Paciente do sexo masculino, 34 anos, sem diagnósticos prévios, procura atendimento apresentando quadro de febre de até 38,5 oC há dois dias e intensa odinofagia nas últimas 24h. Ao exame físico, o paciente encontrava-se consciente e orientado (Glasgow 15), corado, hidratado, eupneico, afebril, acinótico e anictérico, com temperatura de 37,9oC. Ausculta cardíaca e pulmonar normais, bem como a propedêutica abdominal. Apresentava os seguintes sinais vitais: FC de 86bpm, FR 16cpm, PA 128x70mmHg, saturação de oxigênio em 96% em ar ambiente. Na oroscopia apresentava bastante hiperemia de orofaringe e pilares amigdalianos, sendo que havia presença de pus em placas na amígdala esquerda. Apresentava ainda linfonodo fibroelástico submandibular à esquerda, com cerca de 2,5 cm no maior eixo, não aderido a plano profundo, doloroso.
Você é o médico que atendeu este paciente. Qual o diagnóstico? E qual deve ser sua conduta em termos de medicação?
Estamos diante de um quadro infeccioso agudo de faringe, ou seja, uma faringite, ou faringoamigdalite. A primeira coisa a fazer é identificar o paciente com potencial faringite estreptocócica, e para isso podemos usar os critérios de CENTOR, que são extremamente validados na literatura, mas utilizamos pouco na prática. A vantagem do uso é que pacientes com menos de três critérios não precisam de antibióticos, e são casos que normalmente se resolverão sem maiores problemas. Os critérios são os seguintes:
Exsudato tonsilar;
Adenopatia cervical anterior;
Febre na história;
Ausência de tosse.
Neste caso, em específico, o paciente apresentava os quatro critérios, fechando o diagnóstico de caso bacteriano, provavelmente estreptocócico. É verdade que muitas diretrizes advogam que deveria ser feito um teste rápido para detecção de antígeno estreptocócico para fechar o diagnóstico, mas sabemos que isso nem sempre é viável na prática. Apenas para lembrar, o padrão-ouro de diagnóstico continua sendo a cultura de swab da garganta do paciente, mas não são custo-efetivas dado que o crescimento leva de 24 a 48h.
As opções terapêuticas adequadas são amoxacilina, ampicilina, cefalosporinas, macrolídeos e clindamicina. Fluorquinolonas, sulfas e tetraciclinas NÃO DEVEM SER USADAS. Uma outra opção rápida e barata é o uso de penicilina G benzatina em dose única de 1.200.000 unidades IM. Pode fazer parte disso, em penicilina procaína (300.000 unidades de procaína com 900.000 de benzatina), o que dá menos desconforto na aplicação e favorece a resposta clínica mais rápida. Em caso de uso de antibiótico oral, preferência pela amoxacilina, por 10 dias, na dose de 1,0 a 1,5g/dia em doses divididas. Uma opção na alergia a penicilinas é usar azitromicina 500mg/dia por cinco dias.
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