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Alimentação no 1º Ano de Vida

Autor:

Márcia Regina de Souza Amoroso Quedinho Paiva

Médica Assistente do Departamento de Pediatria e Puericultura da ISCMSP.

Última revisão: 21/02/2010

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INTRODUÇÃO

A nutrição adequada nos primeiros anos de vida irá repercutir em toda a vida e saúde do indivíduo. A criança pequena, devido a sua acentuada velocidade de crescimento, representa um dos grupos mais vulneráveis a erros e deficiências da alimentação, sobretudo durante o período do desmame e na vigência de processos infecciosos.

Considerando casos individuais, a introdução de alimentos complementares pode estar indicada caso a criança não esteja crescendo satisfatoriamente. Porém, deve-se ter cautela na utilização de curvas de crescimento e preconizar sempre uma avaliação crítica da evolução ponderal e do desenvolvimento da criança.

Para determinar a idade exata da introdução de novos alimentos, deve-se levar em conta que, se os alimentos complementares forem introduzidos tardiamente, já que o leite materno não supre mais as necessidades do bebê, pode ocorrer prejuízo no estado nutricional e deficiência da função imune.

O tempo ótimo de amamentação exclusiva é abordado em revisão da OMS em que Kramer e Kakuma discutem se a duração do aleitamento exclusivo está associada ao estado nutricional e à saúde da criança. A revisão conclui que não há motivo para se iniciar a introdução de alimentos complementares antes dos 6 meses, pois não foi encontrado aumento na prevalência de desnutrição em crianças amamentadas exclusivamente até esta idade e nenhum outro benefício foi demonstrado para a introdução de alimentação complementar entre 4 e 6 meses de idade.

 

HISTÓRICO

A idade de introdução de novos alimentos na dieta do bebê vem sendo estudada há muitas décadas. Em 1923, estudos demonstraram que a criança necessitava de outros alimentos, além do leite materno, para um crescimento adequado. Em 1937, recomendou-se a introdução de vegetais e frutas por volta dos 4 a 6 meses e em 1943, estudos indicavam a necessidade de introdução de sardinha, atum e camarão na 4ª semana de vida. Finalmente em 1958, a Academia Americana de Pediatria (AAP) recomendou a não introdução de sólidos antes dos 4 a 6 meses de vida.

A introdução de alimentos diferentes do leite materno era denominada “desmame”. Hoje, é preferível o termo “alimentação complementar”, pois desmame pode ser interpretado como a interrupção imediata do aleitamento materno, substituindo-o pelos “alimentos de desmame”, que, pelo mesmo motivo, são chamados hoje de “alimentos complementares”.

Segundo a OMS, o período de alimentação complementar é aquele durante o qual outros alimentos ou líquidos são oferecidos à criança juntamente com o leite materno.

 

ALEITAMENTO MATERNO (AM)

Ainda que não exista consenso científico quanto à idade apropriada para introdução de alimentos complementares, a OMS recomenda que o aleitamento materno (AM) exclusivo seja mantido até os 6 meses de idade, idade em que deve ser iniciada a introdução de alimentos complementares apropriados, seguros e nutricionalmente adequados, associados ao aleitamento materno que deve ser mantido até os 2 anos ou mais. No Brasil, o Ministério da Saúde endossa a recomendação da OMS quanto à idade de introdução de alimentos complementares.

A introdução de alimentos de transição antes dos 4 meses de idade pode interferir no estabelecimento de hábitos alimentares que, por sua vez, podem contribuir para superalimentação. Isso porque, antes desta idade, a criança não consegue expressar reações que indicam saciedade e recusa ao alimento, como fechar a boca e inclinar a cabeça para trás.

Durante os 6 primeiros meses de vida, a densidade calórica necessária do lactente é plenamente preenchida pelo AM exclusivo. O ganho ponderal médio estimado deve ser de 20 a 30 g/dia nos 3 meses iniciais. Ao final do 1º ano de vida, o lactente deve triplicar de peso e aumentar em 50% o seu comprimento em relação ao nascimento.

A grande maioria das mulheres apresenta quantidade de leite suficiente para amamentar seus filhos, e o lactente recebe todos os nutrientes que precisa, embora a mãe possa pensar que não produz leite em quantidade adequada. Há duas maneiras práticas para se avaliar a ingestão de leite. Uma é pelo ganho ponderal e a outra é pela eliminação da urina, que deve ser clara, transparente e deve haver, no mínimo, de 6 a 8 micções/dia.

