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Índice

Dor Mamária e Secreção Mamária

Autores:

Guilherme Novita Garcia

Especialista em Ginecologia pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP).
Especialista em mastologia pela Faculdade de Medicina da USP

Angelo Gustavo Zucca Matthes

Mastologista. Fellow da Divisão de Cirurgia Plástica e Reconstrutiva do Instituto Europeu de Oncologia (Milão-Itália)

Fabrício Palermo Brenelli

Mastologista. Fellow da Divisão de Senologia do Instituto Europeu de Oncologia (Milão-Itália)

Luiz Carlos Batista do Prado

Médico Assistente Doutor da Disciplina de Ginecologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP

Última revisão: 09/05/2010

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DOR MAMÁRIA

A dor mamária em mulheres é o principal motivo de consultas ao mastologista. A mastalgia, ou mastodínea, acomete 60 a 70% das mulheres, principalmente na idade reprodutiva. O impacto da dor mamária no cotidiano não deve ser subestimado. Acredita-se que pelo menos 30% das mulheres na pré-menopausa apresentem mastalgia por pelo menos 5 dias/mês, com potencial para interferir diretamente com suas vidas profissionais, sociais e conjugais.

 

Etiologia e Fisiopatologia

A causa da dor mamária é desconhecida. A maior incidência em mulheres na idade reprodutiva e a alta relação com o ciclo menstrual sugerem etiologia hormonal, principalmente relacionada ao estrogênio. No entanto, os níveis hormonais sexuais femininos não se encontram alterados e os sintomas também podem aparecer após a menopausa. Também não existem alterações histológicas relacionadas com a mastalgia. Embora as alterações fibrocísticas estejam presentes em algumas mulheres com mastalgia, já foi demonstrado que pacientes assintomáticas também podem apresentar essa característica.

O componente psicológico da mastalgia deve sempre ser considerado. Algumas situações de estresse podem favorecer o aparecimento dos sintomas (p.ex., câncer de mama em pessoas próximas ou até a alta exposição desse câncer nos veículos de mídia). No entanto, não se deve considerar a dor mamária como um problema apenas de ordem emocional.

O câncer de mama raramente está associado à mastalgia como único sintoma (0,8 a 2% dos casos). Quando presente, em geral aparece como dor acíclica e focal.

 

Achados Clínicos

História Clínica

A abordagem da paciente com mastalgia requer a pesquisa da história clínica da dor, incluindo início, duração, local, intensidade, fatores de melhora e piora, irradiações, relação com o ciclo menstrual e o impacto na vida da paciente. Sempre abordar o passado clínico e cirúrgico da paciente e investigar o risco de câncer familiar, principalmente o de mama e de ovário.

A dor mamária pode se apresentar de forma cíclica ou acíclica, generalizada ou localizada. Apesar de a dor constante e localizada sugerir doença, essa hipótese nem sempre é verdadeira. Nenhuma das formas de mastalgia pode ser considerada indicativa de uma doença histopatológica.

Informação importante a ser obtida da paciente é o número de dias por mês e a intensidade da dor mamária. Gráficos de dor a serem preenchidos diariamente pela paciente podem dar uma informação precisa da dor. Análise subjetiva de intensidade pode ser realizada por meio do questionamento do número de dias de trabalho ou estudo perdidos mensalmente. A forma grave da doença pode ser considerada aquela que se prolonga por mais de 6 meses com dor severa em 7 ou mais dias do mês.

Outro ponto que merece ressalva é a investigação clínica da localização da dor. Sintomas de dor torácica relacionados a problemas osteomusculares, vasculares ou até cardíacos podem se confundir com mastalgia. Caracterizar a piora da intensidade da dor com a movimentação do tórax, respiração ou algum outro sintoma concomitante (p.ex., dispneia, febre etc.). A história recente de traumatismos mamários ou torácicos também deve ser caracterizada.

O uso de medicação hormonal deve sempre ser questionado. O uso de anticoncepcionais de estrogênio e progesterona pode aumentar a sensibilidade dolorosa da mama. A terapia hormonal na pós-menopausa também pode causar o aparecimento desse sintoma e favorecer a persistência dessa dor em 30% dos casos.

A anamnese deve incluir avaliação psicológica sucinta, principalmente do estado de humor e da presença de dores de origem psicossomática. A ingestão de medicamentos ou estimulantes também deve ser questionada.

