Hiperidrose primária (HP) ou essencial é uma condição clínica definida como sudorese excessiva (suor exagerado) que ocorre principalmente nas mãos, nas axilas, nos pés e na face, de forma simétrica, sendo sua etiologia desconhecida.
É um distúrbio crônico acompanhado de constrangimento pessoal, angústia e aflição social, podendo interferir nas atividades diárias e na qualidade de vida dos pacientes.
Tem prevalência relatada de cerca de 0,6% a 1% da população, sendo mais comum em adolescente e adultos jovens, existindo associação familiar em aproximadamente 12,5% a 56,5% dos casos.
Não existe diferença na incidência da HP em ambos os sexos, porém ocorre uma falsa impressão do predomínio entre as mulheres, pois elas procuram o tratamento com maior freqüência.
A HP pode surgir desde a infância, porém manifesta-se com maior intensidade na adolescência.
Caracteriza-se pelo aparecimento de suor exagerado, localizado e simétrico predominantemente nas mãos, nas axilas, nos pés e/ou na face (figuras 1 a 3). A HP ocorre em todas as estações do ano, inclusive no inverno. Em situações de estresse, ansiedade, medo e nervosismo, observa-se piora dos sintomas.
Não há nenhum estudo na literatura atual relacionando o aumento da intensidade do suor com o avanço da idade. Vários estudos demonstram que a severidade do suor parece reduzir após os 50 anos.
Figura 1: Hiperidrose plantar
Figura 2: Hiperidrose palmar
Figura 3: Hiperidrose axilar
Determina o diagnóstico da HP, sendo realizado no próprio consultório médico ou por vezes pelo paciente.
A tabela 1 destaca os critérios diagnósticos da HP.
Tabela 1: Critérios diagnósticos da HP
suor visível, exagerado e localizado, com duração de pelo menos seis meses, sem causa aparente, com pelo menos duas das seguintes características abaixo: |
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Outros sintomas associados |
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A termorregulação corporal é dependente do mecanismo de sudorese fisiológica, que é realizado especialmente pelas glândulas sudoríparas. Em algumas situações, podemos observar uma hiperatividade dessas glândulas, como ocorre durante e após exercícios, em pessoas obesas, durante menopausa ou decorrente de alguma alteração clínica (tabela 2).
O primeiro passo é diferenciar a Hiperidrose secundária (generalizada) da primária (focal). A Hiperidrose secundária normalmente faz parte de algumas outras condições clínicas subjacentes, por exemplo, processos infecciosos, neoplasias ou distúrbios hormonais. A HP, ao contrário da Hiperidrose generalizada, ocorre em indivíduos saudáveis.
Tabela 2: Principais causas de Hiperidrose secundária (generalizada)
Tipo de Hiperidrose |
Doenças freqüentemente associadas |
Hiperidrose primária (focal) |
Hiperidrose idiopática (focal)
Hiperidrose gustatória (síndrome de Frey’s) |
Hiperidrose secundária (generalizada)
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Endócrinas: hipertiroidismo, hiperpituitarismo, diabetes melito, menopausa, gravidez, feocromocitoma, síndrome carcinóide e acromegalia
Neurológico: doença de Parkinson, lesão na medula espinal e acidente cérebro-vascular
Neoplasias: doença de Hodgkin’s e doenças mielo-proliferativas
Infecção: septicemia
Drogas: fluoxetina, venlafaxina, doxepin
Toxicidade: alcoolismo e abuso de substâncias ilícitas |
O diagnóstico da HP é clínico, no entanto, alguns exames complementares são importantes para excluir causas secundárias (tabela 3).