Um aspecto a ser analisado em relação à amamentação exclusiva é o fornecimento ou não de água ao bebê, especialmente em locais de clima quente. Almroth, estudando a relação entre o peso da criança, a quantidade de água necessária e a proporção de água no leite materno, entre outras variáveis, concluiu que crianças em aleitamento materno exclusivo, mesmo em locais de clima quente, não precisam receber água adicional, e que seu fornecimento tem associação com aumento da incidência de diarreias. A água deve ser oferecida apenas para crianças com diarreia, vômitos ou febre, pois a excreção urinária diminui e o sistema renal tem sua capacidade prejudicada.

A partir dos 6 meses de vida, a oferta calórica do leite materno torna-se insuficiente para suprir o metabolismo da criança. Deve-se, portanto, orientar a necessidade de introduzir outros alimentos, os quais devem ser ricos em energia, proteínas, gorduras e micronutrientes, particularmente ferro, zinco, cálcio, vitaminas A e C e folatos. Além disso, o aleitamento materno oferece proteção efetiva a curto e longo prazo na prevenção de doenças.

Diversos pesquisadores têm apontado as vantagens anti-infecciosas, nutricionais e psicológicas do aleitamento materno para a criança.

 

FÓRMULAS INFANTIS (FI)

Nos casos em que seja necessária a complementação ou suplementação do leite materno, quando sua ingestão for inadequada ou as mães não queiram ou não possam amamentar, o recomendável é a introdução de outro leite adicional como complementação, sendo indicada a introdução das fórmulas infantis (FI), embora nenhuma possa preencher todos os requisitos do leite materno. Antes do 6º mês, deve-se utilizar uma fórmula de partida e, a partir do 6º mês, recomenda-se uma fórmula infantil de seguimento.

São, portanto, indicações para uso de fórmulas lácteas:

 

      substituição, no caso de mães que não querem ou não podem amamentar;

      suplementação, no caso de mães que não podem oferecer amamentações ocasionais;

      complementação, quando a produção de leite é comprovadamente insuficiente.

 

As FI utilizam o leite de vaca como base e, pela modificação de proteínas, sais minerais, adição de ferro e oligoelementos, procuram uma composição que se assemelhe à do leite materno.

Embora não tenha sido desenvolvida fórmula infantil que reproduza as propriedades imunológicas e a digestibilidade do leite materno, as fórmulas infantis passaram por muitas revisões e tornaram-se uma importante parte do regime alimentar dos lactentes em seu 1º ano de vida, contribuindo de maneira importante para atingir suas necessidades nutricionais.

As FI, reguladas por um código de composição rigoroso, denominado Codex Alimentarius FAO/OMS, são nutricionalmente equilibradas a fim de proporcionar crescimento e desenvolvimento adequados aos lactentes sadios.

Na elaboração das FI, com o objetivo de melhorar a digestibilidade, há uma retirada parcial ou total da gordura do leite de vaca, onde predominam os ácidos graxos saturados, acrescentando-se óleo vegetal rico em ácidos graxos poli-insaturados, principalmente o ácido linoleico, que desempenha papel importante no processo de crescimento e desenvolvimento de crianças nesta faixa etária.

As FI podem receber adição de carboidratos, ferro, vitaminas, lecitina ou terem os seus teores de gorduras reduzidos. Ficando praticamente estéreis, passam a conter glóbulos de gordura menores e caseína em finos flocos, o que acelera o esvaziamento gástrico e melhora sua digestibilidade.

 

Características Gerais das FI

      Gordura: há redução da quantidade de gordura animal saturada e acréscimo de óleos vegetais (gorduras poli-insaturadas de melhor qualidade), como também o acréscimo de ácidos graxos essenciais (linoleico e alfalinoleico).

      Carboidratos: as fórmulas contêm lactose exclusiva ou associação de lactose com polímeros de glicose (maltodextrinas), não necessitando, portanto, de adição de açúcar ou farinha.

      Proteínas: há quantidade adequada de proteína com desnaturação proteica (quebra da caseína em cadeias menores, formando proteínas solúveis e favorecendo a digestão e a absorção), além de melhor relação proteína do soro/caseína.