 

Exame Físico

O exame clínico das mamas consiste da inspeção estática e dinâmica, seguidas da palpação e expressão papilar, para avaliação de eventuais fluxos pelo complexo areolomamilar, e, por fim, da palpação linfonodal das axilas e fossas supra e infraclaviculares. A parede torácica deve ser examinada cuidadosamente para que sejam excluídas causas extramamárias. A palpação dos arcos costais e suas articulações é fundamental para o diagnóstico de osteocondrite.

Raramente, a mastalgia focal pode ser sintoma de carcinoma mamário, devendo direcionar esclarecimento complementar.

 

Exames Complementares

Os exames de imagem são peças fundamentais na avaliação das doenças mamárias pelo especialista. A mamografia anual está indicada a todas as pacientes de baixo risco para câncer de mama e com mais de 40 anos de idade. O primeiro exame pode ser realizado a partir dos 35 anos. Nas pacientes com alto risco para câncer de mama ou com alguma alteração clínica ou mamográfica, a ultrassonografia mamária ou até a ressonância magnética pode ser usada como método complementar, mesmo em mulheres mais jovens. A punção biópsia por agulha deve ser realizada na presença de quaisquer alterações clínicas ou radiológicas suspeitas. Pode ser feita por agulha fina (exame citológico) ou grossa (exame histológico). O exame citológico é menos invasivo, porém mais limitado, não conseguindo diferenciar lesões invasivas das intraductais. A biópsia é etapa importante no diagnóstico da maioria das doenças mamárias, chegando a ser até curativa, como no caso de cistos dolorosos.

Quando há suspeita de que a dor não se localiza na glândula, mas sim numa região extramamária, outros exames podem ser indicados, tais como radiografiatorácica, eletrocardiograma, enzimas cardíacas etc.

 

Diagnósticos Diferenciais

Vários são os diagnósticos diferenciais que podem ser considerados em relação à mastalgia, principalmente aquela sem associação com o ciclo menstrual. Na Tabela 1, são citados os principais diagnósticos diferenciais, suas etiologias e sintomas:

 

Tabela 1: Diagnósticos diferenciais de dor mamária

Diagnóstico

Etiologia

Sintoma

Osteocondrite (síndrome de Tietze)

Inflamação das cartilagens costocondrais

Palpação digital dolorosa dos espaços intercondrais justapostos ao esterno

Tromboflebite (síndrome de Mondor)

Tromboflebite superficial da mama

Dor localizada, podendo estar presentes sinais de congestão vascular localizados

Nevralgia (herpes zóster)

Inflamação dos nervos intercostais

Acometimento de um dermátomo, altamente doloroso.

Tumorações mamárias

Desde cistos até neoplasias malignas

Tumoração palpável ou não palpável

 

Raramente, outras doenças podem se manifestar por meio de dor irradiada para a mama, como isquemia coronariana, pleurite, traumas ósseos e fibromialgia.

 

Tratamento

Orientação Verbal

Estima-se que 80 a 85% dos casos apresentem melhora do quadro apenas com orientação verbal. Ou seja, a explicação médica da natureza benigna e autolimitada da dor e a exclusão de sua relação com o câncer resolve a maioria dos casos. A avaliação clínica, associada a exames de imagem quando necessários, tem papel fundamental na melhora do quadro. A explicação de que a dor mamária não se associa ao câncer é uma das principais armas contra a mastalgia. Em trabalho brasileiro realizado com pacientes usuárias do sistema público de saúde, a orientação verbal teve um resultado de 85% de melhora para a mastalgia leve, 70% para a forma moderada e 52% para a forma severa.

 

Mudanças Comportamentais

O uso de um soutien esportivo que mantém a mama sustentada pode aliviar a dor após 12 semanas de uso em 85% dos casos e sem efeitos colaterais.

A retirada das metilxantinas da dieta, presentes no café, no chá e nos chocolates, apresenta evidências conflitantes com relação à mastalgia, com provável efeito placebo. Em caso de dor exorbitante, devem-se evitar esses alimentos. Também se pode evitar o uso de agentes estimulantes ou que causem aumento da ansiedade.

Uma dieta pobre em gordura diminui os hormônios circulantes como a prolactina e auxilia no controle da dor. A obesidade ainda é responsável por aumentar o nível de estrogênios circulantes na menopausa.

Os exercícios físicos diminuem os estrogênios circulantes e aumentam os níveis de endorfinas capazes de proporcionar bem-estar, embora não existam evidências diretas de que os exercícios sejam eficientes no controle da dor mamária.

