As dores musculoesqueléticas recorrentes em membros constituem queixas muito frequentes na faixa etária pediátrica, e a sua avaliação deve permitir a diferenciação entre causas orgânicas e não orgânicas. Dentre as causas não orgânicas, encontra-se a dor de crescimento.
A dor de crescimento é a principal causa de dor em membros e, na maioria das vezes, está associada à presença de conflitos emocionais ou problemas de adaptação ou relacionamento. Este termo teve seu uso consagrado, apesar de incorreto, pois não retrata a etiologia, uma vez que não se comprovou nenhuma relação entre a dor e a velocidade de crescimento.
A dor de crescimento apresenta uma incidência de
A etiologia e a fisiopatologia da dor ainda não estão bem determinadas. Existem várias teorias para explicar a origem desta manifestação, incluindo fatores como fadiga, anormalidades biomecânicas, ansiedade materna e distúrbios emocionais. É muito comum a associação da dor de crescimento com outras dores recorrentes, como cefaleia e dor abdominal, e também com outros quadros de síndrome de amplificação dolorosa, que também podem ser desencadeados por distúrbios emocionais.
A dor geralmente é profunda, intensa, com característica muscular ou periarticular. Raramente é articular, afetando ambos membros inferiores (pernas, coxas, panturrilhas e fossa poplítea). É uma dor profunda, que muitas vezes faz a criança interromper suas brincadeiras ou acordar à noite, mas, fica assintomática no dia seguinte. Os episódios são intermitentes, podendo durar de minutos a horas, e ocorrem sobretudo no final da tarde ou à noite, geralmente nos dias em que a criança apresentou maior atividade física. As crianças com dor de crescimento não apresentam outros sinais como emagrecimento, astenia ou febre. Com o decorrer do tempo, os episódios passam a ocorrer em intervalos maiores.
Ao exame físico, estes pacientes apresentam-se eutróficos, sem claudicação, sem sinais de processo inflamatório ou limitação de movimento.
Os exames subsidiários encontram-se normais (hemograma normal, provas de atividade inflamatória negativas, exames radiológicos sem alterações).
Síndrome da hipermobilidade benigna;
alterações ortopédicas;
discite;
leucemias;
tumores ósseos.
A dor de crescimento é um diagnóstico de exclusão.
Uma vez confirmado o diagnóstico, deve-se explicar à família quanto à natureza benigna e autolimitada do quadro.
Durante os períodos dolorosos, obtém-se melhora do quadro álgico com a realização de massagens, calor local, com ou sem uso de analgésicos.
As atividades físicas ou esportivas não devem ser limitadas; ao contrário, devem ser estimuladas, recomendando-se uma vida normal.
Por conta da associação do quadro com problemas emocionais, é necessária uma maior investigação da situação familiar, na busca de conflitos emocionais.
A realização de um diário da dor, com o relato da frequência e da duração dos episódios, fornece uma avaliação mais precisa dos sintomas, além de permitir que o paciente e a família participem do tratamento.
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"Prezado Pedro, Em contato com os Editores Médicos do site, tivemos a confirmação de que sim, este diagnóstico ainda é válido e, portanto, este texto ainda é considerado atual. Atenciosamente, Atendimento MedicinaNET"
"Um professor discutiu comigo sobre a inexistência do diagnóstico "dor de crescimento". Essa revisão é de 2011. Gostaria de saber se atualmente esse diagnóstico ainda é válido. Obrigado"