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Impacto de alertas em prescrição eletrônica

Autor:

Lucas Santos Zambon

Doutorado pela Disciplina de Emergências Clínicas Faculdade de Medicina da USP; Médico e Especialista em Clínica Médica pelo HC-FMUSP; Diretor Científico do Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente (IBSP); Membro da Academia Brasileira de Medicina Hospitalar (ABMH); Assessor da Diretoria Médica do Hospital Samaritano de São Paulo.

Última revisão: 05/09/2009

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Impacto de Alertas em Prescrições Eletrônicas

 

Alertas Computadorizados Podem Influenciar a Prescrição de Medicamentos1.

 

Contexto Clínico

            Como já citado no MedicinaNet, eventos adversos relacionados a medicações estão entre as principais causas de danos aos pacientes internados (ver: medicações com maior potencial de dano ao paciente), sendo que na maior parte dos grandes estudos, esses eventos perdem em volume apenas para os eventos relacionados a cirurgias. Sendo assim, trabalhar em função da melhoria dos processos que envolvem medicações, com foco na segurança do paciente, deve ser prioridade em qualquer meio hospitalar.

            Dentre as fases do processo relacionado a medicamentos, há duas que impactam abusivamente como geradoras de eventos adversos, que são a fase de prescrição médica e a fase de administração de medicamentos. Especificamente em relação à prescrição médica, uma das formas de minimizar erros é utilizando prescrições eletrônicas. Em dois recentes estudos os autores abordam como alguns alertas emitidos pelo sistema de prescrição eletrônica podem impactar na decisão médica sobre drogas de risco. 

 

Os Estudos

            Um primeiro estudo foi realizado em um departamento de emergência de um hospital universitário de Indianápolis, que conta com um sistema computadorizado para as prescrições. Sessenta e três médicos de emergência foram randomizados para a intervenção (32 médicos) ou controle (31 médicos). A intervenção era um apoio à decisão de prescrição, através de alertas emitidos pelo sistema eletrônico que desaconselhavam o uso de nove medicamentos potencialmente inadequados para pacientes acima de 65 anos (por exemplo: prometazina, diazepam, propoxifeno, difenidramina), recomendando opções mais seguras como substituição. Apoio à decisão foi dado 114 vezes para os médicos de intervenção, que aceitaram 49 (43%) das recomendações. A razão mais comum para a rejeição de apoio à decisão foi a de que o paciente não teve problemas anteriores com a medicação. Durante os 2 anos de estudo, a proporção de pacientes mais velhos que receberam prescrições de medicamentos potencialmente inapropriados foi significativamente menor no grupo intervenção do que no grupo controle (2,6% vs 3,9%, P=0,02). A proporção de todos os medicamentos prescritos considerados inapropriados diminuiu de 5,4% para 3,4%.

            Em outra publicação, os investigadores de um grande grupo de Boston focaram seu estudo em quatro hipnóticos que tem fortes campanhas publicitárias para influenciar os médicos a usá-los (Ambien CR® - zolpidem, Sonata® - zaleplon, Lunesta® - eszopiclone e Rozerem® - ramelteon). Quatorze clínicas ambulatoriais foram randomizados para manter a prescrição usual, para receber avisos no sistema de prescrição eletrônica (aconselhando os clínicos a substituir qualquer um dos 4 medicamentos citados por zolpidem genérico ou trazodona), ou para receber os avisos eletrônicos associados a uma palestra educativa sobre manejo da insônia. Durante o ano de estudo, as taxas de prescrição para as quatro drogas citadas foram significativamente maiores no grupo controle do que nos grupos de intervenção (RR: 1,31 IC95% 1.08-1.60); comparado com o grupo controle, o risco relativo de prescrição de medicamentos largamente comercializados foi inferior tanto no grupo com os alertas eletrônicos (Ratio of Risk Ratio [RRR] 0,74; IC 95% 0.57-0.96) quanto no grupo de alertas eletrônicos associado à palestra educativa (RRR 0,74; IC 95% 0.58-0.97). A prescrição de medicamentos largamente comercializados foi semelhante no grupo de alerta eletrônico e no grupo do alerta associado à palestra (RRR 1,02 IC95% 0.80-1.29). A maioria dos médicos relatou que as indicações fornecidas foram úteis para a prescrição (88%) e que não interferiram com o fluxo de trabalho diário (70%).

 

Comentários

            O Dr. Allan S. Brett diz que “estes estudos indicam que alertas computadorizados podem influenciar a prescrição de medicamentos. No estudo de drogas hipnóticas, o objetivo era claramente limitar a prescrição de medicamentos de marcas caras. O estudo do departamento de emergência, no entanto, suscita interessantes questões conceituais sobre o que deve ser considerado "inadequado" em prescrição para pacientes geriátricos”.

            Este editor considera que a prescrição eletrônica, apesar de não ser perfeita, traz inúmeras vantagens de segurança no ato médico de prescrever. Sabidamente ela limita problemas de ilegibilidade, permitindo maior segurança quanto à prescrição de doses adequadas, posologias adequadas e vias de administração adequadas. Nestes estudos, que tem grandes limitações no que tange a mensuração de eventos adversos relacionados à mudança cultural trazida pelos alertas eletrônicos, abrem-se inúmeras possibilidades quanto à possibilidade de fazer com que a prescrição eletrônica traga apoio de decisão ao médico. Isso traria maior segurança para o próprio prescritor, que pode contar com alertas de risco, bem como sugestões de substituição que possam minimizar efeitos adversos, interações medicamentosas de risco, entre outras possibilidades. Ainda é necessário que sejam feitos estudos que mensurem a ocorrência de eventos adversos nessas novas circunstâncias para sedimentar essa prática. Para o médico, que não deve interpretar isso como um limitador de sua liberdade clínica, abre-se a possibilidade de uma atuação mais segura frente à grande gama de conhecimento de farmacologia que cresce em velocidade exponencial nos dias atuais. Obviamente, todo sistema de prescrição eletrônica parte de um investimento financeiro que não é irrisório, porém, os impactos em segurança, a economia em termos de tempo, papel e até mesmo em controles para o setor de farmácia hospitalar, compensam o investimento.

 

Bibliografia

1.     Allan S. Brett, MD. Computerized Alerts Can Influence Drug Prescribing. Journal Watch General Medicine Sep 3 2009. [Link para o Artigo].

2.     Terrell KM et al. Computerized decision support to reduce potentially inappropriate prescribing to older emergency department patients: A randomized, controlled trial. J Am Geriatr Soc 2009 Aug; 57:1388.

3.     Fortuna RJ et al. Reducing the prescribing of heavily marketed medications: A randomized controlled trial. J Gen Intern Med 2009 Aug; 24:897.

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