A nicotina pode aumentar a dor mamária, pelo aumento dos níveis de epinefrina, além de ser o principal causador de mastite periductal. Portanto, o uso de tabaco deve ser desaconselhado por motivos óbvios de benefício à saúde, além de efeito placebo na melhora da mastalgia.

 

Placebos e Medicações Não Específicas

Em decorrência da melhora da dor mamária em 85% dos casos apenas com orientação verbal, o uso de vários medicamentos pode apresentar resultados satisfatórios, sendo confundido como uma terapia eficaz. A melhora do quadro com o uso de vitaminas A, B e E deve-se ao efeito placebo, assim como o uso de diuréticos em baixa dosagem ou de progesterona (uso oral ou tópico). Os recentes estudos randomizados com óleo de prímula e ácido gamalinoleico sugerem que esses agentes teriam apenas efeito placebo. Apesar de largamente utilizados, o uso de placebos não é aconselhado. Sempre se deve lembrar que todos têm um custo e podem causar efeitos colaterais.

A mastalgia apresenta melhora temporária com o uso de medicações analgésicas e anti-inflamatórias, principalmente na forma de spray ou gel, com aplicação local e massagem. O uso esporádico deve ser indicado para casos leves ou agudos.

Medicações ansiolíticas ou antidepressivos têm efeito global na melhora de quadros de dor, além de tratar quadros que poderiam causar ou exacerbar a dor mamária. Infelizmente ainda não há estudos randomizados avaliando a resposta da mastalgia a essas medicações.

 

Medicações Específicas

Os agentes mais eficazes contra mastalgia são os antiestrogênios e os inibidores de prolactina. São agentes reservados a mulheres com mastalgia severa e sem resposta às outras terapias. Em razão dos inúmeros efeitos colaterais, seu uso deve ser limitado a um período de 3 a 6 meses.

O tamoxifeno em baixas doses (10 mg/dia, VO) tem apresentado importantes taxas de alívio da mastalgia com relativamente poucos efeitos colaterais (que se assemelham à síndrome climatérica). Sabidamente, o tamoxifeno pode produzir carcinomas endometriais em 0,1% das pacientes e na dose de 20 mg/dia em mulheres na pós-menopausa, mas não foi demonstrado esse risco em mulheres na pré-menopausa e por curto período. A osteoporose é um efeito colateral grave, mas ocorre geralmente após 12 meses de uso. Apesar da melhora na densidade mineral óssea após o uso, o índice de fraturas permanece um pouco maior que a população geral, contraindicando o seu uso contínuo por mais de 12 meses. O tamoxifeno é considerado o agente mais eficaz no tratamento da mastalgia em regimes de uso de 3 a 6 meses na dose de 10 mg/dia, podendo, em casos especiais, ainda ser estendidos por mais tempo e prescritos em doses de 20 mg.

Os inibidores de prolactina são pouco eficazes no tratamento da mastalgia. As dosagens desse hormônio geralmente estão normais. São agonistas dopaminérgicos que inibem a liberação de prolactina pela hipófise anterior. A bromoergocriptina (2,5 a 10 mg/dia, VO) é um medicamento eficaz com custo razoável, mas infelizmente seus efeitos colaterais (hipotensão postural, cefaleia e náuseas) dificultam seu uso. A lisurida (0,5 a 2 mg/semana, VO) é um agente da mesma classe com o benefício de tomada semanal e menos efeitos colaterais, porém de custo mais elevado. Também não deve ser associada aos anticoncepcionais orais.

Danazol (200 mg/dia, VO) é um esteroide androgênico sintético com mecanismo de ação desconhecido no tratamento da mastalgia. Possui taxas de resposta entre 70% nas mastalgias cíclicas e 31% nas acíclicas. O que limita seu uso é o grande número de efeitos colaterais (depressão, aumento de peso, hirsutismo, acne), além de interferir com o contraceptivo oral e ter um potencial teratogênico. Sugere-se método contraceptivo de barreira durante o tratamento. Recomenda-se seu uso por um período breve e em doses baixas, uma vez que os efeitos indesejáveis desse tratamento são dose-dependentes.

Os análogos de LHRH como a goserelina (3,6 mg/mês, SC) também podem fazer parte do arsenal terapêutico no combate a mastalgia pela ação antigonadotrófica e inibição direta da esteroidogênese ovariana, diminuindo os níveis circulantes de estradiol e progesterona. Infelizmente, muitas pacientes referem efeitos colaterais desagradáveis (como sintomas climatéricos, depressão, perda da libido) em longo e curto prazos, sendo a principal consequência de seu uso a possibilidade de perda óssea trabecular. Por isso, seu uso tem sido indicado por períodos breves em casos de dor mamária severa refratária a outros tratamentos.

