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Fibrilação atrial aguda na emergência

Fibrilação atrial aguda na emergência

 

Um ensaio clínico randomizado de uma unidade de observação para fibrilação atrial aguda no departamento de emergências

A Prospective, Randomized Trial of an Emergency Department Observation Unit for Acute Onset Atrial Fibrillation. Ann Emerg Med 2008 Oct 52:322-28 [Link para o Abstract]

 

Fator de impacto da revista (annals of emergency medicine): 3,500

 

Contexto Clínico

            A prevalência de fibrilação atrial (FA) é estimada em torno de 0,4% da população geral no Brasil. Nos EUA este número chega a cerca de 2,3 milhões de pessoas. A incidência anual de FA de início recente é cerca de 1% em indivíduos entre 60 e 68 anos e cerca de 5% em indivíduos com mais de 69 anos. As admissões hospitalares decorrentes de FA aumentaram 66% nos últimos 20 anos nos EUA, e os custos anuais com tratamento de FA chegam a 6,65 bilhões de dólares, sendo que a maior parte deste montante se deve a custos de internação hospitalar. O diagnóstico e o manejo adequado da FA são de extrema importância uma vez que suas principais complicações (AVC embólico e insuficiência cardíaca) estão associadas a um alto grau de morbi-mortalidade. Este estudo comparou um protocolo de tratamento da FA aguda numa unidade de observação no pronto-socorro (UOPS) com o manejo tradicional de rotina associado à admissão hospitalar.

 

O Estudo

            Pacientes chegando ao pronto-socorro com FA com menos de 48h de evolução, sem instabilidade hemodinâmica ou outras comorbidades necessitando de internação hospitalar foram incluídos no estudo. Os participantes (n=153) foram randomizados para tratamento na UOPS (n=75) ou para tratamento de rotina com internação hospitalar (n=78). O protocolo da UOPS durava 8 horas e consistia de controle da freqüência cardíaca (com um bloqueador de canal de cálcio ou beta-bloqueador), monitorização cardíaca, reavaliação após 6 horas e cardioversão elétrica se a FA persistisse com 2 horas adicionais de observação. Os participantes nos quais a FA fosse revertida recebiam alta e um seguimento cardiológico ambulatorial em 3 dias, enquanto os que permaneciam em FA eram internados. No grupo controle os pacientes recebiam bloqueador de canal de cálcio ou beta-bloqueador, infusão de heparina e eram internados num leito cardiológico monitorizado e o manejo era deixado a cargo do médico plantonista. Todos os casos foram seguidos por 6 meses. O desfecho primário foi reversão a ritmo sinusal ou controle da freqüência após a observação no PS ou após a alta hospitalar. Os desfechos secundários foram recorrência da FA e eventos adversos (infarto agudo, insuficiência cardíaca, AVC ou morte), além de utilização subseqüente de recursos de saúde.

 

Resultados

            A reversão para ritmo sinusal ocorreu em 85% dos participantes no grupo da UOPS e 73% no grupo controle (diferença de 12% IC 95% -1% a 25%; p=0,06). O tempo médio de permanência hospitalar foi de 10,1 hora para UOPS e 25,2 horas para controle (diferença de 15,1 hora IC 95% 11,2 a 19,6 horas; p<0,001). A recorrência da FA foi semelhante nos dois grupos (11% VS 10%; p=0,93). Não houve nenhuma diferença significativa entre os dois grupos no que diz respeito a frequência de hospitalizações ou número de exames bem como em relação ao número de eventos adversos. A conclusão dos autores é que o manejo da FA aguda com um protocolo que inclui cardioversão elétrica no PS é uma alternativa factível ao manejo tradicional de internação hospitalar, e resulta num tempo de permanência hospitalar significativamente mais curto.

 

Aplicações para a Prática Clínica

            Esta abordagem já é frequentemente realizada em muitos pronto-socorros, mesmo sem uma unidade de observação com um protocolo definido de manejo de FA aguda. Isto é feito particularmente em hospitais da rede pública em virtude da carência de leitos monitorizados. Este estudo, embora seja um estudo pequeno, mostra que esta abordagem é tão segura e eficaz como a tradicional, sendo mais econômica, pois o tempo de permanência no hospital foi significativamente menor. Além disso, embora satisfação do paciente não tenha sido alvo de análise, nos parece correto supor que a maioria dos pacientes ficaria mais satisfeita com um tempo menor de permanência no hospital.

 

Bibliografia

1. Decker WW, Smars PA, Vaidyanathan L et al. A Prospective, Randomized Trial of an Emergency Department Observation Unit for Acute Onset Atrial Fibrillation. Ann Emerg Med 2008 52(4):322-28. [Link para o Abstract]