      Minerais: há modificação nos teores dos minerais tentando aproximar os seus teores aos do leite materno. A relação cálcio/fósforo é adequada, favorecendo a mineralização óssea.

      Oligoelementos (vitaminas e microminerais): atendem às necessidades básicas da criança sadia.

 

Para as crianças em uso de FI modificadas, a introdução de alimentos não lácteos poderá seguir a mesma prescrição para crianças em aleitamento materno exclusivo (a partir dos 6 meses).

Algumas recomendações devem ser seguidas no preparo da mamadeira para evitar a sua contaminação: a água tem que ser bem fervida, o leite não pode estar contaminado, as mamadeiras devem ser esterilizadas e isoladas do ambiente e o manipulador deve ter as unhas curtas, os cabelos presos e lavar bem as mãos e o antebraço. Outro cuidado é o oferecimento do leite logo após seu preparo. Antes de ser servido, observar se o leite está em temperatura adequada para o bebê, que é, preferencialmente, a temperatura ambiente.

Ao ser alimentada com a mamadeira, a criança deve ser segurada no colo, ter a cabeça apoiada no braço do amamentador e a mamadeira deve ser mantida sempre inclinada, a fim de evitar o acúmulo de ar no bico e futuro desconforto para o bebê. O bico da mamadeira deve ter o furo com tamanho suficiente para que o leite goteje e, de certa forma, permita que o lactente se esforce um pouco para recebê-lo, estimulando a sucção.

Após a mamada, a criança deve ser colocada em posição vertical, para permitir a eructação sem, no entanto, haver a necessidade de sacudi-la.

A mamadeira noturna não é indicada, pois está relacionada com a formação de cáries e maior chance de refluxo.

 

USO DO LEITE DE VACA (LV)

Classicamente utilizado para substituir ou complementar o leite materno (LM), o leite de vaca (LV) é um alimento de alto valor biológico que, para ser apropriadamente metabolizado pelo lactente, adequar-se à sua capacidade digestiva e às suas necessidades nutricionais, deve sofrer algumas modificações.

Deve-se enfatizar que o uso do LV integral no 1º ano de vida, mesmo que diluído, é um dos mais sérios erros alimentares nesta idade. Isto porque o consumo de tal alimento constitui um fator de risco para anemia ferropriva, tanto por conter pouca quantidade e baixa biodisponibilidade de ferro, como por ocasionar perda de sangue pelas fezes. Fomon et al., em 1981, mostraram que, entre crianças saudáveis, a presença de sangue nas fezes ocorria em 9% das que recebiam fórmulas, contra 39% das que recebiam LV pasteurizado. Estudo de Ziegler et al. em 1999 mostrou a relação entre consumo de LV e perda de sangue pelo trato gastrintestinal de crianças saudáveis com idades entre 7 e 12 meses. Os autores concluíram que, ao completar 1 ano de idade, a perda de sangue desaparece, indicando que o trato gastrintestinal de crianças saudáveis gradualmente perde sua sensibilidade à proteína do LV.

Além disso, a própria composição do LV, com excessivo conteúdo de cálcio e fósforo e baixa quantidade de vitaminas C, D e E, contribui para reduzir ainda mais a biodisponibilidade do ferro proveniente de outras fontes alimentares.

Com a diluição e o processo térmico, a maioria destas vitaminas, assim como outras do complexo B, presentes em quantidades adequadas no leite in natura, é destruída, tornando este leite deficiente em relação a elas.

Além de estar relacionado ao aparecimento de anemia ferropriva e deficiências vitamínicas, o LV pode propiciar distúrbios hidroeletrolíticos e sobrecarga renal de solutos, devido ao elevado teor de eletrólitos e proteínas. O rim e o sistema digestivo da criança pequena são imaturos, o que os torna incapazes de lidar com alguns metabólitos de alimentos diferentes do leite humano. Bebês alimentados com LV não processado ingerem quantidades elevadas de sódio, potássio, cloretos e proteínas, elevando sua osmolaridade. Estudos demonstram que esta alta carga de solutos renais contida no LV não é diluída por outros alimentos consumidos na dieta normal, podendo acarretar sobrecarga renal e, em situações como a diarreia aguda infecciosa, tão comum em nosso meio, induzir à desidratação grave.