Outras medidas, como a diminuição da dose de estrogênio em pacientes que utilizem a terapia hormonal da menopausa ou o uso de pílulas anticoncepcionais de baixa dosagem estrogênica, podem produzir alívio dos sintomas.

O uso de anestésicos injetáveis tópicos ou anti-inflamatórios (lidocaína 1%, 1 mL) com função de bloqueio analgésico pode ser empregado na síndrome de Tietze e algumas mastalgias localizadas, com taxas de resposta em torno de 90%, necessitando de uma segunda injeção em 50% dos pacientes após 2 a 3 meses da primeira aplicação.

 

Cirurgia

Mastectomia é uma alternativa radical e de exclusão que pode ser aventada em casos de mastalgia severa refratária a todos os tratamentos e com amplo comprometimento na qualidade de vida da paciente. Essa conduta deve ser exaustivamente discutida com a paciente e seus familiares, a quem se deve propor um suporte psicológico antes da definição da conduta.

 

Tópicos Importantes

      A mastalgia é uma alteração mamária benigna e seu alívio depende de um diálogo esclarecedor entre o médico e a paciente, a fim de se optar por uma melhor conduta terapêutica. O uso de terapias farmacológicas deve ser reservado aos casos graves e persistentes.

 

Algoritmo

Algoritmo 1: Manejo da dor mamária.

* encaminhar para especialista para terapia adequada.

 

FLUXO PAPILAR

Introdução e Definições

O fluxo ou secreção papilar é um sintoma importante de comparecimento ao mastologista. Está presente em cerca de 10 a 15% das pacientes com doença mamária benigna. Apesar de geralmente benigno, pode estar relacionado à neoplasia mamária em até 15 a 20% das ocasiões. Caracteriza-se pela exteriorização de material fluido por um ou mais poros galactóforos fora do ciclo gravídico-puerperal. O fluido exteriorizado pode apresentar várias tonalidades, desde escuro e seroso até sanguinolento ou hialino. Divide-se em espontâneo ou provocado por manobras digitais, uni ou bilateral e uni ou multiductal. O fluxo mamário preocupante, em geral, é aquele não relacionado à gestação, espontâneo, persistente, uniductal, hemático ou cristalino.

 

Fisiopatologia

A maioria dos casos de fluxo papilar tem causa benigna. Surgem por causas fisiológicas, psicológicas, endócrinas ou alterações no parênquima mamário. O ciclo mamário normal, principalmente no período gestacional, apresenta contínua secreção mamária, em geral não percebida. A manipulação digital ou ordenha excessiva dos mamilos pode ser uma das causas. As doenças ou fármacos que elevam os níveis de prolactina também podem causar esse sintoma. Das alterações físicas do parênquima mamário, a mais frequente é o papiloma intraductal, uma lesão epitelial benigna dos ductos mamários proximais. Outras condições, que vão desde a ectasia ductal (dilatação benigna dos ductos com acúmulo de secreção), nódulos benignos e até neoplasias malignas, podem apresentar fluxo papilar.

 

Achados Clínicos

História Clínica

O ponto mais importante da história clínica é avaliar se a descarga papilar é espontânea ou provocada. Deve-se caracterizar o tempo de aparecimento do sintoma, se é uni ou bilateral, se provém de um ou mais ductos e qual a sua característica.

Na anamnese, é fundamental avaliar os fatores de risco para câncer de mama, principalmente por história familiar positiva ou antecedente pessoal de câncer mamário. A idade é fator preditivo para o risco de câncer de mama. A doença maligna está presente em apenas 3% das mulheres com menos de 40 anos de idade com fluxo suspeito, e em 32% naquelas com mais de 60 anos. Na história clínica, deve constar a fase da vida reprodutiva em que a paciente se encontra (pré ou pós-menopausa) e também se está no ciclo gravídico-puerperal ou no período de lactação. No ciclo gravídico-puerperal, pela intensa celularidade mamária, os exames citológicos podem apresentar taxas mais elevadas de resultados falso-positivos.

A história de multiparidade sempre acompanhada de amamentação leva à suspeita de ectasia ductal na presença de sintoma compatível. A presença de outras queixas mamárias (nódulos, retrações, ulcerações ou exames alterados) faz parte de boa história clínica.

