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Protéses Biológicas ou Mecânicas para Pacientes não tão Idosos?

Contexto Clínico

         A escolha entre realizar uma troca valvar por prótese biológica ou mecânica em pacientes mais jovens é controversa porque pouco se sabe a respeito da sobrevivência a longo prazo e a morbidade. Para quantificar estes resultados em pacientes com idades entre 50 a 69 anos submetidos a substituição da valva aórtica, apresentamos a seguir resultados de um estudo observacional para evidenciar estes dados.

 

O Estudo

        Foi realizado um estudo observacional de coorte retrospectivo com 4.253 pacientes com idades entre 50 a 69 anos que foram submetidos a substituição da valva aórtica com prótese biológica ou válvula mecânica no Estado de Nova Iorque nos EUA. O tempo médio de follow-up foi de 10,8 anos.

O desfecho primário avaliado foi mortalidade por qualquer causa; desfechos secundários foram acidente vascular cerebral, reoperação e hemorragia grave.

Não houve diferença nas taxas de sobrevivência ou de acidente vascular cerebral em pacientes com prótese biológica em comparação com válvulas mecânicas.   A sobrevida de 15 anos foi de 60,6% (IC95%: 56,3% -64,9%) no grupo de prótese biológica em comparação com 62,1% (IC95%: 58,2% -66,0%) no grupo da prótese mecânica (hazard ratio de 0,97 [IC95%: 0,83-1,14]). A incidência cumulativa em 15 anos de acidente vascular cerebral foi de 7,7% (IC95%: 5,7% -9,7%) no grupo de prótese biológica e 8,6% (IC95%: 6,2% -11,0%) no grupo da prótese mecânica (hazard ratio de 1,04 [IC95%:  0,75-1,43]). A incidência cumulativa em 15 anos de reoperação foi maior no grupo de bioprótese (12,1% [IC95%: 8,8% -15,4%] vs 6,9% [IC95%: 4,2% -9,6%]; hazard ratio de 0,52 [IC95%: 0,36-0,75]). A incidência cumulativa em 15 anos de hemorragia grave foi maior no grupo da prótese mecânica (13,0% [IC95%: 9,9% -16,1%] vs 6,6% [IC95%: 4,8% -8,4%]; hazard ratio de 1,75 [IC95%: 1,27-2,43]). A taxa de mortalidade em 30 dias foi de 18,7% após AVC; 9,0% após a reoperação; e 13,2% após hemorragia grave.

 

Aplicações Práticas

          Nesse estudo observacional, podemos analisar que não houve diferença significativa na sobrevida ou na ocorrência de acidente vascular cerebral em 15 anos quando comparados pacientes que fizeram valvoplastia aórtica com prótese biológica ou mecânica. Os pacientes do grupo de bioprótese tiveram maior probabilidade de reoperação, mas uma menor probabilidade de sangramento maior.

          As informações deste estudo observacional dão substrato na decisão de opção de tratamento na substituição de válvula aórtica em pacientes não tão idosos. Uma vez que a mortalidade em 15 anos é semelhante, devemos usar os desfechos secundários para a tomada de decisão: acidente vascular cerebral, reoperação e hemorragia grave. Por exemplo, os resultados sugerem que as válvulas bioprostéticas podem ser uma escolha razoável em pacientes com idades entre 50 a 69 anos, dado o menor risco de sangramento já que nesses casos não há indicação de anticoagulante oral, mesmo havendo maior necessidade de reoperação.

 

Bibliografia

Chiang YP et al. Survival and long-term outcomes following bioprosthetic vs mechanical aortic valve replacement in patients aged 50 to 69 years. JAMA 2014 Oct 1; 312:1323 (link para o artigo).