FECHAR

MedicinaNET

Home

Vacina contra Sarampo Caxumba e Rubéola e Autismo

Vacina contra Sarampo, Caxumba e Rubéola e Autismo

 

Falta de associação entre vacina contra sarampo, caxumba e rubéola e autismo em crianças: um estudo caso controle1

 

Fator de impacto da revista (PIDJ): 3,176

 

Contexto Clínico

            Existe uma grande especulação sobre a associação de determinadas vacinas, especialmente a vacina contra sarampo, caxumba e rubéola (SCR), com autismo. O estudo de Wakefield2 foi o primeiro a propor esta associação, sugerindo que o autismo seria desencadeado pela vacina. Apesar de o estudo ter sido largamente criticado, causou imensa atenção da mídia, levando a uma queda na cobertura vacinal em alguns países europeus. Desde então, inúmeros estudos vem mostrando que não existem evidências da associação entre vacina SCR e autismo.

            Este estudo teve como objetivo primário determinar se existe relação entre a vacina SCR e autismo em crianças. O objetivo secundário foi avaliar se o risco de autismo difere entre a vacina SCR e a vacina contra o sarampo apenas.

 

O Estudo

            Foi realizado um estudo caso controle na Polônia, que incluiu crianças de 2 a 15 anos, com diagnóstico de autismo. Foram selecionados 2 controles para cada caso, pareados pelo ano de nascimento, sexo e médico.

            Os pais das crianças foram entrevistados quanto ao desenvolvimento pré e pós-natal, desenvolvimento físico e mental, doenças crônicas, malformações, distúrbios intestinais, antecedentes familiares, condições sócio-econômicas. Os pais das crianças com autismo também foram entrevistados quanto à data de início dos sintomas, momento em que os pais suspeitaram do diagnóstico e conhecimentos e crenças da causa do autismo.

            Os dados do diagnóstico do autismo e a história vacinal foram obtidos dos prontuários médicos.

            Os casos de autismo foram considerados vacinados se a vacinação precedeu o início dos sintomas, e os controles foram considerados vacinados se a vacinação foi anterior à idade do início dos sintomas dos casos em que foram pareados.

Foi utilizada análise de regressão logística para avaliar associação entre a vacina SCR e autismo.

O odds ratio foi calculado para criança vacinada versus não vacinada, vacinada apenas com sarampo versus não vacinada, vacinada com SCR versus não vacinada, e vacinada com SCR versus vacinada apenas com sarampo.

 

Resultados

O estudo avaliou 96 casos e 192 controles, com uma mediana de idade de 7,5 anos, sendo 91,2% meninos e 19,8% meninas.

A maioria das crianças (64,6% dos casos e 76,6% dos controles) foi vacinada entre 12 e 18 meses. A porcentagem de crianças não vacinada foi maior nos casos do que nos controles (p<0,001). A vacina SCR foi utilizada em 44% dos casos vacinados e 55% dos controles vacinados.

Para crianças vacinadas antes do diagnóstico, o risco de autismo foi menor no grupo vacinado com SCR do que naquele não vacinado (OR: 0,17; IC95%: 0,06–0,52), como também nos vacinados apenas com sarampo (OR: 0,44; IC95%: 0,22– 0,91).

O risco para vacinados versus não vacinados, independente do tipo de vacina, foi 0,28 (IC95%: 0,10–0,76).

 

Aplicações para a Prática Clínica

Desde o estudo de Wakefield2, publicado em 1998, propondo a associação entre autismo e vacina MMR, o tema passou a ser amplamente estudado e divulgado, com grandes debates, especialmente em alguns países europeus, chegando a diminuir a cobertura vacinal e fazer ressurgir casos de sarampo. No Brasil, apesar do impacto ter sido muito menor, muitos pacientes fazem este questionamento e mesmo alguns grupos ("ONGs", associações de pais e amigos de autistas, homeopatas radicais e moderados) recomendam que a vacina não seja feita. Já as sociedades médicas pediátricas e de imunizações defendem que não existe esta associação.

Recentemente a revista The Lancet publicou um editorial em que se retrata pela publicação do estudo de Wakefield em 1998, mostrando que o estudo apresentou sérios problemas metodológicos e éticos, além de dados falsos3. A revista retirou completamente o artigo de seus registros.

Inúmeros estudos sérios, publicados desde então, já mostraram que não existe relação entre a vacina SCR e o aumento da incidência de autismo. O autismo é uma doença neurológica cujo diagnóstico tem aumentado nos últimos anos, não por conta de maior incidência, mas porque os médicos e pais têm sido mais atentos, procurando sinais precoces. Muitas crianças que nunca seriam tidas como autistas passaram, nos últimos anos, a ganhar este diagnóstico. Outro fato importante é que o aumento de número de casos diagnosticados não aumentou após o início da aplicação mundial da vacina SCR.

Este é mais um estudo que nos traz evidência CONTRA a associação de autismo e vacina SCR ou apenas vacina contra o sarampo.

Na opinião destes editores, é fundamental ter em mente que não fazer a vacina SCR é um risco para toda a população, podendo haver o recrudescimento destas doenças. É importante que a classe médica esteja ciente destes artigos, podendo explicar aos pacientes que vários estudos demonstraram a eficácia e segurança da vacina SCR e que à luz do conhecimento atual não existe associação com autismo.

 

Bibliografia

1.     Mrozek-Budzyn D, Kieltyka A, Majewska R. Lack of association between measles-mumps-rubella vaccination and autism in children: a case-control study. Pediatr Infect Dis J. 2010; 29(5):397-400.

2.     Wakefield A, Murch S, Anthony A, et al. Ileal-lymphoid-nodular hyperplasia, non-specific colitis, and pervasive developmental disorder in children. Lancet. 1998; 351:637– 641.

  1. The Editors of The Lancet. Retraction—Ileal-lymphoid-nodular hyperplasia, non-specific colitis, and pervasive developmental disorder in children. Lancet. 2010; 375(9713):445.