O uso de medicações exógenas e distúrbios hormonais deve sempre ser questionado, principalmente na presença de galactorreia bilateral. A avaliação do ciclo menstrual e de suas alterações pode sugerir algumas doenças endócrinas. A presença de amenorreia pode estar relacionada a uma gestação ou a elevação da prolactina. Ganho ou perda de peso, falta ou excesso de sono e apetite ajudam na caracterização de distúrbios tireoidianos. Alguns agentes, sobretudo tranquilizantes e neurolépticos, podem aumentar a prolactina. Alterações de visão na presença de galactorreia sugerem adenoma hipofisário. Uma breve avaliação psíquica pode ser útil na identificação de casos de fluxo secundário a hiperestimulação e gravidez psicológica.

 

Exame Físico

O exame das mamas consiste de uma inspeção estática e dinâmica, seguida de palpação das mamas, expressão para avaliar eventuais fluxos pelo mamilo e, por fim, palpação linfonodal que compreende o exame das axilas e fossas supra e infraclaviculares.

Durante o exame físico, é fundamental verificar o fluxo e suas características. Deve-se avaliar se é proveniente de apenas um ou mais ductos, se está presente nas duas mamas e a sua coloração.

Nos fluxos uniductais, o “ponto de gatilho” pode ser identificado. Trata-se do local da mama onde a compressão unidigital produz o fluxo. Esse ponto geralmente é periareolar e pode ser descoberto pela palpação unidigital. Nesse local, em geral, encontra-se a lesão causadora do sintoma, que será o objetivo de eventual tratamento cirúrgico.

A investigação de massas palpáveis é etapa importante. Na maioria das vezes as tumorações são benignas. Porém, nos casos de carcinoma com fluxo papilar associado, em geral se nota a presença de nódulo mamário. Nesses casos, a investigação diagnóstica deve ser dirigida para o nódulo, e não para o fluxo.

 

Exames Complementares

A mamografia deve sempre ser realizada nas pacientes com fluxo papilar suspeito ou nas pacientes com mais de 40 anos de idade. O exame normal não exclui um carcinoma de mama. Estudos já mostraram que até 50% dos casos de câncer de mama associado à descarga papilar suspeita apresentavam mamografia normal.

A ultrassonografia de mamas é um exame complementar bastante importante na investigação, sobretudo na avaliação de alguma área específica da mama (massa ou “ponto de gatilho”). A ectasia ductal pode ser vista nesse exame, mas a sua presença deve ser relacionada às características do fluxo antes de se chegar ao diagnóstico, pois muitas mulheres apresentam essa alteração sem nenhum sintoma. O papel da ressonância nuclear magnética ainda não foi completamente estabelecido, mas tem apresentado resultados promissores.

Sempre que algum exame de imagem mostrar uma lesão suspeita, ela tem indicação de biópsia e a conduta varia de acordo com o diagnóstico.

Nos casos de fluxo papilar com características suspeitas (uniductal, espontâneo e de característica hemática ou hialina), o diagnóstico final é sempre obtido mediante procedimento cirúrgico, que serve tanto para o diagnóstico como para a cura das causas benignas. Alguns exames podem ser feitos para ajudar no diagnóstico, mas, em razão da alta taxa de falso-negativos, raramente têm o poder de evitar a cirurgia. Dentre esses exames estão a citologia do fluxo papilar, a lavagem ductal, a ductografia (radiografia após injeção de contraste no ducto sintomático) e a ductoscopia (avaliação visual direta do ducto com fibra óptica). Infelizmente, tais métodos propedêuticos só são considerados quando resultam positivos para malignidade.

Nos casos de galactorreia, é importante avaliar os níveis de prolactina sérica, principalmente a fração micro. A hiperprolactinemia pode ter muitas causas, sobretudo secundária ao uso de medicações ou alterações tireoidianas. Portanto, uma avaliação dos hormônios tireoidianos é um exame útil. Apesar de não ser tão frequente, a hipótese de adenoma hipofisário sempre deve ser excluída, ainda mais na presença de valores muito elevados. Uma radiografia de sela túrcica e a avaliação do campo visual são exames úteis, porém o exame que fornece melhores resultados é a ressonância nuclear magnética.

 

Diagnósticos Diferenciais

A Tabela 2 cita as principais características de fluxo papilar e os prováveis diagnósticos com os exames sugeridos. Obviamente, nem sempre os sintomas são tão específicos, cabendo sempre ao médico uma avaliação cuidadosa de cada caso.

