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Uso de antibiótico e recorrência de otite média em crianças

Autores:

Flávia J. Almeida

Médica Assistente do Serviço de Infectologia Pediátrica da Santa Casa de São Paulo. Mestre em Pediatria pela FCMSCSP.

Rodrigo Díaz Olmos

Doutor em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de são Paulo (FMUSP). Diretor da Divisão de Clínica Médica do Hospital Universitário da USP. Docente da FMUSP.

Última revisão: 22/08/2009

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Uso de antibiótico e recorrência de otite média em crianças

 

Recorrência até 3,5 anos após tratamento antibiótico para otite média aguda em crianças holandesas muito jovens1. [Link livre para o Artigo Completo].

 

Fator de impacto da revista (BMJ): 9,723

 

Contexto Clínico

            Otite média aguda (OMA) é uma das causas mais frequentes de infecção na infância, permanecendo como um dos principais motivos para consultas com o pediatra. Os pediatras prescrevem antibiótico frequentemente para otites médias agudas não complicadas, a despeito da falta de evidências de melhor evolução com o uso de antibióticos. As diretrizes de tratamento de otite média recomendam a prescrição de antibióticos apenas em crianças com doença grave ou em menores de dois anos com otite aguda bilateral ou otorréia aguda. Para a maioria das outras crianças com otite média recomenda-se observação inicial. Pouco se sabe sobre os efeitos do tratamento da otite média com antibióticos no longo prazo. A prescrição inicial de antibióticos na OMA pode, por um lado, encurtar a duração da doença. Mas, por outro lado, acaba encorajando o médico a prescrever em outros episódios, fazendo com que o médico sofra pressão do paciente para prescrever e, com isto, aumentando o uso futuro de antibióticos. Certamente, isto pode refletir num aumento da resistência bacteriana. Com base nestas considerações, os autores realizaram um estudo para determinar os efeitos de longo prazo do tratamento da otite média aguda com antibiótico em crianças pequenas.

 

O Estudo

            Foi feito um estudo inicial, randomizado, placebo controlado, duplo cego, com 240 crianças, entre 1996 e 1998, avaliando o uso de amoxicilina (40 mg/Kg/dia) versus placebo em crianças de 6 a 24 meses com diagnóstico de OMA em 53 serviços de atenção primária na Holanda. Em 2000, aproximadamente 3,5 anos após o início do estudo, os pais receberam um questionário sobre recorrência de otite média, encaminhamento para o nível secundário de atenção e cirurgia de ouvido, nariz e garganta. O presente estudo refere-se ao seguimento destes pacientes inicialmente incluídos no ensaio clínico original.

 

Resultados      

            Dos 240 participantes originalmente randomizados, 168 (70%) responderam o questionário. A OMA recorreu em 63% das crianças no grupo da amoxicilina e em 43% das crianças no grupo placebo (diferença de risco: 20% IC 95% 5% a 35%). Trinta por cento (30%) das crianças em ambos os grupos foi encaminhada para a atenção secundária. Vinte e um por cento (21%) das crianças no grupo amoxicilina e 30% das crianças no grupo placebo realizaram cirurgia de ouvido, nariz ou garganta (diferença de risco: -9% IC 95% -23% a 4%). Os autores concluem que recorrência de OMA foi mais frequente no grupo de crianças que foi originalmente tratada com amoxicilina. Este é outro argumento para ser judicioso no uso de antibióticos para o tratamento de crianças com otite média aguda.

 

Aplicações para a Prática Clínica

A prevalência de OMA na infância é muito alta e a maioria dos episódios é tratada com antibióticos. O diagnóstico de OMA é responsável por grande parte das prescrições antibióticas. Entretanto, a maioria das crianças, com mais de 2 anos, com diagnóstico de OMA melhora sem o uso de antibióticos. A Academia Americana de Pediatria (AAP) define OMA como uma doença aguda, acompanhada de inflamação da membrana timpânica e efusão em orelha média e as diretrizes de tratamento baseiam-se na idade da criança, gravidade da doença e certeza do diagnóstico (tabela 1) 2.

 

Tabela 1: Critérios para tratamento da OMA, segundo AAP

Idade

Certeza do diagnóstico

Incerteza do diagnóstico

2 a 6 meses

TRATAR

TRATAR

6 meses a 2 anos

TRATAR

Grave: TRATAR

Não grave: observar

2 a 12 anos

Grave: TRATAR

Não grave: observar

Observar

 

A avaliação desta diretriz mostra que muitos médicos ainda relutam em aceitá-la. A redução do uso indiscriminado de antimicrobianos em infecções de vias aéreas superiores é um fator importante para a diminuição das taxas de resistência bacteriana. Este objetivo poderá ser alcançado através de programas de educação médica e populacional, pois é frequente a busca de um antibiótico pelos pais. O uso prévio de antibióticos é, sabidamente, um fator de risco para colonização e infecção por Streptococcus pneumoniae resistente. Existe um grande interesse em minimizar o uso desnecessário de antibióticos em pediatria, pois as crianças são reservatórios importantes de microorganismos resistentes. Além disto, este estudo nos mostra claramente, que o tratamento da OMA com antibiótico não diminui a necessidade de uma avaliação pelo especialista, nem a necessidade de realização de uma cirurgia otorrinolaringológica.

 

Bibliografia

  1. Bezáková N et al. Recurrence up to 3.5 years after antibiotic treatment of acute otitis media in very young Dutch children: Survey of trial participants. BMJ 2009 Jun 30; 338:b2525.

2.     American Academy of Pediatrics Subcommittee on Management of Acute Otitis Media.  Diagnosis and management of acute otitis media. Pediatrics. 2004 May;113(5):1451-65 [Link Livre para Artigo Completo].

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