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Efeitos Adversos Associados à Administração de Testosterona

Efeitos adversos associados à administração de testosterona

 

Efeitos Adversos Associados à Administração de Testosterona1

 

Fator de impacto da revista (New England Journal of Medicine): 47,05

 

Contexto Clínico

A limitação da mobilidade é uma condição freqüentemente vista na geriatria, sendo esta um preditor de incapacidade, qualidade de vida e morte. Nos homens, ocorre declínio na concentração séria de testosterona, o que está associada à redução da massa muscular, diminuição da força nas extremidades, com conseqüente limitação funcional e diminuição da mobilidade. A eficácia e segurança do tratamento com reposição de testosterona em idosos com objetivo de avaliar performance muscular e mobilidade nunca foi estudada. Assim sendo, foi realizado o estudo TOM (Testosterone in Older Men with Mobility Limitations), que avaliou a reposição de testosterona naqueles idosos com níveis séricos diminuídos e com redução de mobilidade. Foi utilizada à preparação tópica do hormônio.

 

O Estudo

O estudo TOM selecionou homens com idade superior a 65 anos e baixos níveis de testosterona sérica (testosterona total entre 100 e 350ng/dl ou testosterona livre menor que 50 pg/ml). Estes indivíduos foram randomizados para receber testosterona em gel ou placebo, diariamente por 6 meses.

 

Resultados

Foi incluído um total de 209 homens, com idade média de 74 anos, que apresentavam hipertensão arterial sistêmica, dislipidemia e obesidade, os pacientes foram alocados em dois grupos de forma randomizada. As concentrações séricas de testosterona total e livre foram de 243ng/dl e 46pg/ml, respectivamente. No grupo testosterona, houve um aumento significativo da hemoglobina e hematócrito, além de diminuição significativa dos níveis de HDL. Não se evidenciou diferença estatisticamente significativa entre os níveis pressóricos nos dois grupos.

No grupo tratado com testosterona houve aumento da força muscular e capacidade de subir escadas, porém se evidenciou aumento de eventos cardiovasculares, 23 neste grupo, contra 5 no grupo placebo. Essa diferença se manteve mesmo após o ajuste para outras variáveis (dislipidemia, hipertensão arterial, tabagismo, diabetes, obesidade e idade). Também se constatou um aumento de eventos adversos respiratórios e dermatológicos no grupo tratamento.

 

Conclusão

O estudo foi descontinuado precocemente pelo comitê de ética. A alta taxa de eventos adversos cardiovasculares no grupo testosterona impossibilitou o andamento do estudo. Naqueles idosos com níveis de testosterona sérica diminuída, limitações de mobilidade e doenças crônicas associadas, tais como hipertensão arterial, dislipidemia e diabetes, a aplicação tópica do gel de testosterona aumentou, de forma significativa, os eventos adversos cardiovasculares, dermatológicos e respiratórios. O risco cardiovascular foi proporcional aos níveis séricos de testosterona com a reposição pelo gel, ou seja, quanto maior o valor sérico maiores os efeitos adversos. A fisiopatologia provável deve ser a retenção salina, aumento de edemas, descontrole da pressão arterial e conseqüente piora da insuficiência cardíaca. Aventa-se a possibilidade de aumento do nível sérico de estradiol, o que poderia aumentar agregação plaquetária e estados de hipercoagulabilidade.

 

Aplicação Clínica

Os resultados do estudo claramente determinaram associação entre aplicação de testosterona tópica e eventos adversos cardiovasculares. Cabe ressaltar que o estudo foi terminado precocemente pelo comitê de ética, reforçando a seriedade dos resultados.

Esse estudo intimidará o uso  descabido e inconseqüente da reposição hormonal à base de derivados de testosterona até que novos trials determinem o real valor desse tipo de medicação. Analogia poderá ser feita pelo uso indiscriminado de reposição hormonal em mulheres pós-menopausa no final da década de 90.

 

Bibliografia

1.    Basaria S, Coviello AD, Travison TG, Storer TW, Farwell WR, Jette AM et al. Adverse events associated with testosterone administration. NEJM 2010; Jun 30 [on line].

2.    Wu FC, Tajar A, Beynon J, Pye S, Silman A, Finn J et al. Identification of late-onset hypogonadism in middle-aged and elderly men. NEJM 2010;Jun 16 [on line].