 

Tabela 2: Características do fluxo papilar e prováveis diagnósticos

Tipo de fluxo

Causas mais prováveis

Exames sugeridos

Lácteo, multiorificial, bilateral

Hiperprolactinemia, amamentação, pseudociese

Dosagens hormonais (se necessário, avaliar hipófise)

Seroso, multiorificial, bilateral

Alterações fisiológicas, hiperestimulação, gravidez

Acompanhamento

Purulento

Mastite, abscesso mamário

Ultrassonografia

Multicor (em geral, verde ou marrom), multiorificial, uni ou bilateral

Ectasia ductal

mamografia e ultrassonografia; acompanhamento

Unilateral, uniorificial, sanguinolento ou cristalino

Papiloma intraductal, fibroadenoma, câncer de mama (segunda causa na pós-menopausa)

mamografia, ultrassonografia, exérese cirúrgica da lesão

 

Tratamento

Galactorreia

Excluir ou substituir medicamentos que possam ser causadores do problema é, geralmente, a primeira medida. Nos casos de distúrbios tireoidianos, a medicação específica deve ser administrada. Para as pacientes com hiperprolactinemia, lança-se mão dos inibidores de prolactina. São agonistas dopaminérgicos que inibem a liberação de prolactina pela hipófise anterior. A bromoergocriptina (2,5 a 10 mg/dia, VO) é um medicamento eficaz com custo razoável, mas infelizmente seus efeitos colaterais (que incluem hipotensão postural, cefaleia e náuseas) podem limitar seu uso. A lisurida (0,5 a 2 mg/semana, VO) é um agente da mesma classe com o benefício de tomada semanal e menos efeitos colaterais, porém de custo mais elevado. Nos casos com dosagens séricas de prolactina muito elevadas (ou sintomas ópticos), a pesquisa de adenoma de hipófise deve ser feita. O tratamento pode ser farmacológico (com inibidores de prolactina) ou cirúrgico (na resistência ao tratamento, compressão de estruturas intracranianas ou malignidade).

 

Alterações Fisiológicas

Caso haja hiperestimulação papilar, ela deve ser interrompida. Normalmente, a explicação de que o fluxo não tem relação com câncer tranquiliza a paciente e cessa o estímulo.

 

Fluxos Não Suspeitos

As descargas papilares multiductais, serosas e sem a presença de sangue ou secreção cristalina em geral não requerem abordagem cirúrgica. Num estudo do Hospital MD Andreson, pacientes desse grupo foram acompanhadas por 1 ano e sem necessidade de intervenção cirúrgica, obviamente, desde que o exame físico e os de imagem não mostrassem outras alterações. A remoção cirúrgica dos ductos principais (retroareolares) é um procedimento com função de eliminar o sintoma que pode incomodar a vida da paciente, podendo ser empregado de acordo com a vontade dela.

 

Secreção Purulenta

O uso de antibioticoterapia está indicado, em geral, com fármacos de amplo espectro. As mastites não puerperais, em geral, são causadas por flora bacteriana Gram-negativa e anaeróbia. Os abscessos, se presentes, devem ser drenados.

 

Fluxos Suspeitos

Em geral, são causados por alguma alteração do ducto mamário, normalmente, a presença de um papiloma intraductal, mas alterações fibrocísticas, abscessos e neoplasias malignas podem ser a causa. O tratamento é cirúrgico e a exérese deve incluir o “ponto de gatilho” e ser seletiva. Quando é impossível identificar o ducto acometido, procede-se à ressecção dos ductos retroareolares, que retira mais tecido e é menos específica. Na maioria dos casos, uma pequena ressecção resolve o problema, sem muitas implicações estéticas. Na presença de um câncer, o tratamento adequado deve ser empregado.

 

Tópicos Importantes

      Apesar de geralmente benigna, a descarga papilar causa grande preocupação às pacientes e pode estar relacionada à presença de câncer de mama. O correto diagnóstico deve evitar o tratamento excessivo e também excluir o risco de câncer. Os Algoritmos 2 e 3 mostram as medidas a serem tomadas em relação a pacientes com esse sintoma:

 

Algoritmos

Algoritmo 2: Avaliação de galactorreia.

 

Algoritmo 3: Avaliação de fluxo papilar não lácteo.

 

BIBLIOGRAFIA

Adaptado, com autorização, do livro Clínica Médica: dos Sinais e Sintomas ao Diagnóstico e Tratamento. Barueri: Manole, 2007.

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