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Moradia para adultos sem teto e utilização de serviços de saúde

Autor:

Rodrigo Díaz Olmos

Doutor em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de são Paulo (FMUSP). Diretor da Divisão de Clínica Médica do Hospital Universitário da USP. Docente da FMUSP.

Última revisão: 18/05/2009

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Moradia para adultos sem teto e utilização de serviços de saúde

 

Efeito de um programa de moradia e manejo de caso sobre a utilização do pronto-socorro e hospitalizações entre adultos sem-teto portadores de doenças crônicas. Um ensaio clínico randomizado.

Effect of a Housing and Case Management Program on Emergency Department Visits and Hospitalizations Among Chronically Ill Homeless Adults. A Randomized Trial. JAMA. 2009;301(17):1771-1778 [Link para Abstract].

 

Fator de impacto da revista (JAMA): 25,547

 

Contexto Clínico

            Adultos sem-teto, especialmente aqueles portadores de doenças crônicas, utilizam com frequência serviços de saúde de alto custo como serviços hospitalares e pronto-socorros. Tratar das necessidades de saúde de populações sem-teto é um grande desafio para médicos, instituições de saúde e governo. As taxas de doenças crônicas entre indivíduos sem-teto são altas, além disso, são utilizadores frequentes de serviços de emergência de alto custo. Sendo assim, os autores realizaram um ensaio clínico randomizado para avaliar a eficácia de um programa de moradia e manejo de caso na redução da utilização de serviços hospitalares de urgência entre adultos sem-teto portadores de doenças crônicas.

 

O Estudo

            Foi um ensaio clínico randomizado, controlado, realizado num hospital público de ensino e num hospital privado sem fins lucrativos em Chicago, Illinois.  Os participantes foram 405 adultos sem-teto portadores de doenças crônicas, encaminhados pelo serviço social de setembro de 2003 a maio de 2006. A análise foi realizada por intenção de tratar. A intervenção consistia em fornecimento de moradia temporária logo após a alta hospitalar, seguida de moradia definitiva. O acompanhamento clínico (manejo de caso) era fornecido nos locais de estudo, nos locais de moradia transitória e nos locais de moradia definitiva. Os participantes no grupo de cuidados habituais recebiam um plano de alta padronizado fornecido pelo serviço social do hospital. Os desfechos avaliados foram hospitalizações, dias de internação e visitas ao pronto-socorro, medidos através de vigilância eletrônica, prontuários médicos e entrevistas. O seguimento médio foi 18 meses. A amostra (n=405) consistia de 78% de homens e 78% de afroamericanos, com um tempo médio sem lar de cerca de 30 meses.

 

Resultados

            Após 18 meses, 73% dos participantes tiveram pelo menos uma hospitalização ou visita ao pronto-socorro. Comparado ao grupo de cuidados habituais (comparação ajustada para covariáveis), o grupo de intervenção apresentou um redução relativa de 29% nas hospitalizações (IC95% 10% – 44%), de 29% no número de dias hospitalizados (IC95% 8% - 45%) e uma redução relativa de 24% nas visitas ao pronto-socorro (IC95% 3% - 40%). Os autores concluem que o oferecimento de moradia e de acompanhamento clínico a uma população de adultos sem-teto portadores de doença crônica resultou em menor número de hospitalizações, de dias internados e de visitas ao pronto-socorro, comparado às orientações habituais após uma alta hospitalar destes pacientes.

 

Aplicações para a Prática Clínica

            Ensaio clínico randomizado, com desenho interessante, que avaliou o impacto de uma intervenção sócio-econômica sobre desfechos médicos. Há uma deficiência de ensaios clínicos bem feitos que avaliem estas questões. Se por um lado sabemos da associação de fatores sociais, culturais e econômicos com a gênese de sofrimentos físicos e psíquicos, muitas vezes atribuímos importância secundária a questões desta natureza, talvez levados por uma certa ansiedade em encontrar causas orgânicas, explicáveis através de fatores bem definidos e para os quais existam intervenções simples e objetivas. Mas a realidade é outra. Não há dúvidas de que fatores sócio-econômicos têm um papel importantíssimo na gênese das doenças. Este estudo vem corroborar com esta visão, não apenas de cunho filosófico, mas também com grandes implicações práticas. A magnitude do benefício observada neste estudo foi grande (as análises mais conservadoras sugerem uma redução de 29% nos dias de hospitalização e de 24% nas visitas a pronto-socorros). Isto se traduz num impacto substancial sobre o sistema de saúde. Avaliando os dados de outra forma, para cada 100 adultos sem-teto que recebem uma intervenção semelhante, os benefícios esperados em 1 ano seriam 49 internações a menos, 270 dias a menos de internação e 116 visitas a pronto-socorros a menos. Deve-se lembrar que estes resultados se aplicam a adultos sem lar estável, que já foram internados por pelo menos 1 vez e que possuem pelo menos 1 doença crônica. Uma limitação do estudo, relatada pelos autores, refere-se ao fato de que não se avaliou o tipo de serviço de saúde dispensado nas re-internações ou nas visitas ao PS. Por exemplo, não se diferenciou se uma visita ao PS ocorreu para troca de prescrição (situação comum entre indivíduos que não tem acesso adequado a serviços de atenção primária) ou em consequência de doença grave. Além disso, o estudo não teve poder para diferenciar os efeitos independentes dos componentes da intervenção - manejo de caso (acompanhamento clínico) e moradia. A despeito destas considerações, os resultados são contundentes, mostrando que populações vulneráveis se beneficiam de intervenções nos determinantes sócio-econômicos da doença.

 

Bibliografia

1. Sadowski LS, Kee RA, VanderWeele TJ, Buchanan D. Effect of a Housing and Case Management Program on Emergency Department Visits and Hospitalizations Among Chronically Ill Homeless Adults. A Randomized Trial. JAMA. 2009;301(17):1771-1778.

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