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Pressão alta protege contra cefaléia

Pressão alta protege contra cefaléia

 

Pressão de pulso elevada protege contra cefaléia: dados prospectivos e transversais (estudo HUNT).

High pulse pressure protects against headache: prospective and cross-sectional data (HUNT study). Neurology.  2008; 70(16):1329-36 [Link para Abstract].

 

Fator de impacto da revista (neurology): 6,014

 

Contexto Clínico

            Há uma idéia corrente, quase mitológica, que liga pressão alta a cefaléia. Esta noção está presente não somente entre pessoas leigas, mas também entre os médicos. Entretanto não há evidências que demonstrem que pressão alta cause cefaléia. Além disso, muitos anti-hipertensivos (particularmente os beta-bloqueadores) são usados como profiláticos para enxaqueca, o que pode ter tido alguma influência na persistência da noção de que pressão alta causa cefaléia. Na década de 90 estudos observacionais mostrando que não há associação entre cefaléia e hipertensão arterial foram publicados2,3, e a Classificação Internacional de Cefaléia II (International Classification of Headache Disorders II) afirma que hipertensão leve a moderada não é causa de cefaléia. O objetivo do presente estudo foi avaliar a associação entre pressão alta e a prevalência de cefaléias, e o efeito das medicações anti-hipertensivas sobre esta associação, usando tanto dados seccionais (transversais) como longitudinais (prospectivos) de uma grande população.

 

O Estudo

            Os autores utilizaram os dados de dois grandes estudos epidemiológicos noruegueses, o Nord-Trøndelag Health Survey 1984–1986 (HUNT-1) e o Nord-Trøndelag Health Survey 1995–97 (HUNT-2) para avaliar a associação entre pressão arterial (sistólica, diastólica, média e de pulso) e cefaléias enxaquecosas e não enxaquecosas. Ambos são estudos de base populacional. O primeiro (HUNT-1), realizado entre 1984 e 86, incluiu 77.310 participantes com mais de 20 anos, e o segundo (HUNT-2), realizado entre 1995 e 97, incluiu 51.353 participantes. Todos os participantes realizaram uma avaliação médica, responderam um questionário e tiveram suas pressões arteriais medidas. A análise prospectiva foi realizada com 22.663 pacientes que responderam a um questionário específico de cefaléias, e a análise transversal incluiu quase 50.000 participantes.

 

Resultados

            O aumento da pressão arterial sistólica associou-se com menor frequência de cefaléias não enxaquecosas e enxaqueca. Na análise prospectiva houve uma relação linear (p<0,01) entre aumento da pressão sistólica e redução da incidência de cefaléias não enxaquecosas em ambos os sexos e redução da incidência de enxaqueca em mulheres que não utilizavam anti-hipertensivos. Esta relação não foi observada para homens com enxaqueca e mulheres com enxaqueca usando anti-hipertensivos. A análise transversal mostrou uma relação linear entre aumento da pressão sistólica e redução na freqüência de cefaléias não enxaquecosas em ambos os sexos não utilizando anti-hipertensivos.

O achado mais robusto, entretanto, foi em relação à pressão de pulso. O aumento da pressão de pulso associou-se com menor freqüência de enxaqueca e cefaléias não associadas à enxaqueca em ambos os sexos, tanto na análise prospectiva quanto na transversal. Nos participantes usando anti-hipertensivos, este achado foi menos evidente.

 

Aplicações para a Prática Clínica

Os achados deste estudo são consistente com evidências de outros estudos observacionais, além de serem achados robustos em virtude da amostra do estudo ser grande e de base populacional e dos principais achados terem sido reproduzidos tanto na análise transversal como na análise prospectiva.

Os autores comentam que tanto a pressão sistólica como a pressão de pulso (ou pressão diferencial – diferença entre a pressão arterial sistólica e a pressão arterial diastólica) estão relacionadas com a rigidez arterial, e podem reduzir a freqüência de cefaléias através da modulação do arco de barorreflexo, gerando hipoalgesia. Este fenômeno é chamado de hipoalgesia associada à hipertensão. O estímulo do barorreflexo em resposta ao aumento da pressão arterial parece inibir a transmissão da dor tanto no nível espinhal como supra-espinhal, possivelmente em virtude de uma interação entre os centros de modulação nociceptiva e os centros de reflexos cardiovasculares no tronco cerebral.

Independente da explicação fisiológica para o fenômeno, o fato é que não só a pressão alta não é causa de cefaléia como parece que é, até mesmo, protetora. Assim, este editor clama pela disseminação destes achados tanto nos meios médicos como na mídia leiga, uma vez que a associação espúria entre cefaléia e pressão alta é muitas vezes causa de iatrogenias e medicalização social.

 

Bibliografia

1. Tronvik E, Stovner LJ, Hagen K, Holmen J, Zwart JA. High pulse pressure protects against headache: prospective and cross-sectional data (HUNT study). Neurology.  2008; 70(16):1329-36.

2. Buring JE, Hebert P, Romero J, et al. Migraine and subsequent risk of stroke in the Physicians’ Health Study. Arch Neurol 1995;52:129–134.

3. Rasmussen BK, Olesen J. Symptomatic and nonsymptomatic headaches in a general population. Neurology 1992;42:1225–1231.