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Paroxetina e imipramina no tratamento de depressão maior de adolescentes

Contexto Clínico

Em 2013, em face do relatório seletivo de resultados de ensaios clínicos randomizados, um grupo internacional de pesquisadores pediu aos financiadores e pesquisadores de ensaios abandonados (não publicados ou com resultados que precisavam ser ajustados) para que tais estudos fossem publicados. Esta iniciativa foi chamada de "restaurando ensaios invisíveis e abandonados" (RIAT).

O presente artigo representa uma publicação do projeto RIAT. O estudo original foi financiado pela SmithKline Beecham (SKB; posteriormente GlaxoSmithKline, GSK). Este ensaio clínico duplo-cego randomizado e controlado para avaliar a eficácia e a segurança de paroxetina e imipramina em comparação com placebo em adolescentes com diagnóstico de depressão maior foi relatado em 2001, com Martin Keller como o autor principal. Os pesquisadores do RIAT identificaram esse estudo como tendo necessidade de restauro dos dados para republicação.

 

O Estudo

Trata-se de um ensaio clínico randomizado duplo-cego, cujo objetivo principal do estudo foi comparar a eficácia e a segurança de paroxetina e imipramina com placebo no tratamento de adolescentes com depressão maior unipolar.  O estudo foi feito em 12 centros de psiquiatria acadêmicas norte-americanas, entre 20 de abril de 1994 a 15 de Fevereiro de 1998.

Os participantes foram 275 adolescentes com depressão maior há pelo menos oito semanas. Os critérios de exclusão incluíram uma série de transtornos psiquiátricos e clínicos, além de comorbidades e tendências suicidas. Os participantes foram randomizados para oito semanas de tratamento duplo-cego com paroxetina (20-40 mg), imipramina (200-300 mg), ou placebo.

As variáveis de eficácia primária pré-especificadas foram mudança entre o baseline e o final do estudo em oito semanas quanto à escala de depressão de Hamilton (HAM-D). Desfechos secundários foram alterações da linha de base até ao ponto final de tratamento quanto aos itens de depressão em K-SADS-L, impressão clínica global, lista de verificação de funcionamento autônomo, perfil de autopercepção, e escala de impacto da doença; preditores de resposta; e número de pacientes que tiveram uma recaída durante a fase de manutenção.

A eficácia da paroxetina e imipramina não foi de forma estatística ou clínica  significativamente diferente do placebo para qualquer resultado de eficácia primário ou secundário pré-especificado. Pontuações HAM-D diminuíram 10,7; 9,0  e 9,1 pontos, respectivamente, para os grupos de paroxetina, imipramina e placebo (P = 0,20). Houve aumentos clinicamente significativos em danos, incluindo ideação suicida e outros eventos adversos graves no grupo paroxetina e problemas cardiovasculares no grupo imipramina.

 

Aplicações Práticas

Com base nessa publicação, não podemos recomendar o uso nem de paroxetina, nem de imipramina para depressão maior em adolescentes. Nenhuma das drogas mostrou eficácia para depressão maior em adolescentes, e houve um aumento de eventos adversos com ambas as drogas. A reanálise desse estudo ilustra a necessidade de fazer um melhor julgamento de dados primários e que deve haver maior rigor da base de evidências.

 

Referências

Le Noury J et al. Restoring Study 329: efficacy and harms of paroxetine and imipramine in treatment of major depression in adolescence. BMJ 2015;351:h4320.