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Succinilcolina é segura para usuários de estatinas

Especialidades / Áreas de atuação: Emergências / Anestesiologia

 

Resumo

Este estudo mostra que é seguro usar succinilcolina para intubação orotraqueal de pacientes usuários de estatinas.

 

Contexto clínico

As estatinas são conhecidas pelo risco de miotoxicidade em pacientes usuários crônicos. Isso leva a crer que existe a possibilidade de pacientes usuários de estatinas, quando submetidos a um procedimento que use succinilcolina, possam ter mais lesão muscular, que a própria succinilcolina também pode gerar esse evento adverso. Entretanto, não se sabe ao certo se essa combinação de fármacos é deletéria aos músculos dos pacientes. A importância dessa informação se deve ao grande volume existente de usuários de estatinas, bem como serão fato de a succinilcolina ser uma importante droga para bloqueio neuromuscular em procedimentos anestésicos eletivos e nas intubações orotraqueais de emergência, visto sua ação rápida, meia-vida curta e baixo custo.

 

O estudo

Este foi um estudo prospectivo não randomizado feito em um hospital norte-americano, que comparou 38 usuários de estatinas (pelo menos 3 meses de uso) com 32 não usuários de estatinas que foram submetidos a procedimentos anestésicos eletivos com uso de succinilcolina (1,5 mg/kg). Foram comparadas a intensidade de fasciculações após o uso do bloqueador, os escores de dor muscular após duas horas e após 24 horas da cirurgia, e níveis séricos de mioglobina, potássio e creatinofosfoquinase (CPK) após cinco minutos, 20 minutos e 24 horas da administração da succinilcolina.

As diferenças entre os grupos foram as seguintes: os usuários de estatinas eram mais velhos, faziam menos exercício regularmente e tinham creatininas maiores. Também se queixavam mais de dor muscular, doença arterial coronariana, diabetes tipo 2 e dislipidemia. Os valores basais médios de mioglobina não eram diferentes entre os grupos.

Com 20 minutos, a mioglobina foi maior nos usuários de estatinas, sendo 77 µg/L vs. 47 µg/L no grupo de não usuários (razão entre medianas: 1,34; IC95% 1,1-1,7, P= 0,018). Isso também ocorreu com cinco minutos da administração, sendo as concentrações nos usuários de 71 µg/L vs. 49 µg/L nos não usuários. As fasciculações foram mais intensas em usuários de estatinas (P = 0,047). Entretanto, a dor muscular e as concentrações séricas de potássio e CPK foram similares nos dois grupos. Não houve diferença nos valores médios de mioglobina com 24 horas.

 

Aplicações para a prática clínica

A conclusão deste estudo é que a mioglobina sérica após cinco e 20 minutos da administração de succinilcolina é maior em usuários de estatinas, porém as concentrações se tornam iguais 24 horas após a cirurgia. Importante ressaltar que, apesar de a mioglobina ser conhecidamente a causa de insuficiência renal aguda, o que seria um risco nesses casos, os valores encontrados estão longe daqueles considerados nefrotóxicos, que normalmente encontram-se a partir de 1.000 µg/mL.

Concluímos então que, apesar das pequenas diferenças laboratoriais do ponto de vista de mioglobina logo após a indução anestésica, nãodiferença importante do ponto de vista de repercussão clínica que torne o uso de succinilcolina arriscado em usuários de estatina. Essa informação é especialmente importante para emergencistas, uma vez que a succinilcolina é a droga de escolha para bloqueio neuromuscular em intubações orotraqueais de emergência.

 

Bibliografia

1.   Turan A, Mendoza ML, Gupta S, You J, Gottlieb A, Chu W, et al. Consequences of Succinylcholine Administration to Patients Using Statins. Anesthesiology. 2011 Jul;115(1):28-35. [link para o artigo] (Fator de Impacto: 5,354).