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Novo checklist para intercorrências durante cirurgias

Especialidades: Segurança do Paciente / Cirurgia Geral

 

Resumo

         Este estudo procurou avaliar uma ferramenta para melhorar a adesão a práticas baseadas em evidências em casos de intercorrências durante cirurgias.

 

Contexto clínico

         Intercorrências (p. ex., uma parada cardíaca ou um sangramento inesperado) durante um ato cirúrgico são comuns em hospitais de grande porte, mas quando se observa do ponto de vista de cirurgiões individualmente, essas intercorrências são raras, o que dificulta a criação de um protocolo clínico que permita lidar com tal situação. Outra questão que deve ser considerada é que são exatamente as intercorrências imprevisíveis que geram tanta variação na mortalidade cirúrgica entre hospitais.

         Embora o uso de checklists principalmente antes da cirurgia já tenha seu benefício comprovado, existem poucas informações sobre o uso de checklists durante as intercorrências  intraoperatórias.

 

O estudo

         Três instituições (um centro médico acadêmico e dois hospitais de comunidade) participaram de uma série de cenários de intercorrências cirúrgicas em uma sala de cirurgia simulada. Cada equipe foi aleatoriamente designada para gerenciar metade dos cenários estipulados no estudo com um conjunto de checklists para intercorrências e os cenários restantes utilizando apenas a memória. O desfecho primário foi a falta de adesão aos processos críticos de atendimento. Os participantes também foram entrevistados sobre sua percepção a respeito da utilidade e da relevância clínica das listas de verificação. Exemplos de intercorrências utilizadas foram: anafilaxia, hipertermia maligna, hemorragia seguida de fibrilação ventricular, embolia gasosa, hipotensão seguida de bradicardia ou taquicardia instável e parada cardíaca em assistolia.

         Um total de 17 equipes cirúrgicas participou de 106 cenários simulados de intercorrências cirúrgicas. A não adesão aos processos de assistência que salvam vidas era menos comum durante simulações quando checklists estavam disponíveis (6% de passos perdidos quando checklists estavam disponíveis vs. 23% quando eles não estavam disponíveis, P < 0,001). Os resultados foram semelhantes em um modelo multivariado que representava o agrupamento de equipes, com ajuste para instituição, cenário e efeitos da fadiga (RR: 0,28; IC 95%: 0,18-0,42; P < 0,001). Cada equipe apresentou melhor desempenho quando checklists estavam disponíveis do que quando não estavam. Ao todo, 97% dos participantes relataram que, se uma dessas intercorrências acontecesse enquanto eles estivessem em uma cirurgia real, eles gostariam de utilizar o checklist.

 

Aplicações para a prática clínica

         Diversas atividades humanas, como em aviação, usinas nucleares, plataformas de petróleo e outras áreas industriais, utilizam checklists há décadas, mas só recentemente este tipo de recurso tem sido utilizado na área da saúde, como checklists para passagem de cateteres venosos centrais ou para segurança em cirurgia. Este estudo apresentado mostra uma situação de simulação, porém com resultado bastante significativo, o que sugere que o uso de checklists também durante intercorrências cirúrgicas graves e muitas vezes imprevisíveis pode ser benéfico para a assistência ao paciente, com impacto possível em mortalidade. Um dos dados mais interessantes do estudo é exatamente a grande quantidade de profissionais que afirmou que gostaria de ter um dos checklists utilizados no estudo durante uma cirurgia real.

 

Bibliografia

1.    Arriaga AF, Bader AM, Wong JM, Lipsitz SR, Berry WR, Ziewacz JE et al. Simulation-based trial of surgical-crisis checklists. N Engl J Med 2013 Jan 17; 368:246. [link para o artigo]