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Perfil de resistência de Escherichia coli em Infecção de Trato Urinário

Contexto Clínico

Infecções do trato urinário são uma das infecções bacterianas mais comuns em assistência primária. Em crianças com infecção do trato urinário suspeita, a estratégia de tratamento mais comum é o uso empírico de um antibiótico enquanto os resultados de cultura e teste de sensibilidade são aguardados. As crianças pequenas são mais vulneráveis a complicações imediatas e de longo prazo, incluindo cicatrizes renais e insuficiência renal, e, portanto, necessitam de tratamento adequado imediato. Escherichia coli é a bactéria responsável por mais de 80% de todas as infecções do trato urinário e também é a causa mais comum de bacteremia. Sendo assim, é importante conhecer seu perfil de sensibilidade para se direcionar o tratamento empírico.

 

O Estudo

Foi realizada uma revisão sistemática para investigar a prevalência da resistência adquirida na comunidade em infecção urinária causada por  Escherichia coli, quanto aos antibióticos mais comumente prescritos às crianças em cuidados primários e para quantificar a relação entre a exposição prévia a antibióticos nos cuidados primários e na resistência bacteriana.

As fontes de dados foram: Medline, Embase, Cochrane, e ISI Web of Knowledge. Dois revisores independentes avaliaram a qualidade do estudo e realizada extração de dados.

Foram encontrados 58 estudos observacionais que investigaram 77.783 amostras de urina com  Escherichia coli.  Em estudos de países da OCDE, a prevalência combinada de resistência foi de 53,4% para ampicilina, 23,6% para trimetoprim, 8,2% para amoxicilina-clavulanato, e 2,1% para a ciprofloxacina; nitrofurantoína teve a resistência mais baixa com 1,3%. A resistência em estudos em países fora da OCDE foi significativamente maior: 79,8% para ampicilina, 60,3% para amoxicilina-clavulanato, 26,8% para a ciprofloxacina, e 17,0% para nitrofurantoína. Há evidências de que bactérias isoladas do trato urinário das crianças que receberam prescrições anteriores de antibióticos nos cuidados primários eram mais propensas a serem resistentes aos antibióticos, e esse aumento do risco pode persistir por até seis meses (odds ratio 13,23, IC95% 7,84-22,31).

 

Aplicações Práticas

 Esse é um estudo bastante interessante para pensarmos como guiar terapia empírica em infecção de trato urinário em crianças. O estudo tem algumas limitações como a faixa etária ampla (que foi de 0 a 17 anos) e diferentes critérios de ITU nos estudos, mas temos um dado importante que é a resistência a antibióticos comumente utilizados, sendo mais alta nos países em desenvolvimento, onde nos incluímos. Ao realizar a seleção antibiótica empírica para ITU, padrões de resistência da comunidade devem ser mantidos em mente. Uso indiscriminado de antibióticos é algo que pode explicar essa resistência alta em países como o nosso.  Destaca-se a alta resistência a beta-lactâmicos e maior sensibilidade ao ciprofloxacino e à nitrofurantoína em países fora da OCDE.

 

Referências:

Bryce A et al. Global prevalence of antibiotic resistance in paediatric urinary tract infections caused by Escherichia coli and association with routine use of antibiotics in primary care: Systematic review and meta-analysis. BMJ 2016 Mar 15; 352:i939.

 

Russell G.Antibiotic resistance in children with E coli urinary tract infection. BMJ 2016 Mar 15; 352:i1399.