Por apresentar alto teor proteico, com predomínio da caseína, ao coagular-se, o LV integral forma coalhos consistentes e grosseiros que dificultam a ação de enzimas, tornando-o menos digestivo. As porções proteicas lactoalbumina e lactoglobulina são responsáveis pela sensibilização e por reações alérgicas dos lactentes, por expô-los à presença de proteínas heterólogas.

Comparado ao LM, o LV integral tem menor valor calórico, menor concentração de lactose e menor teor de gorduras, com predomínio de ácidos graxos saturados que contribuem para o retardo do esvaziamento gástrico.

 

Características Gerais do LV (In Natura, Integral, Pó ou Fluido)

      Gorduras: contém baixos teores de ácido linoleico (10 vezes inferior às fórmulas), sendo necessário o acréscimo de óleos vegetais (gorduras poli-insaturadas de melhor qualidade) para o atendimento das necessidades do recém-nascido.

      Carboidratos: a sua quantidade é insuficiente, sendo necessário o acréscimo de outros açúcares, frequentemente mais danosos à saúde, como a sacarose, com elevado poder cariogênico.

      Proteínas: fornece altas taxas, com consequente elevação da carga renal de solutos. Apresenta relação caseína/proteínas do soro inadequada, comprometendo a digestibilidade.

      Minerais e eletrólitos: fornece altas taxas de sódio, contribuindo para a elevação da carga renal de solutos, deletéria principalmente para os recém-nascidos de baixo peso.

      Vitaminas: baixos níveis de vitaminas C, D e E.

      Oligoelementos: são fornecidas quantidades insuficientes, com baixa biodisponibilidade de todos os oligoelementos, salientando-se o ferro e o zinco.

 

A alegação de que o LV integral representa menor custo para as famílias não torna lícita nem ética a sua prescrição, sabidamente imprópria. Sua utilização pelo lactente, mesmo que diluído, é um dos mais sérios erros alimentares.

Finalmente, seu uso leva a uma maior predisposição para obesidade, aterosclerose, dor abdominal recorrente e catarata. A partir de tais evidências, não se recomenda a utilização do LV integral, líquido ou em pó, nem mesmo em suas preparações diluídas, na alimentação da criança durante o 1º ano de vida.

 

INTRODUÇÃO DE OUTROS ALIMENTOS

A partir dos 6 meses, o uso exclusivo de leite materno (LM) não supre todas as necessidades nutricionais da criança, sendo necessária a introdução de alimentos complementares. Também é a partir dessa idade que a maioria das crianças atinge estágio de desenvolvimento geral e neurológico (mastigação, deglutição, digestão e excreção), que as habilitam a receber outros alimentos além do LM.

O leite representa uma importante parcela da ingestão calórica total de alimentos no 1º ano de vida. Aos 6 meses de idade, aproximadamente 75% da ingestão calórica do lactente deriva do leite. Aos 12 meses, a alimentação láctea corresponde a somente 35% da ingestão calórica total e a maior parte do restante deriva de alimentos complementares sólidos não lácteos, prontos ou preparados em casa.

No início da alimentação complementar, a criança deve receber alimentos adequados. Deve-se procurar oferecer alimentos de qualidade, baixo custo, fácil aquisição, maior disponibilidade local e já de uso habitual em suas regiões e cujo preparo seja livre de contaminação.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) determina que, para crianças menores de 2 anos em países em desenvolvimento, com uma ingesta média de leite materno, os alimentos complementares devem suprir aproximadamente 200 kcal/dia dos 6 aos 8 meses, 300 kcal dos 9 aos 11 meses de idade e 550 kcal dos 12 aos 23 meses. Esta oferta alimentar deve ser fracionada e variada. A proporção ideal entre os componentes da dieta deve ser:

 

      40 a 50% de hidratos de carbono;

      30 a 40% de lipídios;

      10 a 20% de proteínas.

 

Os primeiros alimentos a serem oferecidos durante a alimentação complementar devem ser os sucos e/ou papinhas de frutas. Recomenda-se que sejam oferecidos à criança pela manhã, no intervalo entre duas mamadas. O ideal é começar com uma fruta por vez para que possíveis reações aos alimentos possam ser observadas e para que o paladar da criança seja testado. Logo após a introdução do suco, devem-se introduzir as papas de frutas amassadas, sob a forma de purê ou raspadas com a colher.

As frutas utilizadas para sucos e papas devem ser frutas da estação, doces, sem adição de açúcar e observando-se a disponibilidade da região e o custo, dependendo da situação socioeconômica da família.

