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Vasopressina não é melhor que epinefrina na parada cardíaca

Especialidades: Emergências

 

Resumo

         Este estudo compara a chance de sobrevida após parada cardíaca de pacientes que foram ressuscitados com vasopressina ou apenas adrenalina, para saber se há alguma vantagem entre as 2 drogas.

 

Contexto clínico

         Nas diretrizes internacionais do ACLS, recomenda-se o uso de epinefrina a cada 3 a 5 minutos enquanto o paciente apresenta-se em parada cardíaca. A vasopressina pode substituir a primeira ou segunda dose de epinefrina. Muitos estudos não encontraram benefício de sobrevida com o uso da vasopressina em relação à adrenalina, mas alguns pesquisadores especulam que pode haver uma vantagem em pacientes com parada prolongada.

 

O estudo

         Este foi um estudo randomizado, duplo-cego, multicêntrico feito em 4 hospitais. Pacientes com parada cardíaca confirmada por ausência de pulso, arresponsividade e apneia, com idade > 16 anos foram randomizados para uso intravenoso de 1 mg de adrenalina ou 40 unidades de vasopressina como primeira dose para PCR nos departamentos de emergência dos hospitais participantes. Foram excluídos pacientes com parada cardíaca por trauma ou com contraindicação para ressuscitação cardiopulmonar. Os pacientes receberam doses adicionais de adrenalina durante a ressuscitação conforme as diretrizes do ACLS. O desfecho primário estudado foi sobrevida na alta, definida como paciente que recebeu alta ou que estava vivo após 30 dias da parada cardíaca.

         O estudo incluiu 727 participantes (adrenalina = 353; vasopressina  = 374). As características clínicas dos pacientes dos 2 grupos foram semelhantes. A parada cardíaca ocorreu fora do hospital em 80% dos casos, e a média de tempo para chegada ao pronto-socorro foi de 38 minutos. Não houve diferença entre os grupos de vasopressina e adrenalina quanto ao retorno à circulação espontânea (32% vs. 30%, respectivamente) ou ser internado vivo no hospital no pós-parada (22% e 17%, respectivamente). Um total de 8 participantes (2,3%) no grupo adrenalina e 11 (2,9%) no grupo vasopressina sobreviveram na alta hospitalar, sendo que não houve diferença entre os grupos (P=0,27; RR=1,72, IC95% 0,65-4,51).

 

Aplicações para a prática clínica

         Assim como já demonstrado por outros estudos, a vasopressina não é melhor que a epinefrina (adrenalina) quanto à sobrevida de parada cardíaca. Como durante a ressuscitação, a simplificação é uma das coisas mais importantes, e começar com a adrenalina parece ser a opção mais prática, ainda mais considerando os custos da vasopressina.

         A combinação de vasopressina e adrenalina não melhorou a chance de sobrevida na alta dos pacientes que foram incluídos neste estudo. No entanto, há um detalhe do estudo que vale ser ressaltado: após ajuste para raça, histórico médico, parada ter sido presenciada e uso de adrenalina previamente à chegada ao departamento de emergência, mais pacientes foram internados vivos no hospital no grupo vasopressina (22,2%) do que no grupo da adrenalina (16,7%) (P=0,05, RR=1,43, IC95% 1,02-2,04). Talvez este dado seja importante para desenhar novos estudos levando em conta o uso da vasopressina combinada com hipotermia em pacientes com parada cardíaca prolongada, para verificar se, além de terem mais chance de serem internados vivos no pós-parada, estes pacientes também têm maior chance de sobrevida na alta, desfecho que interessa mais do que qualquer outro.

         Por fim, ainda vale o que foi encontrado neste estudo: não há vantagem no uso da vasopressina sobre a adrenalina na parada cardíaca, portanto, não é necessário ter gastos adicionais ou “protocolos” intra-hospitalares para atendimento de parada cardíaca que usem as 2 drogas, apenas a adrenalina, pelo menos até que novos dados surjam na literatura.

 

Bibliografia

1.    Ong MEH, Tiah L, Leong BS-H, Tan ECC, Ong VYK, Tan EAT et al. A randomised, double-blind, multicentre trial comparing vasopressin and adrenaline in patients with cardiac arrest presenting to or in the emergency department. Resuscitation 2012 Aug; 83:953. [link para o artigo] (Fator de Impacto: 3,601)