Última revisão: 19/01/2012
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Elizabeth G. Nabel, MD, FACP
President, Brigham and Women's Hospital, Professor of Medicine, Harvard Medical School, Boston, MA
Artigo original: Nabel ES. On being a physician. ACP Medicine. 2010;1-2.
[The original English language work has been published by DECKER INTELLECTUAL PROPERTIES INC. Hamilton, Ontario, Canada. Copyright © 2011 Decker Intellectual Properties Inc. All Rights Reserved.]
Tradução: Soraya Imon de Oliveira
Revisão Técnica: Dr. Euclides Furtado de Albuquerque Cavalcanti
Os profissionais de saúde detêm uma posição especial em nossa sociedade. Quase todas as sociedades humanas, na verdade, contam com indivíduos que exercem o papel de cuidadores da saúde da comunidade. Um fio em comum a unir diversas sociedades é a combinação da ciência à arte da medicina. Em algumas sociedades, essa função baseava-se apenas minimamente na ciência, e a prática da cura era uma arte que apresentava forte dependência de um relacionamento pessoal e de confiança entre o paciente e o curandeiro. Na sociedade contemporânea, no entanto, a medicina combina uma base científica cada vez mais rica a uma ligação social menos importante entre médico e paciente.
O papel do médico como cuidador tem se tornado mais complexo nos últimos anos. A reforma da assistência à saúde irá melhorar o acesso à assistência médica para muitos milhões de norte-americanos* Com o tempo, também é prevista uma reforma dos métodos de pagamento, de modo que este mudará para o reembolso de resultados global ou em pacotes com base no valor, na qualidade e na segurança, em vez de enfatizar uma taxa por serviço baseada no volume. A ênfase será cada vez mais voltada à assistência centrada no paciente e na família. A frase “tratamento certo para a pessoa certa no cenário certo e no momento certo” é utilizada com frequência. A equipe médica também está em expansão. Cada vez mais, os médicos compartilharão suas responsabilidades pela assistência com enfermeiros, médicos assistentes, farmacêuticos, técnicos, terapeutas e familiares dos pacientes.. Muitos exercerão a prática no contexto de uma equipe multidisciplinar ou equipe de saúde da família, que nos Estados Unidos tem sido denominada “Domicílio de Saúde” (medical home)*.O médico, no entanto, continuará a carregar a maior parte da responsabilidade pela assistência prestada ao paciente.
Para ser o médico de um paciente, é necessário possuir certo número de atributos. O Accreditation Council for Graduate Medical Education (ACGME) destacou seis competências “centrais” necessárias a todos os estagiários de medicina, independentemente da disciplina:
1. Conhecimento médico.
2. Atenção para com o paciente.
3. Habilidades de comunicação e interpessoais.
4. Profissionalismo.
5. Aprendizado e aprimoramento baseados na prática.
6. Prática baseada em sistemas.
Essas competências centrais também foram adotadas pela Joint Commission on Accreditation of Hospital Organizations (JCAHO) e são utilizadas como referência da prática médica em andamento para todos os médicos sujeitos à acreditação pela JCAHO. O Institute of Medicine aprovou essas competências centrais em suas contínuas discussões de medicina baseada em valores e evidências.
O ensino baseado na competência enfoca o desempenho do aprendiz (resultados do aprendizado) em alcançar objetivos específicos (metas). Esse tipo de ensino desvia o foco do ensino de residentes, mudando-o de medidas processo-orientadas (quantos procedimentos um residente completou) para medidas resultado-orientadas (quão bem o residente completou o procedimento). O ACGME Outcome Project (Projeto de Resultados da ACGME) tem duas metas. A primeira delas requer que os residentes desenvolvam competências para concluir o treinamento e a prática como médicos independentes. A segunda considera que o ensino do residente e do médico praticante deve ser um potente veículo para melhorar a assistência prestada ao paciente. A maioria dos pacientes concordaria que todos desejam contar com médicos possuidores de sólido conhecimento em medicina, dotados de boas habilidades de comunicação, profissionais, conhecedores da literatura, preocupados com suas práticas e defensores dos pacientes junto ao sistema de assistência à saúde.
Os médicos devem demonstrar ter conhecimento sobre ciências biomédicas, clínicas e cognatas (ou seja, epidemiológicas, sociais e comportamentais) já estabelecidas e ainda em desenvolvimento, bem como sobre a aplicação desse conhecimento na assistência prestada ao paciente. Os residentes devem apresentar uma postura investigativa e analítica diante das situações clínicas, além de aplicar os conhecimentos das ciências básicas e de suporte clínico adequados às próprias disciplinas. O conhecimento médico constitui o fundamento de nossa profissão, está sempre evoluindo e cobra de nós – médicos o engajamento num aprendizado que se estende por toda a vida.
Os médicos estão comprometidos num relacionamento privilegiado com seus pacientes, o qual é construído com base em confiança, empatia e proteção. A assistência prestada pelos médicos ao paciente deve ser compassiva, adequada e efetiva para o tratamento dos problemas de saúde e promoção da saúde. Tanto os médicos em treinamento como os médicos em exercício devem ser competentes com relação a 8 atributos:
1. Comunicar-se de modo efetivo e demonstrar comportamento atencioso e respeitoso para com os pacientes e seus familiares.
2. Obter informações acuradas e essenciais acerca dos pacientes.
3. Realizar o diagnóstico informado e tomar decisões terapêuticas com base em informações e preferências do paciente, informações científicas atualizadas e julgamento clínico.
