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Tratamento de Diarreia dos Viajantes e Resistência Bacteriana

Contexto Clínico

         O aumento e propagação de organismos multirresistentes é talvez um dos maiores problemas de saúde pública quanto às doenças infecciosas e seu impacto para o futuro. O uso excessivo e indiscriminado de antimicrobianos contribui significativamente para este problema. As viagens internacionais são vias de propagação de estirpes bacterianas resistentes por todo o mundo, mas pouca atenção tem sido dada à forma como a colonização inicial poderia ser evitada durante viagens.

         Mais de 300 milhões de viajantes visitam regiões com falta de higiene anualmente. Uma percentagem significativa destes viajantes será colonizada por bactérias resistentes intestinais, como as Enterobacteriaceae produtoras de beta-lactamase de espectro estendido (ESBL-PE). Isso pode permitir a transmissão para as outras pessoas e para ambientes de cuidados médicos quando o viajante retorna para casa. Apesar das ameaças à saúde global causadas por um surto de resistência a antimicrobianos, nenhum esforço foi centrado na prevenção da colonização em viajantes. O grande ponto é que muitas pessoas tomam antibiótico por conta própria em situação de diarreia em caso de viagem. Isso é um potencial problema.

 

O Estudo

         Este é um que se baseou nas amostras de fezes coletadas de 430 finlandeses antes e depois de viajar fora da Escandinávia. Todas as amostras foram analisadas para Enterobacteriaceae ESBL e produtoras de carbapenemase (CPE). Foram utilizados questionários para levantamento de voluntários sobre o uso de antimicrobianos, bem como outros fatores de risco potenciais. Os resultados foram submetidos à análise multivariada.

          Do total de viajantes, 21% (90/430) foi colonizada por ESBL-PE e nenhum por CPE. Região geográfica, a ocorrência de diarreia dos viajantes (DV), idade e uso de antimicrobianos (AB) para DV foram identificados como fatores de risco independentes que predispõem a contrair as ESBL-PE. As taxas de aquisição de ESBL-PE por grupo foram de 11% no grupo sem DV e sem uso de AB,  21% no grupo que teve DV mas não usou AB,  e 37% no grupo que teve DV e usou AB. O risco mostrou-se mais elevado no Sul da Ásia (46%); sendo que 23% se tornaram colonizados no subgrupo sem DV e sem uso de AB, 47% no  grupo que teve DV mas não usou AB, e 80% no grupo que teve DV e usou AB. No Sudeste da Ásia, as taxas foram de 14%, 37% e 69%, respectivamente.

 

Aplicações Práticas

         Este estudo observacional muito interessante demonstrou haver uma associação entre o uso de antimicrobianos em pacientes que tem diarreia dos viajantes e a colonização por formas resistentes de bactérias, no caso as ESBL-EB. Isso ocorreu em até 80% dos casos observados. Isso pode ter um grande impacto em termos de saúde pública, com a disseminação de mecanismos de resistência para bactérias de outros indivíduos e locais. Nesse sentido, o que se pode fazer, é aconselhar viajantes a não tomarem antibióticos indiscriminadamente em situação de DV que sejam leves a moderadas, evitando assim riscos de colonização por bactérias resistentes de forma mais ampla no mundo.

 

Bibliografia

Kantele A et al. Antimicrobials increase travelers' risk of colonization by extended- spectrum betalactamase-producing Enterobacteriaceae. Clin Infect Dis 2015 Mar 15; 60:837. (http://dx.doi.org/10.1093/cid/ciu957)