FECHAR

MedicinaNET

Home

Quimioterapia neoadjuvante versus cirurgia primária no tratamento do câncer de ovário avançado

Especialidades: Ginecologia / Oncologia

 

Resumo

Estudo multicêntrico, prospectivo e randomizado que objetivou comparar os resultados cirúrgicos e oncológicos obtidos no tratamento do câncer de ovário avançado por meio da quimioterapia neoadjuvante seguida por cirurgia de intervalo versus a terapia padrão até o momento, que é baseada na cirurgia citorredutora primária seguida por quimioterapia adjuvante.

 

Contexto clínico

A maior parte dos casos de câncer de ovário é diagnosticada em estádios avançados (III ou IV). Nesta situação, a cirurgia citorredutora primária (Debulking) seguida pela quimioterapia adjuvante é considerada a modalidade terapêutica de primeira escolha. A cirurgia deve sempre objetivar uma ressecção completa de toda doença macroscópica, sendo realmente benéfica apenas quando o resíduo tumoral não exceder 1 cm de diâmetro. No entanto, esta meta só é alcançada em cerca de metade dos casos, fato que motivou a investigação de formas alternativas de abordagem, destacando-se então o emprego da quimioterapia neodjuvante seguida pela cirurgia de intervalo com a intenção de melhorar as condições operatórias dos pacientes, possibilitando assim a realização de procedimentos oncológicos mais apropriados. Até o momento, poucos estudos conseguiram avaliar esta estratégia terapêutica adequadamente, contudo os resultados iniciais se mostraram inferiores ao tratamento padrão.

 

O estudo

Este é um estudo prospectivo, randomizado, com participação de diversos centros de oncologia europeus e conduzido entre 1998 e 2006. Nele, 670 mulheres com diagnóstico de câncer de ovário avançado (estádios IIIc ou IV) foram divididas em 2 grupos. Em 336 mulheres, foi realizado o tratamento atualmente padrão, ou seja, cirurgia citorredutora primária seguida por cerca de 6 ciclos de quimioterapia baseada em platina. Paralelamente, 334 pacientes receberam inicialmente 3 ciclos de quimioterapia neoadjuvante (também baseada em platina) seguida por cirurgia de intervalo e complementada por mais 3 ciclos de quimioterapia. O tempo de seguimento dos pacientes foi, em média, de 4,7 anos e o objetivo do estudo foi comparar resultados cirúrgicos e oncológicos dos grupos. No primeiro grupo, uma citorredução ótima foi conseguida em 41,6% dos casos, ao passo que no grupo de estudo chegou a 80,6%. Os índices de complicações e mortalidade pós-operatórias foram ligeiramente superiores no grupo submetido a cirurgia primária. A taxa de sobrevida global foi similar nos dois grupos, sendo que, em média, os pacientes sobreviveram 29 meses no primeiro grupo e 30 meses no segundo, e a sobrevida livre de progressão foi de cerca de 12 meses em ambos. Tanto nas mulheres submetidas a citorredução primária quanto na de intervalo, o principal fator prognóstico foi a taxa de ressecção tumoral completa.

 

Aplicações para a prática clínica

De acordo com o presente estudo, a quimioterapia neoadjuvante seguida por cirurgia citorredutora de intervalo não seria, do ponto de visto oncológico, inferior ao tratamento padrão. Esta abordagem traria ainda vantagens potenciais de aumentar as taxas de ressecção cirúrgica completa e diminuir morbidade e mortalidade operatórias, observações que abrem novas perspectivas de abordagem.

 

Bibliografia

1.   Vergote I, Tropé CG, Amant F, Kristensen GB, Ehlen T, Johnson N, et al. Neoadjuvant chemotherapy or primary surgery in stage IIIC or IV ovarian cancer. N Engl J Med. 2010; 363(10):943-53. [link para o artigo] (Fator de Impacto: 53,484)