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Determinantes de sobrevivência em curto e longo prazo para pacientes que foram internados em UTI

Especialidades: Terapia Intensiva/Medicina Hospitalar/Cuidados Paliativos

 

Contexto Clínico

Tornou-se uma prática absolutamente necessária em qualquer UTI a discussão do plano terapêutico e das metas de tratamento com o paciente ou seus familiares. Fazer este planejamento, conseguindo expor questões prognósticas na discussão é algo extremamente necessário, porém nem sempre é fácil de ser feito, seja por questões de comunicação, seja por questões técnicas que respaldem as decisões do médico. A questão do prognóstico e chance de sobrevivência talvez seja um dos pontos mais importantes dentro dessa discussão quando se trata de pacientes de UTI. Porém, os instrumentos que existem hoje, que basicamente são calculadores de risco como SAPS, APACHE e MPM, são limitados em sua avaliação.  Principalmente porque eles foram projetados para prever mortalidade intra-hospitalar, algo que pode variar em função de diversos fatores ao longo da hospitalização. Além disso, não fornecem dados de longo prazo, sobre como será o resultado fora do hospital caso o paciente consiga ir para casa. É importante que existam dados que auxiliem médicos e outros profissionais de saúde a abordar questões prognósticas que podem interferir na tomada de decisão quanto ao tratamento de um paciente em UTI.

 

O Estudo

Foram investigados os determinantes de curto prazo e longo prazo quanto à  sobrevivência em pacientes adultos internados em unidades de terapia intensiva (UTIs). Foi realizado um estudo observacional do tipo coorte em onze UTIs de pacientes adultos no Canadá.

Foram incluídas 33.324 internações em UTI. As taxas de mortalidade em 30 e 90 dias foram de 15,9% e 19,5%, respectivamente. A curva de sobrevivência demonstrou uma fase inicial com uma elevada taxa de morte, seguida por uma taxa de mortalidade significativamente mais baixa que apenas foi bem estabelecida depois de vários meses. A mortalidade em 30 dias foi predominantemente determinada por características da doença aguda; com a sua contribuição relativa fixada em 1,00, as próximas maiores contribuintes foram a idade (0,19) e comorbidades (0,16). Em contrapartida, a mortalidade pós-90 dias foi determinada principalmente pela idade (contribuição relativa 1,00) e comorbidades (0,95); o segundo maior contribuinte foi a característica da doença aguda (0,28).

 

Aplicações Práticas

Este estudo observacional demonstrou que existem duas fases distintas de sobrevivência relacionados com doença crítica. Morrer no mês de internação na UTI foi determinado, principalmente, pelo tipo e gravidade da doença aguda, mas esse fator se tornou menos importante quando se examinou a mortalidade após 90 dias. A idade e as comorbidades foram apenas pequenas contribuidoras para a sobrevivência a curto prazo. No entanto, entre os que sobreviveram até 90 dias após o início da doença crítica, a sobrevivência foi determinada principalmente pelas comorbidades e pela idade. O reconhecimento destes resultados é relevante para a discussão com os pacientes e familiares sobre metas alcançáveis em termos de tratamento. Daí a importância do dado gerado por esse estudo. Isso porque muitas vezes interessa mais o resultado a longo prazo quando se discute prognóstico com o paciente e familiares.

 

Bibliografia

Garland A et al. Distinct determinants of long-term and short-term survival in critical illness. Intensive Care Med. 2014 Aug;40(8):1097-105. doi: 10.1007/s00134-014-3348-y. (link para o artigo).