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Pesquisa do Cremesp analisa valores éticos que permeiam relação entre médicos e indústria

Texto enviado para divulgação pelo SIMERS – Síndicato dos Médicos do Rio Grande do Sul, idealizadores da campanha ALERTA – AMOSTRA NUNCA É GRATIS

 

Entre os médicos paulistas, 93% ganham brindes e benefícios das empresas farmacêuticas e de equipamentos e 80% recebem visitas de representantes da indústria de medicamentos. O relacionamento dos médicos paulistas com a indústria de medicamentos, órteses, próteses e equipamentos médico-hospitalares foi analisado em pesquisa inédita do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), feita pelo Datafolha, entre dezembro de 2009 e janeiro de 2010, com 600 médicos de diversas especialidades.

 

O estudo mostrou que os médicos têm percepções diferenciadas sobre os valores éticos que permeiam a relação entre os profissionais e as empresas. Aqueles que avaliam positivamente a relação (62%), alegam que a indústria realiza bom atendimento técnico, traz novos medicamentos e informações científicas atualizadas. Também mencionam a idoneidade das empresas e a atualização científica por meio de congressos, cursos e eventos. Mas para cerca de um terço dos médicos, a relação está muito contaminada e por vezes ultrapassa os limites da ética, visão semelhante à do Cremesp sobre o tema.

 

A promoção de medicamentos, produtos e equipamentos pode influenciar, de forma negativa ou desnecessária, as decisões de tratamento, sendo que 33% dos médicos souberam ou presenciaram casos de pressão da indústria sobre médicos ou alguma parceria comercial considerada inadequada.

 

Com o estudo, o Cremesp espera ampliar o debate sobre a necessidade de mais transparência, maior divulgação do atual Código de Ética Médica e, eventualmente, de aprimoramento da regulação das relações entre os médicos e as empresas que fabricam e comercializam medicamentos, órteses, próteses e equipamentos médico-hospitalares. A partir desses resultados, haverá ainda pesquisa qualitativa e posterior Simpósio para discussão de problemas levantados.

 

Sedução da indústria começa com estudantes de medicina

 

O processo de sedução da indústria de medicamentos e de equipamentos já começa nos bancos das escolas médicas. Na pesquisa do Cremesp, 74% dos médicos declararam ter presenciado ou recebido benefícios durante os seis anos de curso.

 

Outros 58% receberam a visita de representantes da indústria no hospital-escola. Um percentual menor (13%) teve financiamento para participar de eventos científico, cultural ou esportivo.

 

"Os brindes, os patrocínios já começam na graduação. Quando formado, o médico continua achando a relação natural", diz Bráulio Luna Filho, do Cremesp.

 

No EUA, a principais escolas médicas, como Harvard, Stanford e Michigan, criaram regras para combater o conflito de interesse. Representantes da indústria, por exemplo, não podem circular nos hospitais-escola. Em Harvard, estudantes têm criticado professores que recebem presentes ou dinheiro da indústria farmacêutica (fazendo pesquisa ou dando cursos ou palestras). A questão é: até que ponto há isenção no que eles estão ensinando aos alunos?

 

Segundo Marcos Boulos, diretor da Faculdade de Medicina da USP, alguns setores do Hospital das Clínicas - como o de infectologia - já restringem o acesso dos representantes da indústria, embora outros ainda dependam das amostras grátis. Mas ainda não há políticas de restrição em relação aos estudantes. Na sua opinião, só é justificável um professor da USP ter atividades financiadas pela indústria se ele estiver envolvido em alguma pesquisa clínica dentro da universidade.

 

ÍNTEGRA DA PESQUISA INÉDITA DO CREMESP SOBRE A RELAÇÃO MÉDICO-INDÚSTRIA