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Beta-bloqueadores na hipertensão?

Bradicardia, beta-bloqueadores e doença cardiovascular em pacientes com hipertensão

 

Relação da bradicardia induzida por beta-bloqueadores e cardioproteção na hipertensão1

Relation of Beta-Blocker–Induced Heart Rate Lowering and Cardioprotection in Hypertension. J Am Coll Cardiol, 2008; 52:1482-1489 [Link para o Abstract]

 

Fator de impacto da revista (journal of the american college of cardiology): 11,054

 

Contexto Clínico

            A frequência cardíaca (FC) em repouso tem sido implicada como um fator de risco para morbidade e mortalidade cardiovascular tanto na população geral como em pacientes com doença cardiovascular como hipertensão arterial, infarto agudo do miocárdio e insuficiência cardíaca. A redução farmacológica da FC já se demonstrou benéfica em pacientes com doença cardíaca, entretanto o papel da redução farmacológica da FC usando beta-bloqueadores para prevenção de eventos cardiovasculares em pacientes com hipertensão é desconhecido. Sendo assim, e em vista da controvérsia sobre a eficácia dos beta-bloqueadores como drogas de primeira escolha para o tratamento da hipertensão arterial2,3,4, os autores objetivaram avaliar o papel da redução da FC com beta-bloqueadores sobre o risco de eventos cardiovasculares em pacientes com hipertensão arterial.

 

O Estudo

            Foi realizada uma pesquisa bibliográfica nas bases de dados MEDLINE/EMBASE/CENTRAL de 1966 a 2008 por ensaios clínicos randomizados que avaliaram beta-bloqueadores como terapia de primeira escolha para hipertensão arterial, com duração de pelo menos 1 ano e com dados sobre a frequência cardíaca. Foram encontrados 22 ensaios clínicos avaliando beta-bloqueadores, apenas 9 dos quais relataram dados sobre a FC. Estes 9 ensaios clínicos compararam 34.096 pacientes usando beta-bloqueadores com 30.139 pacientes usando outros anti-hipertensivos e 3.987 pacientes usando placebo.

 

Resultados

Uma FC mais baixa (como a alcançada nos grupos de beta-bloqueadores ao final dos estudos) associou-se de forma significativa com um risco maior para os desfechos de mortalidade geral, mortalidade cardiovascular, infarto do miocárdio e insuficiência cardíaca. A associação da FC mais baixa com maior risco de AVC não foi estatisticamente significante. A conclusão dos autores é que, em contraste com pacientes com infarto agudo do miocárdio e insuficiência cardíaca, a redução da FC com beta-bloqueadores aumentou o risco de eventos cardiovasculares e morte em pacientes com hipertensão arterial. Este excesso de risco pode ser explicado por uma maior pressão aórtica central induzida pela bradicardia associada ao uso de beta-bloqueadores.

 

Aplicações para a Prática Clínica

            Há, pelo menos, quatro publicações1,2,3,4 e um guideline5 que recomendam que os beta-bloqueadores não sejam mais indicados como drogas de primeira linha para o tratamento de pacientes hipertensos. Há um razoável corpo de evidências mostrando que eles são menos efetivos em reduzir eventos cardiovasculares que outros anti-hipertensivos. Existem também evidências de que a associação de um diurético tiazídico com um beta-bloqueador está associada a uma maior incidência de diabetes mellitus, embora alguns estudos mostrem que drogas bloqueadoras da angiotensina (inibidores da ECA e antagonistas do receptor de angiotensina) é que reduzem a incidência de diabetes e não que os beta-bloqueadores a aumentem. Além disso, a maior parte dos estudos que mostram eficácia reduzida dos beta-bloqueadores refere-se ao atenolol, o que nos impede de generalizar este efeito reduzido para toda a classe de beta-bloqueadores. Por último, existem inúmeros pacientes hipertensos que necessitam de beta-bloqueadores para prevenção secundária de doença coronariana, bem como para o controle de outras comorbidades como enxaqueca, estados hiperadrenérgicos, taquiarritmias e insuficiência cardíaca. Entretanto, pacientes hipertensos recém diagnosticados e sem comorbidades parecem não se beneficiar tanto de beta-bloqueadores como drogas de primeira escolha, particularmente o atenolol.

 

Bibliografia

1.Bangalore S, Sawhney S, Messerli FH. Relation of Beta-Blocker–Induced Heart Rate Lowering and Cardioprotection in Hypertension. J Am Coll Cardiol, 2008; 52:1482-1489 [Link para o Abstract]

2. Messerli F, Grossman E, Goldbourt U. Are beta-blockers efficacious as first-line therapy for hypertension in the elderly? A systematic review. JAMA 1998;279:1903–7. [Link Livre para o Artigo Original]

3. Carlberg B, Samuelsson O, Lindholm LH. atenolol in hypertension: is it a wise choice? Lancet 2004;364:1684 –9. [Link para o Abstract]

4. Lindholm LH, Carlberg B, Samuelsson O. Should beta blockers remain first choice in the treatment of primary hypertension? A meta-analysis. Lancet 2005;366:1545–53. [Link para o Abstract]

5. The National Collaborating Centre for Chronic Conditions. Hypertension. Management in adults in primary care: pharmacological update.

Available at: http://www.nice.org.uk/nicemedia/pdf/HypertensionGuide.pdf.