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Trombose de Veia Porta

Quadro Clínico

 

Paciente do sexo masculino, 67 anos, cirrótico, apresenta quadro de dor abdominal que está sendo investigado. Na ausência de ascite ao exame físico, foi realizada uma tomografia computadorizada (TC) de abdome, conforme a Figura 1.

 

 

 

TC: tomografia computadorizada.

Figura 1 - Detalhe da TC de abdome mostrando trombose de veia porta (TVP) em sua origem junto à veia esplênica.

 

Discussão

 

A TVP é a causa mais comum de obstrução da veia porta extra-hepática. Entre os pacientes com cirrose, a TVP é comum, com prevalências variando de 6 a 64%, e está associada à gravidade da doença hepática do paciente.

Há diversas condições associadas à TVP. Entre as hereditárias, há as trombofilias (Factor V Leiden, mutação do gene da protrombina, deficiência de proteína C, deficiência de proteína S, deficiência de antitrombina, aumento dos níveis de fator VIII).

Entre as condições adquiridas, há: cirrose, carcinoma hepatocelular, distúrbios mieloproliferativos crônicos (policitemia vera, trombocitemia essencial, mielofibrose idiopática, distúrbios mieloproliferativos inclassificáveis), síndrome antifosfolipídica, hemoglobinúria paroxística noturna, síndrome de Behçet, gravidez recente ou uso de anticoncepcionais orais, lesões inflamatórias abdominais, incluindo infecção, pancreatite e doença inflamatória intestinal, trauma.

Por fim, há procedimentos que se associam com TVP: cirurgia abdominal ou lesão cirúrgica do eixo da veia porta, escleroterapia endoscópica, shunt portossistêmico intra-hepático transjugular, esplenectomia, ressecção hepática, transplante de células de ilhotas pancreáticas.

A TVP carrega consigo risco de complicações, agudas e crônicas. A trombose extensiva envolvendo arcos venosos mesentéricos pode levar à isquemia intestinal e, eventualmente, ao infarto de alças, o que ocorre em TVPs agudas, porque não há tempo de desenvolver colaterais. A isquemia provavelmente está relacionada à obstrução da saída venosa mesentérica, à constrição e à obstrução arterial reflexa e à oclusão.

Outra complicação aguda é a TVP séptica (pylephlebitis aguda), que ocorre quando a TVP se desenvolve em um paciente com foco abdominal de infecção, embora a origem da infecção possa ser difícil de encontrar. Normalmente, a infecção é com Bacteroides fragilis ou Escherichia coli, embora outros patógenos também tenham sido encontrados.

Entre as complicações crônicas, a mais comum é a hipertensão do portal, que é responsável pela maioria das complicações observadas em pacientes com TVP crônica. Há também a colangiopatia portal (também referida como biliopatia portal), que se desenvolve quando os colaterais venosos que se formam na configuração da hipertensão portal comprimem e deformam os grandes ductos biliares, levando à lesão isquêmica aos canais biliares, resultando em formação de estenose e irregularidade de calibre. Pacientes com colangiopatia portal podem desenvolver complicações biliares, incluindo prurido, icterícia obstrutiva, colecistite e colangite.

 

Bibliografia

 

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