonistas de receptor H2 não se associou a aumento na incidência de pneumonia, mas os autores fizeram a ressalva que o estudo pode não ter tido poder estatístico suficiente para detectar diferenças.

 

Aplicações para a Prática Clínica

            O estudo tem a limitação de ser um estudo observacional e, portanto, mais sujeito a viés, além de ter sido realizado em um único centro. No entanto, há grande plausibilidade biológica para os achados e o aumento na incidência de pneumonia em pacientes ambulatoriais já verificado em outros estudos corrobora os achados intra-hospitalares do presente estudo.

            Além do maior risco de pneumonia que, portanto, parece se aplicar tanto para pacientes internados quanto para pacientes ambulatoriais, outros estudos sugerem que os inibidores de bomba de prótons se associam a uma maior incidência de infecção por Clostridium Difficile, tanto em pacientes internados10, quanto em pacientes ambulatoriais11. Outras preocupações que tem surgido com o uso dos inibidores de bomba de prótons são um possível aumento na incidência de fraturas com o uso prolongado12, aumento na incidência de peritonite bacteriana espontânea em cirróticos com ascite13 e aumento no risco cardiovascular em pacientes usando dupla terapia antiplaquetária (aspirina e clopidogrel), possivelmente por levar a diminuição do efeito do clopidogrel14

            A conclusão que podemos obter deste estudo é que, assim como com qualquer outra medicação, os inibidores de bomba de prótons somente devem ser utilizados quando houver clara indicação (ver também – Como prescrever da melhor forma possível?). Logo, a principal indicação de se iniciar terapia com inibidores de bomba de prótons em um paciente internado é no tratamento de doença ulcerosa péptica, situação em que é a droga de escolha.

            Já em relação à profilaxia de úlcera de stress, as indicações de profilaxia são15:

 

         Coagulopatia, definida como contagem plaquetária < 50.000/mL, INR > 1,5 ou TTPA > 2 vezes o valor de controle.

         Ventilação mecânica por mais de 48 horas.

         História de ulceração ou sangramento do trato gastrointestinal no último ano.

         2 ou mais dos seguintes fatores de risco: sepsis; admissão em UTI por mais de uma semana; sangramento oculto com duração > 6 dias e terapia com corticosteróide (mais do que 250 mg de hidrocortisona ou equivalente).

 

            Neste caso, pode ser realizada a profilaxia com IBP, mas as drogas mais estudadas para este fim são os antagonistas de receptor H2, não havendo vantagem clara dos IBPs em relação àqueles. Como os antagonistas de receptor H2 como a ranitidina e cimetidina são muito mais baratos, o que é particularmente relevante para as apresentações endovenosas dos IBPs, provavelmente são as drogas de escolha na profilaxia de úlcera de stress.

 

Bibliografia

1.     Herzig SJ et al. Acid-Suppressive Medication Use and the Risk for Hospital-Acquired Pneumonia JAMA. 2009;301(20):2120-2128 [Link para o abstract]

2.     Nardino RJ, Vender RJ, Herbert PN. Overuse of acidsuppressive therapy in hospitalized patients. Am J Gastroenterol. 2000;95(11):3118-3122.

3.     Pham CQ, Regal RE, Bostwick TR, Knauf KS. Acid suppressive therapy use on an inpatient internal medicine service. Ann Pharmacother. 2006;40(7-8): 1261-1266. [Link para o abstract]

4.     Heidelbaugh JJ, Inadomi JM. Magnitude and economic impact of inappropriate use of stress ulcer prophylaxis in non-ICU hospitalized patients. Am J Gastroenterol. 2006;101(10):2200-2205.

5.     Scagliarini R, Magnani E, Pratico A, Bocchini R, Sambo P, Pazzi P. Inadequate use of acid-suppressive therapy in hospitalized patients and its implications for general practice. Dig Dis Sci. 2005;50(12):2307- 2311.

6.     Janicki T, Stewart S. Stress-ulcer prophylaxis for general medical patients: a review of the evidence. J Hosp Med. 2007;2(2):86-92.

7.     Gulmez SE, Holm A, Frederiksen H, Jensen TG, Pedersen C, Hallas J. Use of proton pump inhibitors and the risk of community-acquired pneumonia: a population-based case-control study. Arch Intern Med. 2007;167(9):950-955. [Link livre para o artigo original]

8.     Laheij RJ, Sturkenboom MC, Hassing RJ, Dieleman J, Stricker BH, Jansen JB. Risk of community-acquired pneumonia and use of gastric acid-suppressive drugs. JAMA. 2004;292(16):1955-1960. [Link livre para o artigo original]

9.     Sarkar M, Hennessy S, Yang YX. Proton-pump inhibitor use and the risk for community-acquired pneumonia. Ann Intern Med. 2008;149(6):391-398. [Link livre para o artigo original]

10.  Aseeri M et al. Gastric acid suppression by proton pump inhibitors as a risk factor for Clostridium difficile-associated diarrhea in hospitalized patients. Am J Gastroenterol 2008 Sep; 103:2308.

11.  Dial S et al. Use of gastric acid-suppressive agents and the risk of community-acquired Clostridium difficile–associated disease.JAMA 2005 Dec 21; 294:2989-95. [Link livre para o artigo original]

12.  Targownik LE et al. Use of proton pump inhibitors and risk of osteoporosis-related fractures. CMAJ 2008 Aug 12; 179:319. [Link livre para o artigo original]

13.  Bajaj JS et al. Association of proton pump inhibitor therapy with spontaneous bacterial peritonitis in cirrhotic patients with ascites. Am J Gastroenterol 2009 May; 104:1130.

14.  Ho PM et al. Risk of adverse outcomes associated with concomitant use of clopidogrel and proton pump inhibitors following acute coronary syndrome. JAMA 2009 Mar 4; 301:937. [Link para o abstract]

15.  Weinhouse G. Stress ulcer prophylaxis in the intensive care unit. www.uptodate.com software 17.1; 2009

Conecte-se

Feed

Sobre o MedicinaNET

O MedicinaNET é o maior portal médico em português. Reúne recursos indispensáveis e conteúdos de ponta contextualizados à realidade brasileira, sendo a melhor ferramenta de consulta para tomada de decisões rápidas e eficazes.

Medicinanet Informações de Medicina S/A

Cnpj: 11.012.848/0001-57

info@medicinanet.com.br


MedicinaNET - Todos os direitos reservados.

Termos de Uso do Portal

×
×

Em função da pandemia do Coronavírus informamos que não estaremos prestando atendimento telefônico temporariamente. Permanecemos com suporte aos nossos inscritos através do e-mail info@medicinanet.com.br.