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Ingestão de ácidos graxos saturados e insaturados trans e risco de mortalidade por qualquer causa doença cardiovascular e diabetes tipo 2

Autor:

Lucas Santos Zambon

Doutorado pela Disciplina de Emergências Clínicas Faculdade de Medicina da USP; Médico e Especialista em Clínica Médica pelo HC-FMUSP; Diretor Científico do Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente (IBSP); Membro da Academia Brasileira de Medicina Hospitalar (ABMH); Assessor da Diretoria Médica do Hospital Samaritano de São Paulo.

Última revisão: 22/02/2016

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Contexto Clínico

As gorduras saturadas contribuem com cerca de 10% da energia na dieta norte-americana. As principais fontes de ácidos graxos saturados nos alimentos são produtos de origem animal, como manteiga, leite de vaca, carne, salmão,  gemas de ovos, e alguns produtos vegetais como chocolate e manteiga de cacau, coco e óleos de amêndoa. Meta-análises anteriores relacionaram riscos com consumo de gordura saturada de 1,07 (IC95% 0,96-1,19; P = 0,22) para doença arterial coronariana (DAC), e 1,00 (0,89-1,11;. P = 0,95) para a doença cardiovascular (DCV), ou seja, dados aparentemente sem relevância. Uma meta-análise de estudos randomizados sugeriu uma redução de 17% no risco de DCV quando há redução da ingestão de gordura saturada de cerca de 17% para cerca de 9% da energia (0,83, 0,72 a 0,96).

Já as gorduras trans contribuem com cerca de 1-2% de energia na dieta do norte-americana e são produzidas industrialmente por meio de hidrogenação parcial de óleos vegetais líquidos na presença de um catalisador de metal, sob vácuo e calor elevado, ou pode ocorrer naturalmente na carne e produtos lácteos, de animais ruminantes. Os principais ácidos graxos trans produzidos industrialmente no fornecimento de alimentos são isômeros de ácido elaídico, e o ácido graxo trans de ruminantes é o ácido vacênico. Uma meta-análise prévia sugere que as gorduras trans produzidas industrialmente podem aumentar o risco de doença cardiovascular, embora isso também pudesse  refletir os baixos níveis de gorduras trans provenientes de ruminantes em comparação com as mais elevadas doses de gorduras trans produzidas de forma industrial  tipicamente disponível na oferta de alimentos.

Orientações dietéticas recomendam que as gorduras saturadas devem ser limitadas a <10% (5-6% para aqueles que precisam de redução do colesterol LDL), e ácidos graxos trans para <1% da energia ou tão baixa quanto possível, principalmente para reduzir o risco de doença isquêmica do coração e acidente vascular cerebral. Para esclarecer controvérsias em torno das diretrizes para consumo de gorduras saturadas e trans para adultos, foi realizado um estudo para sintetizar associações potenciais entre essas gorduras e mortalidade por qualquer causa e diabetes tipo 2.

 

O Estudo

Este é um estudo revisão sistemática e metanálise que tomou como fontes os dados de Medline, Embase, Cochrane Registry Central de Ensaios Controlados, Evidence-Based Medicine Reviews, e CINAHL até 1 de maio de 2015. Os critérios de elegibilidade para a seleção foram estudos observacionais sobre associações de gorduras saturadas e / ou trans insaturada (total, fabricado industrialmente, ou a partir de animais ruminantes) com todas as causas de mortalidade, mortalidade por doença arterial coronariana (DAC) e doença cardiovascular,  acidente vascular cerebral isquêmico, ou diabetes tipo 2.

A ingestão de gordura saturada não foi associada à mortalidade por todas as causas (risco relativo de 0,99, IC95%: 0,91-1,09), mortalidade por doença cerebrovascular (RR: 0,97, IC95%: 0,84-1,12), doença arterial coronariana (RR: 1,06, IC95%: 0,95-1,17), acidente vascular cerebral isquêmico (RR: 1,02, IC95%: 0,90 - 1,15), ou diabetes do tipo 2 (RR: 0,95, IC95%: 0,88 a 1,03). A ingestão total de gordura trans foi associada à mortalidade por todas as causas (RR: 1,34, IC95%:  1,16-1,56), mortalidade por doença cardíaca (RR: 1,28, IC95%: 1,09-1,50), mas não acidente vascular cerebral isquêmico (RR: 1,07, IC95%: 0,88-1,28) ou diabetes tipo 2 (RR: 1,10, IC95%: 0,95-1,27). Gorduras trans industrializadas, mas não de ruminantes, foram associadas à mortalidade por doença coronariana (RR: 1,18 (IC95%: 1,04-1,33) v RR: 1,01 (IC95%: 0,71-1,43) e com a própria doença coronariana (RR: 1,42 (IC95%: 1,05-1,92) v RR: 0,93 (IC95%: 0,73-1,18)). Gordura trans de ruminantes foi inversamente associada com diabetes tipo 2 (RR: 0,58, IC95%: 0,46-0,74).

 

Aplicações Práticas

As gorduras saturadas não são associadas à mortalidade por qualquer causa, diabetes, doença coronariana, doença cardiovascular, acidente vascular cerebral isquêmico, ou diabetes tipo 2, mas a evidência é heterogênea com limitações metodológicas. As gorduras trans estão associados com todas as causas de mortalidade, provavelmente por causa de altos níveis de ingestão de gorduras trans de origem industrial, e não por causa das gorduras trans de ruminantes. Orientações dietéticas devem considerar cuidadosamente os efeitos na saúde das  gorduras trans e das gorduras saturadas para fazer as recomendações aos pacientes.

 

Referências

De Souza RJ et al. Intake of saturated and trans unsaturated fatty acids and risk of all cause mortality, cardiovascular disease, and type 2 diabetes: systematic review and meta-analysis of observational studies. BMJ 2015;351:h3978.

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