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Colesterol total elevado está associado a menor mortalidade não cardiovascular em idosos

Área de Atuação: Medicina Ambulatorial

 

Especialidade: Medicina de Família

 

Resumo

Este estudo visou esclarecer a associação entre níveis de colesterol e mortalidade não cardiovascular e como esta associação se comporta nas diferentes faixas etárias.

 

Contexto clínico

Para idosos, os níveis de colesterol são um fator de risco menos preditivo de cardiopatia isquêmica do que para pessoas de meia idade. Outro elemento a ser considerado é o fato de haver evidências de que colesterol baixo se associa a mortalidade total aumentada.

 

O estudo

Pesquisadores de Rotterdam realizaram um estudo populacional prospectivo que envolveu 5.750 pessoas (idades de 55 a 99 anos; média de 69 anos) com dosagem do colesterol total e frações, durante um seguimento de cerca de 14 anos, e avaliaram a relação entre os níveis desses lipídios e a mortalidade não cardiovascular.

A análise dos dados, ajustada para sexo e idade, mostrou que cada aumento de 1 mmol/L (cerca de 50 mg/dL) no colesterol total se associou a uma diminuição de 12% no risco de morte por causas não cardiovasculares. A análise por faixas etárias demonstrou que essa associação atingiu significância estatística depois da idade de 65 anos e aumentou em magnitude em cada década subsequente. A remoção dos participantes que morreram dentro de 1 ano após a entrada no estudo não afetou os resultados (para exclusão de possíveis casos com colesterol reduzido decorrente de emagrecimento associado a doenças subclínicas já presentes ao início do estudo). Por outro lado, o HDL-colesterol não se associou a mortalidade não cardiovascular.

Especulações sobre o motivo dessa associação incluem emagrecimento sem causa ou como marcador de doença oculta (ainda e apesar da exclusão do 1º ano pós-entrada no estudo), perda de massa muscular, dosagem inapropriada de medicamentos com massa magra menor, liberação de toxinas lipossolúveis na circulação, aumento do colesterol total às custas de LDL-colesterol de tamanho grande, que se associa a longevidade excepcional, e correlação entre colesterol baixo e síndrome da fragilidade do idoso.

 

Aplicações para a prática clínica

Em pessoas com idade entre 70 e 80 anos, portadoras de doença cardíaca isquêmica documentada, o conjunto das evidências favorece o uso de estatinas em doses não excessivas (não se deve buscar níveis bastante baixos de LDL-colesterol com doses altas de estatinas; o idoso é mais vulnerável; primum non nocere). Sempre se deve pesar o risco dos efeitos negativos de adicionar ainda mais um medicamento em uma prescrição já extensa de um idoso. Não há evidências que suportem prevenção primária em idosos. Em pessoas com mais de 80 anos de idade, não há evidências para o uso de estatinas em qualquer circunstância.

A ausência de evidências não necessariamente proíbe uma prescrição como essa, mas exige mais cuidado e atenção no uso de medicamentos preventivos em pacientes com mais de 80 anos.

 

Bibliografia

1.   Newson RS, Felix JF, Heeringa J, Hofman A, Witteman JCM, Tiemeier H. . Association between serum cholesterol and noncardiovascular mortality in older age. J Am Geriatr Soc 2011 Oct; 59(10):1779-85. (link para o artigo original)

2.   Morley JE. The cholesterol conundrum. J Am Geriatr Soc 2011 Oct; 59:1955.

3.   Krumholz HM, Seeman TE, Merrill SS, Leon CFM, Vaccarino V, Silverman DI et al. Lack of association between cholesterol and coronary heart disease mortality and morbidity and all-cause mortality in persons older than 70 years. JAMA 1994; 272(17):1335-40.