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Soluções nas passagens de casos

Autor:

Lucas Santos Zambon

Doutorado pela Disciplina de Emergências Clínicas Faculdade de Medicina da USP; Médico e Especialista em Clínica Médica pelo HC-FMUSP; Diretor Científico do Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente (IBSP); Membro da Academia Brasileira de Medicina Hospitalar (ABMH); Assessor da Diretoria Médica do Hospital Samaritano de São Paulo.

Última revisão: 29/08/2009

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Soluções nas Passagens de Casos

 

Melhorando as passagens de casos: criando soluções locais para um problema global.

Julie K Johnson and Vineet M Arora. Improving clinical handovers: creating local solutions for a global problem. Qual. Saf. Health Care 2009;18; 244-245. [Link para o Artigo].


Fator de Impacto (Qual. Saf Health Care): 2,554


Contexto Clínico

            A passagem de caso serve de base para a transferência de responsabilidade sobre os cuidados com um paciente durante as passagens de plantão. A Organização Mundial da Saúde (OMS) listou a “Comunicação durante Passagens de Casos” como uma das suas 5 principais iniciativas para melhorar a segurança do paciente. A Joint Comission nos EUA também colocou a comunicação durante transferências no hospital como uma de suas metas de segurança do paciente. O Institute of Medicine (IOM) dos EUA também recomenda que ''todos os médicos em formação recebam orientações sobre como realizar passagens de casos”.

            Em resumo, é nítido o crescente interesse pelos problemas de comunicação durante as transferências de cuidados com paciente dentro dos hospitais. E esse interesse tem partido de pesquisadores, administradores hospitalares, educadores e até mesmo políticos de diversos países no mundo, devido ao grande potencial de danos que esse contexto envolve, afetando qualquer tipo de instituição, e qualquer tipo de paciente.        

           

Algumas Pesquisas na Área    

            Como a pesquisa tem crescido, já existem vários pontos simples em que há concordância por parte dos pesquisadores:

 

         Passagens de casos são pontos cada vez mais vulneráveis no que se refere a cuidados com pacientes.

         Há pouca normatização e grande variação entre as disciplinas e as organizações de saúde nas formas em que passagens de casos são realizadas.

         Limites de horas de serviço médico levam a aumentos de passagens de casos.

         Passagens de casos raramente são ensinadas aos médicos em uma maneira sistemática.

 

            Alguns estudos estão nessa mesma edição da revista Quality and Safety in Health Care:

 

            Em um estudo de Horwitz et AL com médicos realizando altas hospitalares, os autores concluíram que as mudanças técnicas e culturais no processo de transferência poderiam melhorar a qualidade da informação transmitida. O achado de que as informações clínicas mais importantes para um determinado caso estavam disponíveis em apenas dois terços das altas, aponta para uma
necessidade de uniformizar o conteúdo e de um modelo escrito de alta.

            Cleland et al estudaram médicos em vários estágios de formação e enfermeiros de períodos noturnos no Reino Unido, e concluiram que novos médicos se sentem despreparados para as passagens de casos, e suas passagens de casos são vistas pelos colegas como ruins. O estudo sugere que certas habilidades clínicas são necessárias, mas acrescenta que as atitudes do profissional também são essenciais.

            Da mesma forma, Philibert sugere que a transição não é apenas uma tarefa de comunicação, mas uma habilidade clínica que se sustenta nas habilidades de diagnóstico e de tomada de conduta, que são habilidades fundamentais para se realizar uma passagem de caso. Philibert também destaca a importância da confiança durante as passagens de casos, pois quem recebe o caso precisa perceber que o conteúdo passado é preciso e confiável, o que impacta diretamente no trabalho que será desenvolvido por quem recebe o plantão.  Por exemplo, um residente que não recebeu informações de confiança durante a passagem de plantão acabará por gastar tempo verificando cada detalhe de cada paciente para obter informações necessárias para proporcionar os melhores cuidados.

 

Recomendações

            Diversos pensamentos devem guiar o futuro quanto a este item tão frágil da assistência ao paciente que é a comunicação em passagens de casos. Em primeiro lugar, devemos concentrar os esforços na melhoria do processo. Melhorar o processo de transferência irá exigir uma análise da relação intrínseca entre processos bem como de seus resultados. Incluir médicos em formação no redesenho do processo de passagem de casos pode ser interessante, lembrando que as passagens de casos são um componente crítico do trabalho do médico em formação.

            Em segundo lugar, reconhecer o efeito da cultura local como um fator-chave para a mudança e a melhoria. A cultura da assistência prestada é o que sustenta todos os processo e as melhorias que podem ser geradas. Esforços na melhoria da qualidade muitas vezes têm sucesso limitado porque ignoram o contexto local. Este é o problema quando se tenta transferir uma prática de outro local, sem pensar nas adaptações à estrutura de assistência local.

            Em terceiro lugar, devemos desenvolver e implementar um programa baseado em competências de passagem de casos para a formação dos profissionais de saúde e principalmente de médicos. Há uma necessidade de se desenvolver uma forma de ensinar essas habilidades para médicos residentes. No mínimo, os residentes deveriam ter instrução didática formal sobre a importância da transferência para a segurança do paciente, sobre pesquisas destacando comunicação ineficaz, estratégias de comunicação segura e eficaz, e as expectativas locais sobre o processo de passagem de casos e o conteúdo que deve ser passado.

            Em quarto lugar, incorporar novos métodos para melhorar as passagens de casos. Existem abordagens para melhorar a qualidade dos cuidados que podem ser particularmente relevantes para melhorar esse item tão complexo. Por exemplo, nesta edição da Quality and Safety in Health Care, Jeffcott propõe uma abordagem sobre esse assunto. Isso incluiria a caracterização das lacunas no processo de passagem de casos, o aprendizado de como uma lacuna se desenvolve, o aprendizado de como uma lacuna se desenvolve em contextos particulares, a compreensão da relação entre as lacunas e os resultados assistenciais, e o entendimento de como peritos no assunto criam soluções para essas lacunas. Essa é apenas uma idéia, mas diversas outras ferramentas de melhoria da qualidade (ver: Metodologias Para Melhoria de Qualidade) poderiam ser utilizadas, incluindo inclusive o Lean Thinking (ver: Metodologias Para Melhoria de Qualidade – Lean Thinking) e o Six Sigma (ver: Metodologias Para Melhoria de Qualidade – Six Sigma).

 

Bibliografia

1.     World Health Organization. Patient Safety. 1December 2007.

http://www.who.int/patientsafety/events/07/01_11_2007/en/index.html

2.     The Joint Commission. 2009 National Patient Safety Goals. 24 November 2008. http://www.jointcommission.org/NR/rdonlyres/40A7233C-C4F7-4680-9861-80CDFD5F62C6/0/09_NPSG_HAP_gp.pdf

3.     Cleland J, Ross SA, Miller SC, et al. ‘‘There is a chain of Chinese whispers …’’: Empirical data support the call to formally teach handover to pre-qualification doctors. Qual Saf Health Care 2009;18:267–71.

4.     Horwitz L, Moin T, Krumholz HM, et al. What are covering doctors told about their patients? Analysis of sign-out among internal medicine house staff. Qual Saf Health Care 2009;18:248–55.

5.     Philbert I. Use of strategies from high-reliability organizations to the patient hand-off by resident physicians: practical implications. Qual Saf Health Care 2009;18:261–6.

6.     Jeffcott S, Ibrahim J, Cameron P. Resilience in healthcare and clinical handover. Qual Saf Health Care 2009;18:256–60.

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