Posteriormente à aceitação da papinha e do suco de frutas, devem ser introduzidas as papas salgadas, inicialmente na hora do almoço e posteriormente no jantar. A primeira papa salgada deve ser oferecida entre o 6º e o 7º meses de vida, podendo ser utilizados os mesmos alimentos da família, desde que adequados às características do lactente, completando-se a refeição com a amamentação, enquanto não houver boa aceitação.

Os alimentos devem estar sempre bem cozidos e devem ser amassados com o garfo, sem peneirar nem liquefazer. É necessário lembrar que a introdução de alimentos complementares deve ser gradual, sob a forma de papas e oferecidos com a colher.

A cada 3 ou 4 dias, deve-se acrescentar um novo alimento e observar as reações da criança. Recomenda-se que os alimentos sejam oferecidos separadamente, para que a criança identifique os vários sabores e, desta forma, os aceite.

Não se deve acrescentar açúcar ou leite nas papas para melhorar a sua aceitação, pois podem prejudicar a adaptação da criança às modificações de sabor e à consistência das dietas. A exposição frequente a um determinado alimento facilita a sua aceitação. Em média, são necessárias de 8 a 10 exposições ao alimento para que ele seja aceito pela criança.

Vale lembrar que o suco ou a papinha de frutas não substitui uma refeição salgada ou de leite materno, pois não têm o mesmo valor calórico. É importante oferecer água potável à criança, porque os alimentos oferecidos ao lactente apresentam maior sobrecarga de solutos para os rins.

Os alimentos necessários em cada refeição de sal estão listados na Tabela 1.

 

Tabela 1: Alimentos necessários em cada refeição salgada

Grupo 1

Uma fonte proteica: carne magra de frango ou boi, miúdos, gema de ovo, fígado, peixe (pode ser introduzido mais tarde).

Grupo 2

Uma fonte de cereal: arroz ou milho

Grupo 3

2 a 3 tipos de verduras, legumes ou tubérculos: quiabo, beterraba, couve-flor, brócolis, couve, repolho, abóbora, abobrinha, batata, chuchu, banana-da-terra, batata-doce, aipim, inhame e outros, a depender da área.

Grupo 4

Uma fonte de leguminosa: feijão, soja, lentilha, grão de bico, feijão verde, ervilha.

Grupo 5

Óleo: milho, canola, girassol ou azeite doce.

 

O óleo deve ser usado preferencialmente cru, após o cozimento dos alimentos, na quantidade de 5 a 10 mL (uma colher de sobremesa) para cada refeição.

De forma geral, não há restrições quanto à introdução dos alimentos. Estes, no entanto, devem ser frescos e de fonte confiável, as verduras, os legumes e as frutas devem ser bem lavados e deve haver cuidados com a higiene tanto na aquisição quanto no armazenamento, preparo e oferta à criança, a fim de evitar contaminação e o desencadeamento de doenças. Deve-se evitar o uso de alimentos industrializados e também os potencialmente alergênicos. Deve-se retardar a introdução de trigo, aveia, cevada e centeio na dieta. Por volta dos 12 meses, a criança poderá receber refeição semelhante à dieta habitual da família, porém modificada progressivamente em relação a consistência, uso de temperos e condimentos.

É fundamental que não se alimente a criança enquanto ela estiver dormindo nem que ela seja despertada para ser alimentada. Os horários das refeições devem ser transformados em momentos agradáveis, respeitando-se o apetite e o gosto da criança, assim como os períodos de erupção dentária e de infecções, que podem alterar a disposição para a alimentação.

Devem-se evitar alimentos industrializados (refrigerantes, café, chás, embutidos etc.). Não utilizar mel no 1º ano de vida, pelo risco de botulismo.

No lactente alimentado artificialmente, o suco ou a papinha de frutas e a primeira sopinha devem ser introduzidos mais precocemente.

 

NEOFOBIA ALIMENTAR: MEDO FACE AOS NOVOS ALIMENTOS

Normalmente, a criança escolhe e ingere alimentos que ela já conhece e pelo “sabor” agradável que ela sente ao comer. Este “sabor” compreende o conjunto de sensações (odor, gosto etc.) sentido pela criança quando ela ingere um alimento específico.

Sabe-se que a maior parte das preferências alimentares é adquirida. A exposição inicial ao sabor dos alimentos é um importante fator na determinação das preferências alimentares da criança, em idades mais avançadas.

