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Tabagismo e doença arterial periférica em mulheres

Autor:

Lucas Santos Zambon

Doutorado pela Disciplina de Emergências Clínicas Faculdade de Medicina da USP; Médico e Especialista em Clínica Médica pelo HC-FMUSP; Diretor Científico do Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente (IBSP); Membro da Academia Brasileira de Medicina Hospitalar (ABMH); Assessor da Diretoria Médica do Hospital Samaritano de São Paulo.

Última revisão: 27/10/2011

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Especialidades/ Área de atuação: Cirurgia Vascular / Clínica Geral

 

Resumo

Este estudo mostra qual a relação entre tabagismo e doença arterial periférica em mulheres, algo pouco estudado.

 

Contexto clínico

É muito conhecida a relação entre tabagismo e graves doenças arteriais, como o infarto agudo do miocárdio (IAM) e o acidente vascular cerebral (AVC). No entanto, existe pouca informação a respeito dessa relação quanto à doença arterial periférica (DAP), especialmente em mulheres. Vale lembrar que a prevalência de tabagismo é grande. Nos EUA, por exemplo, 18% das mulheres fumam. Já no Brasil, a prevalência de tabagismo é de 16,1%, sendo 20,5% no sexo masculino e 12,4% no sexo feminino.

 

O estudo

Este estudo é uma coorte prospectiva que acompanhou 39.825 mulheres norte-americanas sem doença cardiovascular por um tempo médio de quase 12 anos. O desfecho estudado foi o surgimento de DAP sintomática (definida como claudicação intermitente ou intervenção em território arterial periférico) em expostas e não expostas ao tabagismo.

Ocorreram 178 casos de DAP. A incidência de DAP para as 4 categorias estudadas (nunca fumou; tabagista eventual; tabagista < 15 cigarros/dia; tabagista = 15 cigarros/dia) foi respectivamente de 0,12; 0,34; 0,95 e de 1,63/1.000 pessoas-ano. Comparando com as mulheres que não fumavam, os riscos relativos (RR) para cada grupo de mulheres tabagistas foi de 3,14 (IC95% 2,01-4,90), 8,93 (IC95% 5,02-15,89) e de 16,95 (IC95% 10,77-26,67).

A exposição ao longo da vida também mostrou relação dose-resposta comparando as abstinentes com quem tinha uma exposição de menos de 10, 10 a 29 e 30 ou mais maços-ano. Para cada um desses três grupos, os riscos relativos foram de 2,52 (IC95% 1,49-4,25), 6,75 (IC95% 4,33-10,52) e de 11,09 (IC95% 6,94-17,72).

Comparado com as fumantes atuais, os riscos relativos para quem estava abstinente a menos de 10 anos, entre 10 e 20, mais de 20 anos ou por toda a vida, foram de 0,39 (IC95% 0,24-0,66), 0,28 (IC95% 0,17-0,46), 0,16 (IC95% 0,10-0,26) e 0,08 (IC95% 0,05-0,12), respectivamente.

A análise ajustada não mostrou diferença levando em conta outros fatores de risco tradicionais para DAP, nem com o uso de terapia hormonal.

 

Aplicações para a prática clínica

Esta análise confirma o que já era esperado. O tabagismo é fator de risco importante para doença arterial periférica em mulheres, assim como o é para os homens, e isso independe de outros fatores de risco tradicionais.

Interessante notar o nítido gradiente biológico tanto para a quantidade de cigarros fumados quanto para o tempo de exposição. Os riscos relativos só aumentam.

Por outro lado, um dado ainda mais interessante é que quanto maior o tempo de abstinência ao tabagismo da mulher, mais esse risco de DAP vai diminuindo, chegando próximo do risco de uma mulher que nunca fumou quando esta abstinência é maior que 20 anos.

Infelizmente, o desfecho do estudo só considerou DAP com manifestação clínica, não sendo incluídos os casos assintomáticos. Garantir essa informação seria complicado, pois seria necessário realizar um exame de imagem de membros inferiores para todas as mulheres seguidas no estudo, algo que levaria a altíssimos custos e que, com certeza, é impraticável. No entanto, os dados do estudo são contundentes por um lado, mas mostram esperança também para as pacientes que conseguem deixar o tabagismo, pelo menos do ponto de vista de doença arterial periférica.

 

Bibliografia

1.     Conen D, Everett BM, Kurth T, Creager MA, Buring JE, Ridker PM, et al. Smoking, smoking status, and risk for symptomatic peripheral artery disease in women: a cohort study. Ann Intern Med. 2011 Jun 7;154(11):719-26. [link para o artigo] (Fator de Impacto: 16,729).

2.     Malta DC, Moura EC, Silva SA, Oliveira PP, Silva VL. Prevalence of smoking among adults residing in the Federal District of Brasília and in the state capitals of Brazil, 2008. J Bras Pneumol. 2010 Feb;36(1):75-83.

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