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Estudo INTERSALT

Estudo INTERSALT

 

Grupo de estudo cooperativo Intersalt. Intersalt: um estudo internacional de excreção de eletrólitos e pressão arterial. Resultados da excreção de sódio e potássio de 24 horas1. [Link para o Abstract] [Link para a reanálise dos dados publicada em 1996]

 

Fator de impacto da revista (British Medical Journal): 12.827

 

Contexto Clínico

            Os artigos comentados nesta seção são todos artigos muito recentes e procuramos sempre selecionar textos de grande impacto para a prática clínica do dia a dia. Na última semana comentamos um artigo sobre a relação da ingestão de sal com hipertensão resistente (ver: restrição de sal na hipertensão resistente). No comentário citamos também o estudo INTERSALT, que é um marco no conhecimento da relação da ingestão de sal e hipertensão arterial. Apesar de ter sido publicado em 1988, optamos por comentar aqui este estudo por julgarmos ser de extrema relevância clínica. 1,2,3

 

O Estudo

            Estudo seccional (estudo no qual CAUSA e EFEITO são observados em um mesmo momento histórico) realizado com 52 amostras populacionais de 32 países, com um total de 10.074 homens e mulheres entre 20 e 59 anos analisados. Foi verificada a associação da excreção urinária de sódio de 24 horas (medida indireta da ingestão de sal) com hipertensão arterial nos indivíduos e também foi verificada esta relação comparando-se as diversas populações de acordo com as diferentes faixas etárias.

 

Resultados

            Na análise dos indivíduos (n = 10.074) uma excreção de sódio aumentada em 100 mmol (p. ex., 170 vs 70 mmol – 6 gramas de sal) se associou a uma pressão arterial sistólica 3,1 mmHg a 6,0 mmHg mais elevada e a pressão arterial diastólica 0,1 a 2,5 mmHg maior. Tão ou mais importante do que a verificação de que consumos maiores de sal se associaram a níveis mais elevados de pressão arterial foi a constatação de que quanto maior a ingestão de sal mais elevados os níveis de pressão arterial com o aumento da idade. Nas diferentes populações (n=52) o aumento na pressão arterial com 30 anos de diferença (aos 25 e 55 anos) foi de 10-11 mmHg (PA sistólica) e 6 mmHg (PA diastólica) para cada aumento de 100 mmol na excreção de sódio. Exemplificando, a curva do aumento na pressão arterial com a idade foi mais acentuada nas localidades onde a ingestão de sal é maior (população portuguesa, por exemplo), e a pressão arterial simplesmente não aumentou com maiores idades nas populações em que o consumo de sal era muito baixo, como é o caso dos índios yanomamis no Brasil e outras populações remotas.

 

Aplicação para prática clínica

            Os resultados deste artigo demonstram que se um indivíduo jovem não quer ser hipertenso no futuro, uma das formas de se evitar isso é diminuir a ingestão diária de sal hoje           

            Como pudemos revisar no comentário deste estudo e no estudo da semana anterior o consumo excessivo de sal é um dos mecanismos na gênese da hipertensão arterial e aumenta diretamente o risco cardiovascular e a mortalidade (ver também: restrição de sal na hipertensão resistente). É possível que este efeito seja ainda mais importante na população brasileira, que herdou a tradição portuguesa de salgar os alimentos em excesso.4,5 No entanto, apesar de todas estas evidências o tratamento dos pacientes muitas vezes é focado no arsenal terapêutico medicamentoso, e outras medidas eficazes tais como estímulo a atividade física regular, emagrecimento para os pacientes com sobrepeso, alimentação saudável e diminuição do sal muitas vezes não são abordadas com a ênfase necessária. Outro ponto importante a ser debatido é se medidas de saúde pública deveriam ser tomadas a este respeito. Além de medidas educacionais – tanto para a população geral e pacientes como para os médicos, não seria o caso de se recomendar uma redução gradual na quantidade de sal nos alimentos industrializados? Sabe-se que grande parte da ingestão de sal na dieta ocidental vem deste tipo de alimentos e diversas publicações tem discutido a necessidade de implementar medidas como esta. Na próxima semana comentaremos uma revisão sobre este assunto publicada recentemente.6

 

Bibliografia

1.     Intersalt Cooperative Research Group. Intersalt: an international study of electrolyte excretion and blood pressure. Results for 24 hour urinary sodium and potassium. BMJ 1988;297:319-28. [Link para o abstract]

2.     Elliot P et al. Intersalt revisited: further analyses of 24 hour sodium excretion and blood pressure within and across populations BMJ 1996;312:1249-1253 [Link para o artigo completo]

3.     Stamler J. The INTERSALT study: background, methods, findings, and implications. Am J Clin Nutr 1997; 65 (suppl): 626S-42S [Link livre para o artigo completo]

4.     Olmos RD, Benseñor IM. Dietas e hipertensão arterial: Intersalt e estudo DASH. Rev Bras Hipertens 8: 221-4, 2001 [Link para o Artigo Completo].

5.     Olmos RD, Benseñor IM. Salt and Brazilian ancestry. Sao Paulo Med J/Rev Paul Med 2001; 119(4):130 [Link para Editorial].

6.     Brown IJ et al. Salt intakes around the world: implications for public health. International Journal of Epidemiology 2009;38:791–813 [Link para o abstract]