As primeiras experiências em termos de sabor alimentar são vividas pela criança antes mesmo do seu nascimento, por meio do líquido amniótico. Durante a gestação, os sabores alimentares presentes na dieta materna são transmitidos ao líquido amniótico e ingeridos pelo feto. Após o nascimento, o bebê continua a receber os sabores alimentares presentes na dieta materna, neste momento veiculados pelo leite materno. O leite materno oferece ao lactente uma grande diversidade de sabores. Cada tipo de alimento que a mãe ingere oferece um sabor específico ao seu leite. Isto não ocorre com as fórmulas infantis, pois apresentam sempre o mesmo sabor e textura, do início ao fim da mamada.

A exposição do lactente a novos sabores facilita a aceitação posterior de novos alimentos. Grande parte das crianças apresenta, naturalmente, um certo grau de neofobia alimentar (eles não querem comer alimentos novos) durante um determinado período de sua vida. A literatura disponível mostra que este período ocorre, normalmente, em torno dos 2 ou 3 anos de idade. Além dos novos sabores, os lactentes estranham as texturas dos alimentos desconhecidos.

A melhor forma de “curar” a neofobia consiste em oferecer repetidamente o novo alimento. Em geral, indica-se oferecer cada novo alimento separadamente, por vários dias consecutivos, até que a criança tenha aceitado seu gosto e sua textura. Após este período, outro alimento pode ser oferecido da mesma maneira. Oferecer novos alimentos acompanhados de alimentos já apreciados pela criança pode facilitar a aceitação.

Antes que um novo alimento seja completamente aceito, é necessário oferecê-lo entre 10 a 15 vezes à criança. Outra ideia é começar a introdução dos alimentos sólidos pelas frutas com sabor adocicado.

Os pais não devem desistir de oferecer um novo alimento cada vez que a criança recusar. É importante que eles saibam que a neofobia alimentar é um fenômeno natural e que a maior parte das crianças apresenta este temor frente aos novos alimentos oferecidos.

 

SUPLEMENTAÇÃO DE VITAMINAS E FERRO

Vitaminas

A maior parte das vitaminas não é sintetizada pelo organismo, sendo necessário ingeri-las na alimentação. Nos casos em que a alimentação é deficiente, a vitamina deve ser reposta sob a forma de medicamentos, principalmente nos primeiros anos de vida.

 

Vitamina K

Deve ser dada ao nascimento, na dose de 0,5 a 1 mg, por via IM, para prevenir a doença hemorrágica.

 

Vitamina D

Está presente no leite materno em cerca de 25 UI/L, dependendo do status materno de vitamina.

O Departamento de Nutrologia da SBP preconiza que não há necessidade de suplementação de vitamina D para lactentes em aleitamento materno com exposição regular ao sol e lactentes que recebem 500 mL/dia de fórmula infantil. Nas demais situações, recomenda-se a ingestão de 200 UI/dia de vitamina D até 18 meses.

São fatores de risco para deficiência de vitamina D: deficiência materna durante a gravidez, não exposição ao sol, viver em altas latitudes, viver em áreas urbanas com prédios e/ou poluição que bloqueiam a luz solar, pigmentação cutânea escura, uso de protetor solar, variações sazonais, cobrir todo o corpo ou uso de alguns anticonvulsivantes.

É recomendada a exposição direta da pele à luz solar a partir da 2ª semana de vida, sendo suficiente a quota semanal de 30 minutos com a criança usando apenas fraldas (6 a 8 minutos/dia, 3 vezes/semana), ou de 2 horas/semana em exposição parcial (17 minutos/dia) com exposição apenas da face e mãos da criança.

 

Vitamina A

Sua concentração no leite materno varia com a dieta da mãe. Em regiões com alta prevalência de deficiência, a OMS, o Ministério da Saúde e a SBP preconizam esquema de suplementação medicamentosa a cada 4 a 6 meses, da seguinte forma:

 

      crianças < 6 meses e que são amamentadas: 50.000 UI;

      crianças de 6 a 12 meses: 100.000 UI;

      crianças de 12 a 72 meses: 200.000 UI.

