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Vacina contra Sarampo Caxumba e Rubéola e Autismo

Autores:

Flávia J. Almeida

Médica Assistente do Serviço de Infectologia Pediátrica da Santa Casa de São Paulo. Mestre em Pediatria pela FCMSCSP.

Rodrigo Díaz Olmos

Doutor em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de são Paulo (FMUSP). Diretor da Divisão de Clínica Médica do Hospital Universitário da USP. Docente da FMUSP.

Última revisão: 23/05/2010

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Vacina contra Sarampo, Caxumba e Rubéola e Autismo

 

Falta de associação entre vacina contra sarampo, caxumba e rubéola e autismo em crianças: um estudo caso controle1

 

Fator de impacto da revista (PIDJ): 3,176

 

Contexto Clínico

            Existe uma grande especulação sobre a associação de determinadas vacinas, especialmente a vacina contra sarampo, caxumba e rubéola (SCR), com autismo. O estudo de Wakefield2 foi o primeiro a propor esta associação, sugerindo que o autismo seria desencadeado pela vacina. Apesar de o estudo ter sido largamente criticado, causou imensa atenção da mídia, levando a uma queda na cobertura vacinal em alguns países europeus. Desde então, inúmeros estudos vem mostrando que não existem evidências da associação entre vacina SCR e autismo.

            Este estudo teve como objetivo primário determinar se existe relação entre a vacina SCR e autismo em crianças. O objetivo secundário foi avaliar se o risco de autismo difere entre a vacina SCR e a vacina contra o sarampo apenas.

 

O Estudo

            Foi realizado um estudo caso controle na Polônia, que incluiu crianças de 2 a 15 anos, com diagnóstico de autismo. Foram selecionados 2 controles para cada caso, pareados pelo ano de nascimento, sexo e médico.

            Os pais das crianças foram entrevistados quanto ao desenvolvimento pré e pós-natal, desenvolvimento físico e mental, doenças crônicas, malformações, distúrbios intestinais, antecedentes familiares, condições sócio-econômicas. Os pais das crianças com autismo também foram entrevistados quanto à data de início dos sintomas, momento em que os pais suspeitaram do diagnóstico e conhecimentos e crenças da causa do autismo.

            Os dados do diagnóstico do autismo e a história vacinal foram obtidos dos prontuários médicos.

            Os casos de autismo foram considerados vacinados se a vacinação precedeu o início dos sintomas, e os controles foram considerados vacinados se a vacinação foi anterior à idade do início dos sintomas dos casos em que foram pareados.

Foi utilizada análise de regressão logística para avaliar associação entre a vacina SCR e autismo.

O odds ratio foi calculado para criança vacinada versus não vacinada, vacinada apenas com sarampo versus não vacinada, vacinada com SCR versus não vacinada, e vacinada com SCR versus vacinada apenas com sarampo.

 

Resultados

O estudo avaliou 96 casos e 192 controles, com uma mediana de idade de 7,5 anos, sendo 91,2% meninos e 19,8% meninas.

A maioria das crianças (64,6% dos casos e 76,6% dos controles) foi vacinada entre 12 e 18 meses. A porcentagem de crianças não vacinada foi maior nos casos do que nos controles (p<0,001). A vacina SCR foi utilizada em 44% dos casos vacinados e 55% dos controles vacinados.

Para crianças vacinadas antes do diagnóstico, o risco de autismo foi menor no grupo vacinado com SCR do que naquele não vacinado (OR: 0,17; IC95%: 0,06–0,52), como também nos vacinados apenas com sarampo (OR: 0,44; IC95%: 0,22– 0,91).

O risco para vacinados versus não vacinados, independente do tipo de vacina, foi 0,28 (IC95%: 0,10–0,76).

 

Aplicações para a Prática Clínica

Desde o estudo de Wakefield2, publicado em 1998, propondo a associação entre autismo e vacina MMR, o tema passou a ser amplamente estudado e divulgado, com grandes debates, especialmente em alguns países europeus, chegando a diminuir a cobertura vacinal e fazer ressurgir casos de sarampo. No Brasil, apesar do impacto ter sido muito menor, muitos pacientes fazem este questionamento e mesmo alguns grupos ("ONGs", associações de pais e amigos de autistas, homeopatas radicais e moderados) recomendam que a vacina não seja feita. Já as sociedades médicas pediátricas e de imunizações defendem que não existe esta associação.

Recentemente a revista The Lancet publicou um editorial em que se retrata pela publicação do estudo de Wakefield em 1998, mostrando que o estudo apresentou sérios problemas metodológicos e éticos, além de dados falsos3. A revista retirou completamente o artigo de seus registros.

Inúmeros estudos sérios, publicados desde então, já mostraram que não existe relação entre a vacina SCR e o aumento da incidência de autismo. O autismo é uma doença neurológica cujo diagnóstico tem aumentado nos últimos anos, não por conta de maior incidência, mas porque os médicos e pais têm sido mais atentos, procurando sinais precoces. Muitas crianças que nunca seriam tidas como autistas passaram, nos últimos anos, a ganhar este diagnóstico. Outro fato importante é que o aumento de número de casos diagnosticados não aumentou após o início da aplicação mundial da vacina SCR.

Este é mais um estudo que nos traz evidência CONTRA a associação de autismo e vacina SCR ou apenas vacina contra o sarampo.

Na opinião destes editores, é fundamental ter em mente que não fazer a vacina SCR é um risco para toda a população, podendo haver o recrudescimento destas doenças. É importante que a classe médica esteja ciente destes artigos, podendo explicar aos pacientes que vários estudos demonstraram a eficácia e segurança da vacina SCR e que à luz do conhecimento atual não existe associação com autismo.

 

Bibliografia

1.     Mrozek-Budzyn D, Kieltyka A, Majewska R. Lack of association between measles-mumps-rubella vaccination and autism in children: a case-control study. Pediatr Infect Dis J. 2010; 29(5):397-400.

2.     Wakefield A, Murch S, Anthony A, et al. Ileal-lymphoid-nodular hyperplasia, non-specific colitis, and pervasive developmental disorder in children. Lancet. 1998; 351:637– 641.

  1. The Editors of The Lancet. Retraction—Ileal-lymphoid-nodular hyperplasia, non-specific colitis, and pervasive developmental disorder in children. Lancet. 2010; 375(9713):445.

 

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