Autores:
Ricardo Casalino Sanches de Moraes
Especialista em Cardiologia pelo Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP
Médico Colaborador do Grupo de Válvula do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP
Leonardo Vieira da Rosa
Médico Cardiologista pelo Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Médico Assistente da Unidade de Terapia Intensiva do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Doutorando em Cardiologia do InCor-HC-FMUSP. Médico Cardiologista da Unidade Coronariana do Hospital Sírio Libanês.
Última revisão: 04/07/2010
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Risco cardiovascular associado ao uso de anti-inflamatórios não hormonais em indivíduos saudáveis1
A segurança cardiovascular das medicações antiinflamatórias é motivo de preocupação na prática médica. Os primeiros relatos de associação dos AINES com complicações cardiovasculares foram com os inibidores seletivos da Cox-2. Esses achados confirmaram-se, posteriormente, em inúmeros estudos observacionais e meta-análises. A partir disso, essa associação vem sendo considerada um problema de saúde pública, visto o largo uso dos AINES pela população geral. Em alguns países, incluindo-se o Brasil, essas medicações podem ser compradas em supermercados, postos de gasolina e lojas de conveniência sem consentimento médico.
Foi analisada uma coorte dinamarquesa de pessoas saudáveis com mais de 10 anos de idade. Esta análise foi possível porque todos os moradores possuem um número pessoal único, o que permite a vinculação de registros administrativos ao nível individual. Os pesquisadores identificaram mais de 2,5 milhões de pessoas que utilizaram AINES, pelo menos uma única vez, entre
Durante o estudo foram contabilizadas 56.305 mortes, das quais 2204 em pacientes em uso de AINES. Foram avaliados os tipos de AINES e as respectivas doses em relação aos desfechos. Na primeira análise, os pacientes em uso de AINES foram controles de si mesmos (“case-crossover”). A utilização de ibuprofeno e diclofenaco associou-se com aumento significativo de morte coronariana, infarto do miocárdio (IAM) e acidente vascular cerebral. Em relação às duas medicações, os desfechos se correlacionaram com a dose.O rofecoxib associou-se com aumento significativo de morte cardiovascular e IAM, entretanto, não apresentou significância estatística em relação aos eventos cerebrovasculares. O colecoxibe esteve associado apenas com IAM. Já o naproxeno, obteve resultados neutros em relação aos desfechos do estudo, a única exceção foi uma tendência ao aumento de eventos cerebrovasculares.
Na análise seguinte, utilizando-se a metodologia de COX, os resultados foram semelhantes para ibuprofeno e diclofenaco. Entretanto desta vez, em doses baixas (ibuprofeno = 1200 e Diclofenaco = 100) demonstraram menor risco do que doses maiores (ibuprofeno > 1200 e diclofenaco >100). Os inibidores da COX-2 obtiveram resultados semelhantes, entretanto com doses menores (colecoxib = 200mg e rofecoxib = 25mg) estiveram associados com maior risco cardiovascular. O naproxeno associou-se a um efeito neutro, com tendência à diminuição do risco cardiovascular. O risco de sangramento foi maior com uso de todos anti-inflamatórios com exceção do colecoxib.
O estudo apresenta várias limitações e vieses de seleção (registro populacional com imenso número de pacientes incluídos). O principal viés foi a exclusão da análise dos pacientes que estivessem em uso de outras medicações (ex- anti-hipertensivos), e a não aferição de fatores de risco cardiovascular: níveis pressóricos, perfil lipídico, glicemia, tabagismo e história familiar de coronariopatia.
As diretrizes brasileiras de hipertensão arterial e insuficiência cardíaca enfatizam o efeito deletério dos AINES sobre o controle da pressão arterial e piora da insuficiência cardíaca. Com base nessa informação, para os pacientes com indicação de analgesia, principalmente os cardiopatas, devemos optar por drogas sem ação antiinflamatória (ex. paracetamol). Naqueles pacientes em que o uso de AINES é indispensável, a opção pelo naproxeno, por curtos períodos e doses mínimas eficazes (ex: Naproxeno <1000mg/dia), deve ser feita.
Um estudo prospectivo está em andamento para avaliar o perfil de segurança do ibuprofeno e naproxeno (Prospective Randomized Evaluation of Celecoxib Integrated Safety vs Ibuprofen and Naproxen (PRECISION).
1. Fosbøl EL, Folke F, Jacobsen S, et al. Cause-Specific Cardiovascular Risk Associated With Nonsteroidal Antiinflammatory Drugs Among Healthy Individuals. Circ Cardiovasc Qual Outcomes. 2010;3:00-00 – in press.
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