 

Ferro

O Departamento de Nutrologia da SBP recomenda suplementação de ferro em:

 

1.    Lactentes nascidos a termo, de peso adequado para a idade gestacional, a partir da introdução de alimentos complementares, na dose de 1 mg de ferro elementar/kg de peso/dia até 2 anos de idade ou 25 mg de ferro elementar/semana até 18 meses de idade (recomendação do Programa Nacional de Combate à Anemia Carencial do Ministério da Saúde).

2.    Prematuros > 1.500 g e RN de baixo peso, a partir do 30º dia de vida, na dose de 2 mg de ferro elementar/kg de peso/dia durante todo o 1º ano de vida e 1 mg/kg/dia até 2 anos de idade.

3.    A suplementação de ferro não está indicada em: lactentes nascidos a termo, de peso adequado para a idade gestacional, em aleitamento materno exclusivo até 6 meses de idade e para aqueles lactentes nascidos a termo, de peso adequado para a idade gestacional, em uso de fórmula infantil até 6 meses de idade e a partir do 6º mês, se houver ingestão mínima de 500 mL de fórmula/dia.

4.    Para RN de extremo baixo peso (PN), o Comitê de Nutrição da AAP recomenda, no 1º ano de vida, doses mais elevadas de ferro: PN < 1.000 g, dar 4 mg/kg/dia de ferro elementar; PN entre 1.000 e 1.500 g, a dose recomendada é de: 3 mg de ferro elementar/kg/dia.

 

TÓPICOS IMPORTANTES

São estratégias recomendadas para uma alimentação saudável nos primeiros anos de vida, segundo o Ministério da Saúde, a OPAS e a SBP:

 

      Manter o aleitamento materno (AM) exclusivo nos primeiros 6 meses, sem oferecer água, chá ou qualquer outro tipo de alimento.

      Utilizar fórmula infantil (FI) na impossibilidade de manutenção do aleitamento materno (AM).

      Não utilizar leite de vaca (LV) integral não modificado (forma fluida ou pó) no 1º ano de vida.

      Após 6 meses, introduzir outros alimentos de forma lenta e gradual, mantendo o aleitamento materno até os 2 anos de idade ou mais.

      Após 6 meses, oferecer alimentos complementares, compondo um cardápio colorido, equilibrado e balanceado (cereais, tubérculos, carnes, leguminosas, frutas e verduras).

      Estimular o consumo diário de água potável, frutas, verduras e legumes nas refeições.

      Incentivar o consumo diário de fontes de ferro e zinco de alta biodisponibilidade (carnes e/ou vísceras). A partir dos 6 meses, 90% do ferro e 80% do zinco ingeridos devem vir da alimentação complementar.

      Introduzir sucos naturais apenas a partir do 6º mês e limitar a ingestão a não mais de 110 a 150 mL/dia, administrado somente em copos ou xícaras.

      Evitar açúcar, café, enlatados, frituras, embutidos, condimentos industrializados, refrigerantes, refrescos artificiais, balas e salgadinhos nos primeiros meses de vida. Utilizar baixa adição de sal.

      Ficar atento a sinais de saciedade da criança e não superalimentar: lactentes e crianças jovens têm capacidade de autorregular a ingestão de alimentos. Não forçar a criança a terminar a refeição se ela não está com fome, uma vez que o consumo pode variar de refeição para refeição.

      Introduzir alimentos saudáveis e continuar oferecendo se houver recusa inicial. Não oferecer alimentos simplesmente para prover calorias, sem outros benefícios adicionais.

      Estimular hábitos alimentares e estilo de vida adequados para toda a família.

      No 2º ano de vida, estimular o consumo de leite (500 mL/dia) e derivados, visando à boa oferta de cálcio.

      Administrar vitamina K a todo RN ao nascimento, na dose de 0,5 a 1 mg IM.

      Administrar 200 UI/dia de vitamina D a todos os lactentes que recebem leite materno ou menos de 500 mL de fórmula infantil e que não tenham exposição ao sol.

      Administrar vitamina A nas regiões de alta prevalência de hipovitaminose A, a cada 4 a 6 meses.

      Administrar sulfato ferroso para todo lactente nascido a termo que não estiver em aleitamento materno exclusivo ou em uso de fórmula infantil fortificada, na dose de 1 mg/kg/dia até os 2 anos de idade. Para os prematuros (com peso < 1.500 g) ou de baixo peso, administrar a partir do 30º dia de vida, na dose de 2 mg/kg/dia no 1º ano, seguido por 1 mg/kg/dia até 2 anos de idade.

 

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