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Coleta de Hemoculturas com Luvas Estéreis e Taxas de Contaminação

Autor:

Antonio Paulo Nassar Junior

Especialista em Terapia Intensiva pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP). Médico Intensivista do Hospital São Camilo. Médico Pesquisador do HC-FMUSP.

Última revisão: 10/04/2011

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Coleta de Hemoculturas com Luvas Estéreis e Taxas de Contaminação1 [link para artigo original]

 

Fator de Impacto da Revista Ann Intern Med (JCR-2009): 16,225

 

Contexto Clínico

Hemoculturas são exames importantes no diagnóstico etiológico de quadros infecciosos graves. No entanto, sua taxa de falso-positivos não é desprezível devido à contaminação das amostras, o que pode levar a um uso maior de antibióticos e à coleta de novos exames. A coleta realizada com luvas estéreis pode, teoricamente, resolver esse problema, mas seu uso nunca foi avaliado em um estudo clínico.

 

O Estudo

Este estudo foi conduzido nas enfermarias de clínica médica e hematologia e na unidade de terapia intensiva de um hospital universitário sul-coreano. Neste hospital, a coleta de hemoculturas fica a cargo dos internos, como ocorre em alguns hospitais brasileiros. Os internos foram randomizados em dois grupos. O primeiro grupo foi randomizado para uma estratégia de coleta rotineira com luvas estéreis, seguida por um período opcional. O outro grupo seguiu o caminho inverso. Os dois grupos assistiram aulas e fizeram treinamento da coleta antes do estudo. A mudança da estratégia ocorria no 15º dia do mês, assim, um paciente poderia ter exames coletados com as duas estratégias dependendo dos dias. A pele dos pacientes era desinfetada com povidine aquoso a 10% e o rub do tubo de hemocultura era desinfetado com álcool a 70%.

As hemoculturas eram classificadas em positivas (crescimento de patógeno verdadeiro: bacilos gram-negativos, espécies de Pseudomonas, S. pyogenes, S. pneumoniae, espécies de Bacteroides e de Candida ou crescimento de organismo idêntico em outro sítio, associado ao quadro clínico do paciente), provavelmente contaminadas ou possivelmente contaminadas após a análise de três infectologistas que não estavam cientes da randomização. Contaminantes possíveis eram aqueles originados da flora de pele, incluindo espécies de Bacteroides, estafilococos coagulase-negativos, espécies de Corynebacterium, Enterococcus, Micrococcus, Propionibacterium, ou Streptococcus viridans. Possivelmente contaminadas foram definidas como as hemoculturas com crescimento de apenas uma amostra que não preencheram critério nem para provavelmente contaminadas nem para definitivamente positivas.

 

Resultados

Um total de 10.520 hemoculturas de 1.854 pacientes foram analisadas, 5.265 foram coletadas no período de luvas estéreis rotineiras e 5255 no período opcional. Quando se computou apenas as contaminações prováveis, estas foram de 0,5% no grupo de coleta rotineira com luvas estéreis e de 0,9% no grupo de coleta opcional com luvas estéreis (p=0,007). Quando se associaram os casos de contaminações possíveis, as taxas foram de 0,6 e 1,1%, respectivamente (p=0,009). As maiores diferenças aconteceram nas coletas realizadas na UTI. A aderência ao uso de luvas estéreis foi de 93,9% nas enfermarias gerais; 92,8% na enfermaria da hematologia e de 95,3% na UTI nos períodos de “uso rotineiro”. Nos períodos de “uso opcional”, as aderências foram de 7,8%; 8,0% e 2,3%, respectivamente.

 

Aplicações para a Prática Clínica

Neste estudo, o uso de luvas estéreis associou-se a uma redução de até 50% na taxa de contaminação das hemoculturas. No entanto, isto se refletiu em uma redução do risco absoluto de apenas 0,4-0,5%; o que dá um NNT de 200-250. A custo-efetividade desta intervenção deve, portanto, ser ponderada. Talvez esse NNT alto seja o reflexo de taxas já bastante baixas no grupo controle, o que pode ser resultado do processo de aprendizagem pelo qual os internos passam. Assim, esta intervenção poderia ser realizada em centros com taxas maiores, onde ela, provavelmente, seria mais eficaz. Além disso, não se sabe a eficácia desta intervenção quando se realiza a desinfecção da pele com clorexedina, sabidamente mais eficaz que o povidine.2

 

Referências

1.   Kim NH, Kim M, Lee S, Yun NR, Kim KH, Park SW, et al. Effect of routine sterile gloving on contamination rates in blood culture: a cluster randomized trial. Ann Intern Med. 2011 Feb 1;154(3):145-51.

2.   Mimoz O, Karim A, Mercat A, Cosseron M, Falissard B, Parker F, et al. Chlorhexidine compared with povidone-iodine as skin preparation before blood culture. A randomized, controlled trial. Ann Intern Med. 1999 Dec 7;131(11):834-7.

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