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Vitaminas E e C na prevenção de câncer

Autor:

Rodrigo Díaz Olmos

Doutor em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de são Paulo (FMUSP). Diretor da Divisão de Clínica Médica do Hospital Universitário da USP. Docente da FMUSP.

Última revisão: 15/03/2009

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Vitaminas E e C na prevenção de câncer

 

Vitaminas E e C na prevenção de câncer de próstata e câncer em geral em homens1.

Vitamins E and C in the Prevention of Prostate and Total Cancer in Men. The Physicians’ Health Study II Randomized Controlled Trial. JAMA. 2009;301(1):52-62 [Link para Abstract].

 

Fator de impacto da revista (JAMA): 25,547

 

Contexto Clínico

            Muitos indivíduos utilizam vitaminas na esperança de prevenir doenças crônicas como o câncer e doenças cardiovasculares. As vitaminas C e E estão entre as mais utilizadas como suplementos individuais, sem contar os inúmeros suplementos que contém várias vitaminas e oligoelementos. A análise secundária de dois ensaios clínicos randomizados2,3 sugeriu que a vitamina E possa reduzir a incidência de câncer de próstata, entretanto poucos estudos tiveram poder para avaliar esta relação. Além disso, nenhum estudo avaliou o papel da vitamina C isoladamente, em homens sob risco médio, na prevenção de câncer. Diante destas considerações os autores realizaram um grande ensaio clínico para avaliar o efeito das vitaminas C e E sobre a incidência de câncer em geral e câncer de próstata em particular em homens.

 

O Estudo

            O Physicians’ Health Study II é um ensaio clínico randomizado, duplo-cego, controlado com placebo iniciado em 1997 e terminado em 2007. A randomização foi realizada por blocos de 16 e estratificada por idade, diagnóstico prévio de câncer e diagnóstico prévio de doença cardiovascular. Foram incluídos 14.641 médicos dos EUA com 50 anos ou mais. O estudo incluiu 4 braços avaliando vitamina C e seu placebo; vitamina E e seu placebo, beta-caroteno e seu placebo e um polivitamínico e seu placebo. Em relação aos braços vitamina E e C (resultados relatados no presente artigo), a randomização produziu 4 grupos semelhantes: vitamina E ativa, vitamina C ativa, ambas vitaminas ativas ou ambos placebos. A maior parte dos participantes eram homens sem história prévia de câncer, entretanto 1.307 participantes (8,9%) apresentavam história prévia de câncer.

 

Resultados

            Durante uma média de seguimento de 8 anos, houve 1008 casos incidentes de câncer de próstata confirmados e 1943 cânceres totais. Comparado com placebo, a vitamina E não apresentou nenhum efeito sobre a incidência de câncer de próstata (9,1 casos por 1000 pessoas–ano no grupo vitamina E ativa X 9,5 casos no placebo; risco relativo – RR:0,97 IC95% 0,85-1,09; p=0,58), nem sobre a incidência de câncer em geral (17,8 X 17,3 casos por 1000 pessoas-ano; RR:1,04 IC95% 0,95-1,13; p=0,41). Também não houve nenhum efeito significante da vitamina C sobre a incidência de câncer total (17,6 X 17,5 casos por 1000 pessoas-ano; RR:1,01 IC95% 0,92-1,10; p=0,86) nem sobre a incidência de câncer de próstata (9,4 X 9,2 casos por 1000 pessoas-ano; RR:1,02 IC95% 0,90-1,15; p=0,80). Nenhuma das vitaminas ativas apresentou efeito significante sobre a incidência de câncer de cólon, de pulmão ou qualquer outro câncer sítio-específico. Ajustes para o grau de aderência e para as exclusões ocorridas nos primeiros 4 ou 6 anos de seguimento não alteraram os resultados. Estratificação por vários fatores de risco para câncer também não alterou os resultados. Os autores concluem que neste grande ensaio clínico de médicos homens, suplementação de vitaminas E ou C não reduziu o risco de câncer de próstata ou câncer em geral e que, portanto, estes dados não suportam o uso destes suplementos na prevenção de câncer em homens idosos e de meia idade.

 

Aplicações para a Prática Clínica

Este estudo, juntamente com outros estudos que abordam a questão da suplementação vitamínica na prevenção de doenças crônicas (incluindo o outro artigo discutido esta semana no MedicinaNet4), não mostrou nenhum benefício da suplementação de vitamina C nem de vitamina E na redução do risco de câncer de próstata e de câncer em geral. São dois grandes estudos com um grande número de participantes e um longo tempo de seguimento, produzindo um grande poder estatístico, fazendo com que seja improvável que tais estudos tenham deixado de detectar até mesmo um benefício de tamanho modesto. Ao que parece o benefício de certas vitaminas e oligoelementos só ocorre quando estes fazem parte de uma dieta saudável e balanceada (ou mesmo de todo o estilo de vida que acompanha este tipo de dieta saudável) e não como suplementação dietética prescrita na forma de cápsulas e comprimidos. Na verdade esta tentativa de demonstrar alguma ação de suplementos vitamínicos também se enquadra, na visão deste editor, no conceito de medicalização social, tema que temos utilizado com certa frequência nesta seção, pois acreditamos tratar-se de um grande problema a que está submetida a saúde nos dias de hoje. É uma questão que deve ser combatida de todas as formas e sua presença deve ser sempre apontada e discutida.

            Por fim, este editor, recomenda que não se utilizem suplementos vitamínicos (particularmente a vitamina C, a vitamina E e o selênio) como forma de prevenção de câncer. E, indo um pouco além dos resultados destes estudos, recomendamos pela não utilização de suplementos vitamínicos preventivos em qualquer circunstância, deixando a prescrição de vitaminas para os casos em que uma deficiência específica tenha sido detectada.

 

Bibliografia

1. Gaziano JM, Glynn RJ, Christen WG, Kurth T, Belanger C,  MacFadyen J, Bubes V, Manson JE, Sesso HD, Buring JE. Vitamins E and C in the Prevention of Prostate and Total Cancer in Men. The Physicians’ Health Study II Randomized Controlled Trial. JAMA. 2009;301(1):52-62.

2. The Alpha-Tocopherol, Beta Carotene Cancer Prevention Study Group. The effect of vitamin E and beta carotene on the incidence of lung cancer and other cancers in male smokers. N Engl J Med. 1994; 330(15):1029-1035.

3. Virtamo J, Pietinen P, Huttunen JK, et al; ATBC Study Group. Incidence of cancer and mortality following alpha-tocopherol and beta-carotene supplementation: a postintervention follow-up. JAMA. 2003; 290(4):476-485.

4. Lippman SM, Klein EA, Goodman PJ, Lucia MS, Thompson IM, Ford LG, Parnes HL, Minasian LM, Gaziano JM, Hartline J, Parsons JK, Bearden JD, Crawford ED, Goodman GE, Claudio J, Winquist E, Cook ED, Karp DD, Walther P, Lieber MM, Kristal AR, Darke AK, Arnold KB, Ganz PA, Santella RM, Albanes D, Taylor PR, Probstfield JL, Jagpal TJ, Crowley JJ, Meyskens Jr FL, Baker LH, Coltman CA. Effect of Selenium and Vitamin E on Risk of Prostate Cancer and Other Cancers. The Selenium and Vitamin E Cancer Prevention Trial (SELECT). JAMA. 2009;301(1):39-51.

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