Tabela 3: Exames complementares
Exames laboratoriais
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Hormônios tiroidianos – Hipertiroidismo / tireotoxicose
Glicemia – Diabetes melito
Dosagem de ácido vanil-mandélico, catecolaminas na urina de 24 horas – Feocromocitoma
Dosagem do ácido 5 hidroxiindolacético (urina) – Tumor carcinóide |
Exames de imagens
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Radiografia de tórax – Suspeita de doenças pleuropulmonares e/ou cardíacas
Eletrocardiograma – Suspeita de arritmias cardíacas
Tomografia de tórax e ecocardiograma em casos selecionados |
Já foram tentados inúmeros tratamentos tópicos, locais, clínicos e psicológicos para HP, porém todos são paliativos, com efeitos nulos ou temporários. Atualmente, a simpatectomia torácica bilateral por videotoracoscópica (cirurgia minimamente invasiva) é o tratamento de escolha que fornece resultados duradouros, podendo ser realizada mediante ressecção, termocauterização (destruição por ondas de calor) ou clipagem da cadeia simpática. Isso foi um progresso para o tratamento da HP, sendo este procedimento seguro e amplamente utilizado por vários cirurgiões.
Entretanto, a presença do suor compensatório em outros locais é a complicação mais importante desse tipo de tratamento, podendo afetar de forma significativa a qualidade de vida dos pacientes (tabela 4).
Tabela 4: Tratamento clínico versus cirúrgico
Tratamento clínico |
Soluções adstringentes: cloretos de alumínio, em casos severos freqüentemente causa hiperemia e irritação cutânea.
Iontoforese: são banhos elétricos de baixa voltagem na área afetada que provocam um bloqueio nas glândulas sudoríparas com remissão da sudorese por um período aproximado de 35 dias.
Drogas anticolinérgicas: retemic, rubinol, daricon e probanthine reduzem a atividade do sistema nervoso central, mas os seus efeitos adversos (boca seca, dificuldade para deglutir, mastigar e engolir, retenção urinária e constipação) não são suportados pelo paciente nas doses necessárias para o controle da HP.
Toxina botulínica (Botox): provoca bloqueio neuronal nos receptores da acetilcolina na junção neuromuscular, resultando na redução do impulso transmitido. Funciona por período curto (aproximadamente 4 a 6 meses), sendo imprescindíveis repetições regulares do tratamento. Em algumas regiões do corpo, as injeções são muito doloridas.
Psicoterapia: diminui ansiedade, estresse e insegurança, reduzindo o estímulo neuronal sob o sistema nervoso autônomo. |
Tratamento cirúrgico
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simpatectomia torácica bilateral por videotoracoscópica: o procedimento pode ser realizado por ressecção, termocaulterização ou clipagem da cadeia simpática.
Lipossucção: lipocuretagem axilar.
Ressecção cirúrgica das glândulas sudoríparas axilares. |
A cadeia ganglionar simpática é acessada bilateralmente por meio da videotoracoscopia. Os locais de introdução da câmera variam conforme a preferência do cirugião, axila, sulco mamário ou inframamilar. Após a introdução da ótica, a cadeia é facilmente visualizada na goteira paravertebral (figura 4). A seleção do nível de secção da cadeia é dependente do tipo de Hiperidrose, conforme discriminado na tabela 5.
Figura 4: Visão frontal do mediastino posterior Se observa em amarelo a cadeia simpática (A) na goteira paravertebral. Outras estruturas: veia ázigos (B), duto torácico (C), aorta descendente (D), diafragma (E).
Tabela 5: Técnica operatória
Localização da Hiperidrose |
Gânglio simpático |
Craniofacial |
T2 |
Palmar |
T3 |
Palmo-axilar |
T4 |
Axilar |
T4 |
A HP caracteriza-se pelo suor excessivo, localizado e simétrico preferencialmente nas mãos, nas axilas, nos pés e/ou na face.
O diagnóstico é eminentemente clínico, por vezes realizado pelo próprio paciente.
Situações de estresse, ansiedade, medo e insegurança aumentam a intensidade do suor.
A Hiperidrose secundária costuma ser generalizada, e causada por condições clínicas subjacentes como processos infecciosos, neoplasias ou distúrbios hormonais.
O diagnóstico da HP é clínico, mas exames complementares são importantes para excluir causas secundárias.
A simpatectomia torácica bilateral por videotoracoscopia é o tratamento mais efetivo para HP e tem como principal efeito colateral o desenvolvimento de Hiperidrose reflexa em outros locais que não o primário.
Algoritimo 1: Avaliação e tratamento do paciente com HP
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