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Cirurgia não-cardíaca e terapia antiplaquetária após stent coronário

Autores:

André Luis Veiga de Oliveira

Médico Cardiologista pelo Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP
Médico Assistente da Unidade de Terapia Intensiva do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP

Leonardo Vieira da Rosa

Médico Cardiologista pelo Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Médico Assistente da Unidade de Terapia Intensiva do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Doutorando em Cardiologia do InCor-HC-FMUSP. Médico Cardiologista da Unidade Coronariana do Hospital Sírio Libanês.

Última revisão: 18/11/2009

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Cirurgia não-cardíaca e terapia antiplaquetária após stent coronário

 

Cirurgia não-cardíaca e terapia antiplaquetária após stent coronário1 [Link para Abstract]

 

Fator de impacto da revista (Heart): 4.964

 

Contexto Clínico

            O uso de stent na artéria coronária é um tratamento bem estabelecido para doença coronariana. Quando comparado à angioplastia com balão, reduz a incidência de reestenose. Uma vez que ocorre desnudamento do endotélio no momento da implantação do stent, levando a fenômenos pró-trombóticos locais, há necessidade de terapia antiplaquetária subseqüente por algum tempo, o que reduzirá o risco de trombose até completa a endotelização do vaso.

            Cerca de 5% dos pacientes que utilizam stent coronário para tratamento de doença aterosclerótica necessitarão de cirurgia não-cardíaca nos próximos 12 meses. Uma vez que o ato cirúrgico aumenta os fatores pró-trombóticos e que estes pacientes não devem abandonar a terapia antiplaquetária com risco de trombose do stent, isso aumentará o risco de hemorragia intra-operatória.

            Esta revisão explora as evidências atuais a fim de orientar as condutas no momento de uma eventual cirurgia não-cardíaca após o implante de stent e o uso de antiplaquetários.

 

Principais Pontos da Revisão

 

  1. A diretriz de intervenção percutânea coronária da American College of Cardiology/American Heart Association (ACC/AHA)3 recomenda 162 - 325 mg/dia de aspirina 1 mês após implante de stent convencional, 3 meses após stent farmacológico com sirolimus e 6 meses após stent farmacológico com paclitaxel, a partir do qual aspirina deve ser dada na dosagem de 75 - 162 mg/dia indefinidamente. Em conjunto com a aspirina, clopidogrel deve ser dado na dosagem de 75 mg/dia (após adequada dose inicial) por pelo menos 30 dias após stent convencional e idealmente até 12 meses, e, pelo menos, 12 meses após stent farmacológico. O FDA (Food and Drug Administration) e a diretriz da Sociedade Européia de Cardiologia4 sugerem 12 meses de terapia antiplaquetária combinada (aspirina e clopidogrel).
  2. Estudos observacionais sugerem que a realização de cirurgia não-cardíaca precocemente após implante de stent associada à retirada precoce de antiplaquetários eleva significativamente o risco de complicações cardiovasculares. Desta forma, a mais recente diretriz sobre cuidados peri-operatórios da ACC/AHA5 aconselha terapia antiplaquetária combinada por, pelo menos, 30 dias após implante de stent convencional e 12 meses para stent farmacológico, antes da realização de cirurgia não cardíaca.
  3. O risco associado ao uso de aspirina parece ser pequeno, principalmente relacionado a sangramentos menores, e ao tipo de cirurgia. Meta-análise de 50.000 pacientes encaminhados para procedimento cirúrgico na vigência de uso de aspirina relatou um aumento de 50% no risco de sangramentos menores, não alterando a incidência de sangramentos maiores, exceto durante neurocirurgia e cirurgia prostática.
  4. Em contrapartida, o clopidogrel aumenta o risco de sangramentos maiores, se não interrompido o seu uso = 5 dias antes do procedimento cirúrgico.
  5. Uma vez que se evidencia na literatura que a revascularização coronária pré-operatória, com o objetivo de reduzir complicações cardiovasculares, demonstra pouco impacto em reduzir eventos cardíacos peri-operatórios, recomenda-se revascularização coronária nas seguintes situações (situações estas que apresentam indicação de revascularização, ou por sintomas ou por razões prognósticas, independente da necessidade de cirurgia não-cardíaca):

