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Déficit auditivo e incidência de demência

Autor:

Leonardo da Costa Lopes

Especialista em Geriatria pela SBGG; Médico Colaborador do Serviço de Geriatria do HC-FMUSP; Médico Assistente da Divisão de Clínica Médica do HU-USP

Última revisão: 16/06/2011

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Déficit auditivo e incidência de demência1

 

Área de Atuação: Medicina Ambulatorial

 

Especialidades: Geriatria, Medicina de Família, Neurologia, Otorrinolaringologia

 

Contexto Clínico

A deficiência auditiva e cognitiva são condições clínicas muito prevalentes na população idosa e que se inter-relacionam. Como os tratamentos atualmente disponíveis para as diferentes formas de demência apresentam baixa eficácia, torna-se fundamental detectar outras comorbidades que possam agravar a perda cognitiva, tais como as perdas sensoriais. Há estudos indicativos de que indivíduos com perda auditiva têm mais chance de apresentar demência.2 Não há, entretanto, estudo que defina a associação entre a perda auditiva e sua gravidade com a incidência de demência.

 

O Estudo

Trata-se de um estudo de coorte cujo objetivo foi avaliar a associação entre perdas auditivas periféricas e a incidência de demência por todas as causas e por doença de Alzheimer (DA). Foi realizado um estudo prospectivo com 639 participantes, sem demência e submetidos a audiometrias entre 1990 e 1994 (Estudo BALS – Baltimore Longitudinal Study of Aging). A perda auditiva foi definida pela média dos limiares aditivos obtidos pela audiometria tonal nas frequências de 500, 1.000, 2.000 e 4.000 Hz (normais < 25 dB, perda leve: 25 a 40 dB, perda moderada: 41 a 70 dB, perda grave > 70 dB). Foram utilizados os dados da melhor orelha. O diagnóstico de demência foi feito com base nos critérios do DSM-IV.

O seguimento médio foi de 11,8 anos. As perdas auditivas mais graves foram detectadas nos homens mais idosos e hipertensos. Foram identificados 58 casos de demência, dos quais 37 eram de DA. O risco de incidência de demência por todas as causas aumentou linearmente com a gravidade da perda auditiva (HR 1,27 para cada perda de 10 dB; IC95% 1,06-1,50). Comparado com a audição normal, a razão de risco para demência foi de 1,89 (IC95% 1,00-3,58) para perdas auditivas leves; 3,0 (IC95% 1,43-6,30) para perdas moderadas e 4,94 (IC95% 1,09-22,40) para perdas graves. O risco de incidência por DA também aumentou com a perda auditiva. A taxa de aumento no limiar auditivo por ano foi cerca de 2 vezes superior nos casos incidentes de demência do que no restante da amostra. Os riscos foram ajustados para idade, gênero, raça, nível educacional, diabetes, tabagismo e hipertensão arterial.

 

Aplicações para a Prática Clínica

A perda auditiva está associada de forma independente à incidência de demência. Ainda há dúvida sobre se a perda auditiva é um marcador para demência ou um fator de risco modificável. Alguns trabalhos da literatura já estabeleceram uma forte correlação entre hipoacusia e fatores de risco cardiovasculares, que são fatores de risco tanto para DA quanto para demência vascular. Apesar da deficiência auditiva em idosos ser prevenível e tratável, sobretudo se diagnosticada precocemente, alguns estudos indicam que o tratamento com prótese auditiva não modifica o risco de evolução para demência.

Embora a correlação estabelecida neste trabalho tenha sida feita com perdas auditivas periféricas, diversos trabalhos da literatura têm encontrado relação entre perdas no processamento auditivo central (tronco cerebral e córtex auditivo) e DA, sugerindo-se uma mesma base neuropatológica para estes achados.

 

Bibliografia

1.     Lin FR, Metter EJ, O'Brien RJ, Resnick SM, Zonderman AB, Ferrucci L. Hearing loss and incident dementia. Arch Neurol. 2011 Feb; 68(2):214-20. (Fator de Impacto da Revista: 5.874)

2.     Ives DG, Bonino P, Traven ND, Kuller LH. Characteristics and comorbidities of rural older adults with hearing impairment. J Am Geriatr Soc. 1995 Jul; 43(7):803-6.

 

 

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