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Enxaqueca com Aura e Risco de AVC

Autor:

Rodrigo Díaz Olmos

Doutor em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de são Paulo (FMUSP). Diretor da Divisão de Clínica Médica do Hospital Universitário da USP. Docente da FMUSP.

Última revisão: 19/01/2009

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Enxaqueca com Aura e Risco de AVC

 

Relações entre o polimorfismo 677C>T no gene da metilenotetrahidrofolato redutase (MTHFR), enxaqueca e doença cardiovascular

Interrelationships among the MTHFR 677C>T polymorphism, migraine, and cardiovascular disease. Neurology 2008 12; 71:505.

 

Fator de Impacto da Revista (Neurology): 6,014

 

Contexto Clínico

A enxaqueca (migrânea) pode ser uma doença incapacitante, cuja etiologia é complexa. A hereditariedade tem um papel importante em sua etiologia, havendo disfunção neuronal e vascular na sua fisiopatologia. As disfunções vasculares são particularmente interessantes, uma vez que estudos epidemiológicos mostraram que há um risco aumentado de eventos vasculares isquêmicos entre os pacientes com enxaqueca, particularmente os que apresentam enxaqueca com aura. Tem-se sugerido que esta associação esteja relacionada ao polimorfismo 677C>T no gene da metilenotetrahidrofolato redutase (MTHFR). Três genótipos são descritos para este polimorfismo (TT, CT e CC). O genótipo TT compromete a atividade enzimática, aumentando os níveis de homocisteína. As associações entre este polimorfismo, níveis de homocisteína e doença cardiovascular são controversas, mas alguns estudos sugerem que o genótipo TT e níveis elevados de homocisteína aumentam o risco de acidente vascular isquêmico (AVCI) e infarto do miocárdio. Também há relatos de associação do genótipo TT com enxaqueca e enxaqueca com aura. Portanto, inter-relações entre o polimorfismo 677C>T no gene da MTHFR, enxaqueca e doença cardiovascular são plausíveis, mas permanecem pouco conhecidas e controversas. Sendo assim, os autores realizaram um estudo de associação com mulheres americanas brancas participando do Women´s Health Study com informações sobre o polimorfismo 677C>T no referido gene.

 

O Estudo

Foi um estudo de coorte, com 25.001 mulheres brancas, participando do Women´s Health Study. enxaqueca e aura de enxaqueca foram auto-relatadas. Eventos cardiovasculares incidentes foram confirmados após análise de registros médicos. Os autores utilizaram um modelo de regressão logística para investigar a associação genótipo – enxaqueca, e modelos de efeitos deletérios proporcionais (Proportional Hazards Models) para investigar as inter-relações entre genótipo, enxaqueca e doença cardiovascular incidente. Os modelos de regressão incluíram, além de fatores de risco cardiovasculares tradicionais, nível de homocisteína e ingestão de folato, vitamina B2, vitamina B6 e vitamina B12.

 

Resultados

Na avaliação inicial de base, 4.577 mulheres (18,3%) relataram história de enxaqueca e 3.226 mulheres (12,9%) relataram enxaqueca ativa, das quais 39,5% apresentavam aura. Durante uma média de 11,9 anos de seguimento, 625 eventos cardiovasculares ocorreram. Os carreadores do genótipo TT tinham uma probabilidade menor de apresentar enxaqueca com aura (RR: 0,79 IC95% 0,65-0,96; p=0,02). O genótipo TT não aumentou o risco de eventos cardiovasculares. Por outro lado, enxaqueca com aura dobrou o risco de eventos cardiovasculares (RR: 2,06 IC95% 1,53-2,78; p<0,0001). A coexistência de enxaqueca com aura e o genótipo TT aumentou seletivamente este risco (RR: 3,66 IC95% 1,69-7,90; p=0,001). Este padrão ocorreu em virtude de um aumento de quatro vezes no risco de AVCI (RR: 4,19 IC95% 1,38-12,74; p=0,01), não tendo havido associação com infarto do miocárdio. Os autores concluem que o genótipo TT apresenta um modesto efeito protetor sobre enxaqueca com aura e que o risco aumentado de eventos cardiovasculares observado entre as mulheres com enxaqueca com aura foi potencializado dentre os carreadores do genótipo TT, em virtude principalmente de um aumento do risco de AVCI.

 

Aplicações para a Prática Clínica

Os aspectos positivos deste estudo incluem o grande número de participantes, o desenho prospectivo e o seguimento médio de cerca de12 anos. Seus resultados são robustos do ponto de vista estatístico. Entretanto apresenta algumas limitações, dentre as quais podemos citar o fato de a presença de enxaqueca e de aura terem sido auto-relatadas, o que pode ter levado a uma classificação equivocada; e o fato de terem sido estudadas apenas mulheres brancas, profissionais da saúde, com mais de 45 anos, o que torna a generalização dos resultados problemática. No mais, foi um estudo muito bem conduzido, mostrando que alguns subgrupos de pacientes com enxaqueca (neste caso enxaqueca com aura) apresentam risco mais elevado de doença cardiovascular, e que marcadores genéticos podem aumentar este risco ainda mais. A identificação de indivíduos de muito alto risco para eventos cardiovascular pode levar a intervenções mais agressivas para redução de risco.

 

Bibliografia

1.    Schürks M, Zee RYL, Buring JE, Kurth T. Interrelationships among the MTHFR 677C>T polymorphism, migraine, and cardiovascular disease. Neurology 2008 Aug 12; 71:505.

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