 

a)     Infarto do Miocárdio (IM) com elevação de ST;

b)    Angina Instável de alto risco ou IM sem elevação de ST;

c)     Angina estável com lesão de tronco de coronária esquerda > 50%;

d)    Angina estável com doença coronária triarterial;

e)     Angina estável com doença coronária biarterial envolvendo a artéria descendente anterior, e fração de ejeção de ventrículo esquerdo < 50%, ou presença de isquemia;

 

  1. A escolha de um determinado método de revascularização (percutânea ou cirúrgica) dependerá de diversos fatores: sintomas e comorbidades do paciente, anatomia coronária, grau de isquemia, urgência e tipo de cirurgia não-cardíaca a ser realizada. O intervalo de segurança entre a revascularização coronária e cirurgia não-cardíaca é demonstrada abaixo:

 

Procedimento

Tempo mínimo

Tempo ideal

RM cirúrgica

Variável

30 dias

ACP com balão

7 dias

14 dias

ACP com stent convencional

2 semanas

6 semanas

ACP com stent farmacológico

30 dias

Não estabelecido (> 1 ano?)

RM = revascularização miocárdica;

ACP = angioplastia coronária

 

 

  1. Considerar o uso de stent convencional ou angioplastia por balão ao invés de stent farmacológico em pacientes que serão submetidos a cirurgia não cardíaca em 12 meses.
  2. Postergar procedimentos eletivos com significativo risco de sangramento por 12 meses após implante de stent.

 

Aplicações para a prática clínica

            O manejo de pacientes com stents que precisam de cirurgia não-cardíaca é uma das questões de segurança  mais relevantes que os médicos enfrentam na atualidade. A trombose tardia é uma complicação que ameaça pacientes com stents  convencionais e, principalmente, com stents farmacológicos.

            Todos os profissionais de saúde devem estar cientes que a interrupção da aspirina e/ou clopidogrel pode aumentar o risco de morte do paciente. A decisão de suspensão dos antiplaquetários deve ser considerada em discussão com o cardiologista que iniciou a terapia antiplaquetária e a urgência do procedimento cirúrgico deve ser levada em consideração. Novas estratégias, como substituição da terapia antiplaquetária padrão oral por antiplaquetários de ação curta como ponte durante o período peri-operatório, têm sido sugeridas. Além disso, novos stents estão sendo testados (pro-healing surfaces), que podem permitir uma completa e mais rápida endotelização, o que diminuirá a necessidade, pelo menos teoricamente, de terapia antiplaquetária prolongada. Abaixo seguem dois fluxogramas que facilitam estratégias na prática clínica.

 

Bibliografia

  1. Luckie, M, Khattar, RS, Fraser, D. Non-cardiac surgery and antiplatelet therapy following coronary artery stenting. Heart 2009 95(16):1303–1308 [Link para o Abstract].
  2. Nicolau JC, Tarasoutchi F, Rosa LV, Machado FP. Condutas Praticas em Cardiologia. Editora Manole. São Paulo, 2009.
  3. American College of Cardiology/American Heart Association Task Force on Practice Guidelines. 2007 Focused Update of the ACC/AHA/SCAI 2005 Guideline Update for Percutaneous Coronary Intervention. J Am Coll Cardiol, 2008; 51:172-209 [Link para o Artigo Completo].
  4. The Task Force for Percutaneous Coronary Interventions of the European Society of Cardiology. Guidelines for Percutaneous Coronary Interventions. European Heart Journal (2005) 26, 804–847 [Link para o Artigo Completo].
  5. American College of Cardiology Foundation American Heart Association Task Force on Practice Guidelines. 2009 ACCF/AHA Focused Update on Perioperative Beta Blockade Incorporated Into the ACC/AHA 2007 Guidelines on Perioperative Cardiovascular Evaluation and Care for Noncardiac Surgery. J Am Coll Cardiol published online Nov 2, 2009 [Link para o Artigo Completo].

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