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Dexametasona na enxaqueca

Autor:

Rodrigo Díaz Olmos

Doutor em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de são Paulo (FMUSP). Diretor da Divisão de Clínica Médica do Hospital Universitário da USP. Docente da FMUSP.

Última revisão: 12/10/2008

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Dexametasona não é eficaz na crise aguda de enxaqueca, mas reduz recorrências

 

Dexametasona parenteral para crise aguda severa de enxaqueca: meta-análise de ensaios clínicos randomizados para prevenir recorrência.

Parenteral dexamethasone for acute severe migraine headache: Meta-analysis of randomised controlled trials for preventing recurrence. BMJ 2008 Jun 14; 336:1359 [Link Livre para o Artigo Original].

 

Fator de impato da revista (British Medical Journal): 9,245

 

Contexto Clínico

            enxaqueca (migrânea) é um problema de saúde comum e com um grande impacto em termos de morbidade e qualidade de vida. Inquéritos populacionais ao redor do mundo sugerem que cerca de 6% dos homens e 15% a 17% das mulheres têm crises de enxaqueca. Grande parte dos pacientes com crises agudas de enxaqueca procuram o pronto-socorro. Estima-se que cerca de 5% das visitas ao pronto-socorro sejam devidas a tais crises. Existem inúmeros agentes efetivos para o tratamento das crises agudas, entretanto a recorrência é elevada. Há evidências que sugerem a participação de processo inflamatório na fisiopatologia da enxaqueca, o que tem suscitado o uso de antiinflamatórios não hormonais e corticoesteróides no tratamento das crises agudas. Esta revisão procurou avaliar as evidências provenientes de estudos controlados sobre a eficácia e a tolerabilidade de corticóide parenteral para alívio e prevenção de recorrências nas crises agudas de enxaqueca em adultos.

 

O Estudo

            Os autores realizaram uma revisão sistemática e metanálise de ensaios clínicos randomizados e controlados nos quais corticóide (isolado ou combinado a outros agentes para crises agudas) foi comparado com placebo ou com outro agente para crises agudas de enxaqueca. Para tanto foi feita uma revisão da literatura utilizando-se os bancos de dados eletrônicos (Central Cochcrane de registros de estudos controlados, Medline, Embase, LILACS e CINAHL) (ver Dicas de Epidemiologia e Medicina baseada em Evidências), arquivos de congressos, diretrizes de prática clínica, contato com a indústria farmacêutica e correspondência com autores. Dois revisores independentes avaliaram a relevância, os critérios de inclusão e a qualidade dos estudos. As diferenças médias ajustadas pelo peso do estudo e o risco relativo foram calculados e relatados com seus intervalos de confiança de 95%. De 666 resumos potencialmente relevantes, apenas 7 estudos estavam de acordo com os critérios de inclusão. Todos os estudos incluídos utilizaram medicação padrão para crises de enxaqueca inicialmente e depois compararam dose única de Dexametasona parenteral com placebo, avaliando o alívio da dor e a recorrência da crise em 72h como desfechos primários.

 

Resultados

            Dexametasona e placebo aliviaram a dor de forma semelhante (diferença média 0,37; IC 95% -0,20 a 0,94). Entretanto a Dexametasona foi mais efetiva que o placebo em reduzir a recorrência da crise em 72h (RR:0,74; IC 95% 0,60 – 0,90). O perfil de efeitos colaterais entre os dois grupos foi semelhante. A conclusão dos autores é de que a adição de uma dose única de Dexametasona parenteral à terapia habitual para crises agudas de enxaqueca está associada a uma redução relativa de 26% da recorrência da crise de enxaqueca dentro das primeiras 72h, com um NNT (número necessário para tratar) de 9.

 

Aplicação para a Prática Clínica

            O uso de Dexametasona parenteral no tratamento de crises agudas de enxaqueca já é amplamente utilizado em nosso meio. Este estudo vem corroborar nossa prática, mostrando que o benefício da Dexametasona ocorre na recorrência da crise em curto prazo e não na fase aguda. O estudo também mostrou que os efeitos colaterais da Dexametasona foram semelhantes ao placebo. Assim, não há nenhuma modificação sugerida para a prática corriqueira de se prescrever Dexametasona na crise de enxaqueca, mas apenas reforçá-la e embasá-la utilizando-se evidências de melhor qualidade.

 

Dicas de Epidemiologia e Medicina Baseada em Evidência

Bases ou bancos de dados2

            A pesquisa de dados na literatura médica pode ser um grande desafio. Atualmente estão disponíveis mais de 20 milhões de artigos médicos e a cada mês milhares de novos artigos são publicados. Assim, mesmo que você aplique todo seu conhecimento crítico para diferenciar artigos de boa qualidade de artigos ruins, você não terá sucesso se não souber encontrar os artigos pertinentes ao assunto que está estudando ou revisando. Existem inúmeras bases de dados e métodos de busca. Um grande número de artigos está indexado na grande base de dados Medline, mas nem todos. Existem outras bases de dados que podem ser usadas para explorar áreas específicas ou para encontrar estudos pré-avaliados ou evidências sintetizadas como a AMED (Allied and Complementary Medicine), CINAHL (base de dados sobre enfermagem), Current Contents Search, Embase, LILACS, HealthSTAR, PsycInfo, SCOPUS, Cochrane Library (Cochcrane Database of systematic reviews, Cochrane registry of controlled trials, Cochrane review methodoly database e outras), National Guideline Clearinghouse, NICE (National Institute of Health and Clinical Excellence), Clinical Evidence, e muitas outras. Cada uma destas bases de dados tem ferramentas de busca diferentes, havendo necessidade do leitor aprender a usar a base. Isto pode ser feito, geralmente, no próprio site, nos tutoriais eletrônicos. Existem alguns textos que dão uma boa introdução à utilização das bases de dados e suas ferramentas de busca2,3.

 

Bibliografia

1.Colman I et al. Parenteral dexamethasone for acute severe migraine headache: Meta-analysis of randomised controlled trials for preventing recurrence. BMJ 2008 Jun 14; 336:1359. [Link Livre para o Artigo Original]

2.Greenhalgh T. Pesquisando a literature. In “ Como ler artigos científicos”. 3ª Edição, Artmed, 2008.

3. Corrall CJ, Wyer PC, Zick LS, Bockrath CR. How to find evidence when you need it, part 1: databases, search programs, and strategies. Ann Emerg Med. March 2002;39:302-306. [Link Livre para o Artigo Original]

 

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