4. Desenvolver e realizar planos de supervisão do paciente.
5. Aconselhar e ensinar os pacientes e seus familiares.
6. Utilizar a tecnologia da informação para dar suporte à tomada de decisões e ao ensino do paciente.
7. Conduzir com competência procedimentos apropriados à área da prática.
8. Trabalhar de forma efetiva com outros profissionais da área de assistência à saúde, no sentido de obter resultados benéficos junto ao paciente.
Esses atributos são essenciais a uma prática médica bem-sucedida.
Os médicos devem adotar uma abordagem de aprendizado perpétuo, com a qual possam apreciar e assimilar continuamente evidências científicas para avaliar e melhorar suas próprias práticas. O aprendizado baseado na prática é essencial ao sucesso de uma atenção ao paciente que enfoque valores, qualidade e segurança. Os médicos possuem o conjunto de habilidades necessário para analisar quão devidamente estão seguindo as diretrizes clínicas padrão de suas especialidades, e devem refletir sobre a assistência que prestam a seus pacientes utilizando essa autorreflexão para direcionar seu aprendizado e aprimoramento. É essencial haver um compromisso com a melhora da qualidade e no sentido de proporcionar experiências seguras ao paciente, bem como utilizar a tecnologia da informação para apoiar suas práticas. Os médicos devem se sentir confortáveis ao atuar como professores efetivos de múltiplos grupos de aprendizes. Por fim, é preciso que os médicos compreendam as disparidades de saúde existentes nas suas populações de pacientes, incluindo a epidemiologia de suas doenças e as potenciais diferenças apresentadas por outras populações.
O profissionalismo abrange múltiplos atributos, e reconhecemos aqueles médicos que demonstram de forma consistente um comportamento profissional, expressando respeito e compaixão para com os outros, administrando conflitos e se comportando de modo condizente com os próprios valores. O profissionalismo também inclui o conhecimento e a habilidade de atuar de modo ético e de ser sensível àqueles que diferem quanto a cultura, idade ou gênero. Residentes em treinamento devem demonstrar que assumiram o compromisso de cumprir suas responsabilidades profissionais, aderir aos princípios éticos e ser sensíveis a populações de pacientes diversas.
As habilidades interpessoais e de comunicação vão além da entrevista médica e da obtenção da história. As habilidades de comunicação efetivas estão no coração da assistência de qualidade prestada ao paciente. Nossospacientes e seus familiares esperam que os médicos e suas equipes de atendimento se comuniquem claramente com eles, solicitem o consentimento informado e lhes transmitam más notícias com empatia e compaixão. As habilidades de comunicação são especialmente importantes quando as equipes médicas precisam se comunicar em momentos em uma das equipes não estiver cuidando diretamente do paciente, com o intuito de evitar erros médicos. Residentes em treinamento devem procurar ouvir com atenção a história de seus pacientes, extrair detalhes significativos a partir dessa história e fornecer informações aos pacientes e seus familiares de maneira compreensível. Sobretudo, os médicos devem estabelecer relacionamentos com seus pacientes que venham a promover uma boa prestação de assistência a estes. Como médicos, nós somos os defensores de nossos pacientes.
Os médicos, cada vez mais, integram uma equipe maior de prestação de assistência à saúde, na qual suas habilidades de negociação por meio desse sistema são essenciais à função de defensor do paciente. Nós devemos ter uma apreciação para os sistemas de cobrança e codificação, operações das diferentes seguradoras, determinação custo-efetiva de estudos auxiliares de imagem ou laboratoriais, bem como da prescrição custo-efetiva das medicações. A competência da prática baseada em sistemas também inclui a segurança do paciente. Os médicos precisam compreender como o sistema, no conjunto, poderia contribuir para o erro médico. Por fim, para prestar uma assistência de qualidade, os médicos associam-se a outros indivíduos no sistema, tais como enfermeiros, planejadores de liberação, assistentes sociais, capelões e farmacêuticos. Residentes em treinamento devem demonstrar conscientização e responsabilidade em relação ao contexto mais amplo e ao sistema de assistência à saúde, bem como habilidade para recorrer efetivamente aos recursos do sistema com o objetivo de prestar uma assistência de excelente valor.
Sem dúvida, numerosas oportunidades e desafios estão a nossa frente, conforme navegamos pela reforma na assistência à saúde. Um contingente bem maior de americanos contará com seguro-saúde e – espera-se – acesso à assistência à saúde. É provável que venhamos a ser desafiados no sentido de reduzir os custos da assistência à saúde e, ao mesmo tempo, preservar seu valor, qualidade e segurança. Embora esse seja nosso atual panorama, ser médico hoje implica muitos dos mesmos papéis e responsabilidades implicados no passado. Os médicos, de fato, contam com uma oportunidade sem precedentes para combinar o conhecimento científico com as tradições de uma profissão antiga e honrada para servir e ajudar a humanidade.
* Nota dos editores do MedicinaNET: o sistema de saúde norte-americano passou por uma reforma recente que melhorará o acesso à saúde de populações menos favorecidas.
* Nota do tradutor: o conceito de “Medical Home” engloba uma série de princípios e a maioria destas equipes de saúde compartilha elementos comuns. Cada paciente tem um contato próximo com sua equipe para cuidados continuados, o generalista e sua equipe são os responsáveis pela coordenação do cuidado (encaminhamentos aos especialistas, instituição de intervenções diagnósticas e terapêuticas), as equipes fazem uso extensivo de prontuário eletrônico e procuram estimular a participação do paciente e seus familiares nos cuidados. No Brasil, o modelo de equipes de saúde da família é o que mais se aproxima do conceito de “Medical Homes” norte-americano.
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